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26 novembro, 2008

Professores

Por aquilo que se vai vendo e ouvindo temos de concluir que todos os professores eram exemplares, que quando não havia a burocracia da avaliação todos tinham tempo para preparar bem as aulas, o absentismo era quase nulo, as escolas eram geridas exemplarmente. A “escola pública” era um modelo de virtudes que a Lurdes veio estragar. A progressão nas carreiras era mais estimulante quando era automática, a avaliação era bem feita quando não existia, as aulas de substituição não eram necessárias porque ninguém faltava, a “escola pública” era um modelo para o mundo.
Apetece-me perguntar onde estão (ou estavam) os defensores da “escola pública”:
Quando professores do ensino público vão a correr para casa ganhar pequenas fortunas (livres de impostos) em explicações dadas aos mesmos alunos que são mal sucedidos na mesma “escola pública” onde os seus “explicadores” dão aulas?
Quando em muitas escolas é necessário meter cunhas para que os filhos não vão parar a turmas de repetentes.
Quando muitos professores só vão ler o nome dos seus alunos no dia da “apresentação” sem que antes, apesar dos meses de férias se tenham interessado pelo currículo escolar desses alunos.
Quando se organizam turmas a pensar nos horários dos amigos dos conselhos directivos que ficam as melhores horas e os melhores alunos, deixando as turmas dos “repetentes” a professores menos experientes que caíram de pára-quedas.
Quando se faltavam semanas usando a lei que permitia entregar o atestado até vários dias depois da primeira falta para que esse atestado nunca chegasse a ser verificado por um médico.Quando os artigos 4.º (os tais que foram introduzidos em Portugal para permitir às mulheres faltar nos dias mais complicados do período menstrual).
Quando professores com o 7.º ano antigo receberam um curso de faz de conta para serem equiparados aos professores licenciados e atingirem rapidamente o topo da carreira, algo que para muitos funcionários públicos exige concursos com prestação de provas e nem sempre há vagas.
Quando se instalou na sociedade portuguesa a ideia de que a vantagem de ser professor era permitir cuidar melhor dos filhos ou ter uma segunda actividade, explicações, pequenos comércios, empresas de contabilidades, etc., etc..
Onde estavam os defensores da escola pública quando, durante décadas, a qualidade do nosso ensino era inaceitavelmente baixo?
Não tenho a mais pequena dúvida de que os professores não são nem melhores, nem piores do que os outros grupos profissionais, que há uma maioria de bons profissionais, só não entendo porque razão as escolas deverão ser um mundo à parte, gerido por e em função dos interesses privados de um grupo profissional que, recebendo ordenados pagos pelos contribuintes, acha que nenhum governo pode adoptar medidas que os prejudiquem nos seus interesses privados.
É evidente que os professores não são contra as aulas de substituição ainda que nunca as tenham proposto, são defensores da avaliação ainda que nunca a tenham defendido, agora que foi proposta uma mudança na escola os defensores da “escola pública”, com Mário Nogueira à frente têm soluções para todos os males.
Os defensores da “escola pública” até poderão levar avante a sua chantagem sobre a democracia, impondo a “maioria absoluta” das ruas, mas dificilmente poderão recuperar a credibilidade perdida quando alguns dos seus não hesitaram em aplaudir e elogiar os pirralhos que alguém mandou atirar ovos e tomates aos que são detestados pelos defensores da “escola pública”, ou quando outros que educam os portugueses se referem a governantes por “gajos” e “gajas”.
Talvez seja tempo de dizer a Mário Nogueira e outros auto-intitulados defensores da “escola pública” que a defesa da escola pública cabe a todos os portugueses, aos pais, aos alunos e aos professores, e até aos que não pertencendo a este grupo têm este direito e dever de cidadania. É preciso dizer a estes defensores profissionais da “escola pública” que a defesa desta começa pela sua qualidade e não pelo bem-estar de um grupo profissional.
A defesa de uma escola pública é de todos os cidadãos, até dos muitos que optam por pagar fortunas para colocar os filhos em escolas privadas, assegurando-lhes um ensino com a qualidade que estes defensores oportunistas da “escola pública” nunca defenderam.
Todos os professores estão de acordo com a manutenção da “escola pública” tal como estava? É uma opção deles, mas essa unanimidade não os torna accionistas maioritários da escola pública por isso mesmo, porque a escola é pública e em democracia a coisa pública é gerida pelo Estado, pelo menos enquanto não regressarmos ao corporativismo.
Muitos professores votaram PS e estão desiludidos porque o governo não os tratou como cidadãos de primeira, reservando as medidas difíceis para quem votou nos outros partidos? Então façam como os portugueses que estão descontentes, nas próximas eleições votem no Paulo Portas, na Ferreira Leite, no Louça ou no Jerónimo de Sousa, dêem a maioria absoluta ao partido do Mário Nogueira, vão então ver qual é a maioria que conta, se a dos eleitores ou a do CC do partido, estou certo de que o Jerónimo de Sousa não só voltará a pôr tudo como estava como, ainda por cima, lhes vai instalar uma colónia balnear na praia da Messejana.

