16 novembro, 2008

Ministra da Educação – Entrevista (5)

ARF – Há um exemplo que é referido pelos dirigentes sindicais e também pelos dirigentes da oposição. Quando na Saúde houve uma grande contestação à política do ex-ministro Correia de Campos acontece que foi remodelado, as coisas acalmaram. E na Educação estão a fazer um forcing grande, porque como é ano de eleições provavelmente a ministra pode ser remodelada e isto pára tudo. Pelo menos até ao próximo Governo. Também percebe esta lógica. Anda na política há muitos anos.

- Percebo.

ARF – Vai resistir desta vez? O ministro da Saúde não resistiu. A senhora ministra não sabe se vai resistir.

- Nunca ninguém sabe. Quem sabe o dia de amanhã? Por mim a minha determinação é cumprir o programa do Governo. É esse o meu compromisso. Cumprir o programa do Governo.

ARF- Mas há um dirigente do PS, o doutor António Costa, que esta semana referia-se a esta polémica na Educação e dizia que à conta disto o PS provavelmente perde a maioria absoluta. Ou seja, a culpada é a senhora, que é uma ministra independente.


- Mas ouviu bem o que disse o ministro António Costa, o presidente da Câmara António Costa? Ouviu bem?

ARF – Ouvi.

- Ele disse: é provável que isto tenha um impacto eleitoral. Penso que foi nestes termos que ele se referiu. É provável que tenha um impacto eleitoral, eventualmente negativo para o PS. Mas a avaliação tem que continuar. Claríssimo. Penso que com isto todos concordamos. É provável que tenha um impacto eleitoral.

ARF – Negativo.

- Mas tem que se fazer. E essa é que é a questão. Os portugueses querem ou não? Qual era a situação, perante o País, se o Governo decidisse suspender ou não fazer a avaliação? Era uma vergonha. Isso não se coloca, não está em cima da mesa. Há custos eleitorais. Bom. Vamos ver.

ARF – Se de facto acontecesse esse cenário que a senhora ministra está a pôr, que era o Governo decidir suspender a avaliação, bem, isso aí caía tudo na rua. Porque eu também queria que suspendessem os impostos, provavelmente.

- Acho que as leis não são para submeter a referendo. As leis são para cumprir. Ninguém pergunta aos portugueses se querem pagar os impostos.


ARF – Há outro dirigente do PS que diz que estava já farto, referindo-se a si, do quero, posso e mando da senhora ministra da Educação. Manuel Alegre referiu-se a si dessa maneira.

- Mas eu já respondi. Já reagi. Não valorizo essas críticas porque elas são desajustadas. Elas, sim, revelam uma certa arrogância de quem tem superioridade democrática de esquerda. E eu não reconheço de facto.

N. D. – Em termos partidários sente o apoio do PS? Do grupo parlamentar, dos militantes?

- Sim. Sou muito grata ao PS por criar condições para que a ministra da Educação possa fazer o que estamos a fazer. Porque a avaliação que faço, quando olho para a história da Educação dos últimos anos, acho que muitos ministros tiveram bons programas, boa vontade, boa visão, eu não considero que tenha uma visão ou mais esclarecida ou muito diferente, o que eu considero que são diferentes são as condições políticas para concretizar.

ARF – Refere-se também a ministros do PS que não tiveram as condições que a senhora ministra agora tem?

- São muitos os ministros da Educação.

ARF – Eu sei que são muitos.

- Quando olha do 25 de Abril para cá percebe.

ARF – Está quase a bater um recorde.

- O recorde não tem importância. O que considero de facto é que tivemos condições políticas para fazer. Portanto, a responsabilidade também é maior. Eu tenho grande estima por todos os ministros da Educação, porque considero que são todos em geral, homens e mulheres, honestos, que dedicaram parte da sua vida à causa pública da Educação. Não é fácil. Hoje sei que não é fácil por experiência própria. E a avaliação que faço é genuinamente esta. Em muitos casos não era possível. O País foi obrigado a recuar. E pagou caro isso. E portanto temos as condições políticas. E desse ponto de vista é muito bom que o PS esteja unido e que apoie a política de Educação. Tenho muitas manifestações de muito apoio, muito curiosas.

N. D. – Isso quer dizer que se as condições políticas se mantivessem nas eleições do próximo ano aceitaria continuar no cargo?

- Não depende de mim. Depende do senhor primeiro-ministro, do futuro primeiro-ministro. Nem faço cenários desses. Eu estou tão preocupada com o fazer agora...

N. D. – Mas poderá demonstrar uma vontade ou não?

- Não me preocupo com isso. Não me preocupo mesmo nada com o futuro. Eu tenho a minha carreira, tenho imensas saudades de dar aulas e, portanto, não estou nada, nada preocupada. Só estou preocupada em fazer agora e fazer bem o melhor possível.

ARF – Nós todos assistimos, como jornalistas, no dia a dia, imaginamos também como será o dia a dia da senhora ministra, nunca lhe apeteceu, sinceramente, bater com a porta?

- Estão-me sempre a perguntar isso.

N.D. – Mas apetece-lhe ou não?

- Vamos lá ver. Os ministros não são pessoas diferentes das outras. Têm talvez um pouco mais de responsabilidade. Porque tomam decisões que afectam a vida de muita gente. Mas no essencial são pessoas iguais às outras. E, portanto, é natural que tenham momentos de tristeza, de alegria, em que já tudo pesa e outros momentos de grande entusiasmo. Não considero que seja diferente este trabalho de outros trabalhos que já fiz que me entusiasmaram imenso e que também me pesaram.

ARF – Alguns dos seus maiores críticos, dentro e fora do PS, são pessoas de esquerda ou partidos de esquerda. E os sindicatos que são normalmente ligados à esquerda ou a partidos políticos de esquerda. A senhora ministra é uma mulher de esquerda? Porque é tão atacada pela esquerda inteira, até a esquerda do PS, que é uma pergunta importante: considera-se uma mulher de esquerda?

- Considero e acho que há a esquerda da retórica e a esquerda da acção.

ARF – A esquerda da retórica é a que está neste momento a criticá-la?

- Eu vejo discursos em defesa da escola pública e depois leio que são um conjunto de adjectivos, de ideias, nada de factos, que ignoram aquilo que se está a fazer em defesa da escola pública. Por exemplo, a escola pública é um tema que mobiliza muito a esquerda.

ARF – Sim, sim.

- Valorizar a escola pública. O que é que significa para esta esquerda que critica a escola a tempo inteiro, o alargamento da acção social escolar, refeições para todas as crianças do 1 º ciclo, transporte escolar, cursos profissionais em todas as escolas públicas, inglês para as crianças do 1 º ciclo, computadores individuais para os meninos do 1 º ciclo. O que é que isto significa? Nada. Nem uma palavra. E, portanto, eu acho que é uma esquerda que não apenas é a esquerda dos adjectivos, não sei exprimir de outra forma, como está capturada de uma visão que reduz a escola pública e a educação ao problema da condição dos professores. Estou a dizer-lhe com toda a sinceridade.

ARF – Sim, em que os alunos são peça secundária do processo?

- Eu considero porque não vejo uma palavra sobre aquilo que de facto são medidas laterais à questão da condição profissional dos professores que muito beneficiam os alunos e que são ignoradas. Não há uma palavra sobre essas medidas. E na minha opinião isso é que é o essencial da valorização da escola pública. É torna-la de qualidade, é fazer com que ela seja uma escola atractiva, de referência, igual aos melhores colégios, igual às melhores instituições de educação. Esse é o nosso esforço, é isso que temos de fazer pela escola pública

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