22 novembro, 2008

Professores - Avaliações

Garcia Pereira, tem razão: o Estado pode fornecer - papel, lápis, borracha, etc
O estado não pode fornecer - inteligência, capacidade e vontade para a feitura da avaliação.
Por aí, talvez se consiga começar a fazer uma grande escolha entre o trigo e joio.
O grande problema da avaliação começa porque a grande maioria dos professores não sabem interpretar a filosofia a maneira e o modo de se fazer a avaliação ?
Pelas respostas que dão individualmente, verifica-se que não têm grande facilidade de expor as razões das dificuldades na execução da avaliação, desconhecem apenas.
"A abertura de processos disciplinares a professores é uma das armas ao dispor do Ministério da Educação para fazer vingar o processo de avaliação, mas juristas contactados pela agência Lusa defendem que os docentes têm formas legais de se defenderem.
«A lei prevê a abertura do processo disciplinar a quem não cumpra determinados deveres legais e o de avaliar é um deles. Mas isso não basta, é preciso também que estejam asseguradas as condições materiais para cumprir essa obrigação e acho que não estão», defendeu o especialista em direito do trabalho, Garcia Pereira"

20 novembro, 2008

Professores – agora deve ser tarde


QUEREM QUE TUDO FIQUE NA MESMA !!!





Hoje, Paulo Portas, Mario Nogueira, Fenprof e outros tantos, jã não podem lavar a cara.

Ao fim de mais de 2 anos de negociações, dezenas de reuniões entre o Ministério da Educação e os Sindicatos, não apresentaram qualquer proposta alternativa ou de alteração, apenas souberam dizer "não", apresentam agora "alternativas".

Não se brinca com o Estado, com o Ministério, com a Ministra e com a maioria dos portugueses, que naão sendo professores, profissionais dos Sindicatos ou da política, com os seus impostos, estão a pagar em alguns casos, bastos salários a toda esta "gente".

Não se pode negociar nada com uma arma atrás das costas – avisos de greve, manifestações pré-programadas, etc.

A má fé, está por detrás da Fenprof desde o ínicio de todo o processo e de todos aqueles que a seguem., numa acção bem deliniada pelo partido que lhe dá apoio e lhe serve de cartilha politico-sindical. O plitica da terra queimada sempre foi a melhor política para este tipo de sindicalismo.

Uma das razões porque o sindicalismo acabou em Portugal, está na politica deste profissionais a soldo de partidos e não como representantes dos seus filiados.

Como bom vendedor da "banha da cobra", Mário Nogueira, tem conseguido levar atrás de si uma grande parte dos professores, baseado apenas nos seus interesses corporativos, na defesa da manutenção dos interesses instalados na area da educação, na manutenção do tudo na mesma, porque é essa a situação que interessa a "todos os professores".

A demagogia primária começa agora a surgir porque os argumentos começam a faltar – a culpa dos maus resultados dos alunos neste primeiro período de aulas, não será nunca do Ministério.

Quem dá as aulas, não é a Ministra, são os professores.

A apresentação ontem de um modelo alternativo, é uma manifesta falta de coerência politico-sindical, á afinal a prova provada de que a corda está prestes a partir para o lados dos sindicatos.

Mário Nogueira, que não deve exercer a sua profissão de professor desde há muitos anos, tendo-a trocado perla profissão de sindicalista-filiado do PCP, terá verificado que não iria acontecer com a Educação o mesmo que aconteceu com a saúde e qaundo chegou ao limite e verificou que começa a perder terreno, tirou, tardiamente da cartola o coelhinho de um esquema alternativo de avaliação.

Pois, mas não se pode brincar com o dinheiro dos contribuintes. Mias de dois anos neste regabofe, é demasiado tempo para que o comum dos cidadão não perceba a bagunça que anda por essas escolas, os compadrios, a falta de empenho e aptidão de muitos, muitos ditos professores, para a profissão.

Curioso é verificar, quando de algumas entrevistas,(sempre vão aparecendo de vez em quando uns entrevistadores mais inteligentes e não deixam passar em claro respostas amorfas e pretendem a explicação mais pormenorizada das mesmas) mais objectivas a alguns professores e presidentes de conselhos directivos das escolas, estes não só não respondem, como quando o fazem, é com evasivas e de outras vezes as objecções à avaliação demonstram não ter qualquer sentido.

Que Socrates tenha aprendido a lição da sáude e a estes ditos "professores, profissionais sindicalistas", diga não.

Poderá haver simplificação dos e nos processos, mas, nada poderá ficar na mesma.

Os professores são para dar aulas, mas são para ser avaliados como qualquer cidadão.

16 novembro, 2008

Ministra da Educação – Entrevista (5)

ARF – Há um exemplo que é referido pelos dirigentes sindicais e também pelos dirigentes da oposição. Quando na Saúde houve uma grande contestação à política do ex-ministro Correia de Campos acontece que foi remodelado, as coisas acalmaram. E na Educação estão a fazer um forcing grande, porque como é ano de eleições provavelmente a ministra pode ser remodelada e isto pára tudo. Pelo menos até ao próximo Governo. Também percebe esta lógica. Anda na política há muitos anos.

- Percebo.

ARF – Vai resistir desta vez? O ministro da Saúde não resistiu. A senhora ministra não sabe se vai resistir.

- Nunca ninguém sabe. Quem sabe o dia de amanhã? Por mim a minha determinação é cumprir o programa do Governo. É esse o meu compromisso. Cumprir o programa do Governo.

ARF- Mas há um dirigente do PS, o doutor António Costa, que esta semana referia-se a esta polémica na Educação e dizia que à conta disto o PS provavelmente perde a maioria absoluta. Ou seja, a culpada é a senhora, que é uma ministra independente.


- Mas ouviu bem o que disse o ministro António Costa, o presidente da Câmara António Costa? Ouviu bem?

ARF – Ouvi.

- Ele disse: é provável que isto tenha um impacto eleitoral. Penso que foi nestes termos que ele se referiu. É provável que tenha um impacto eleitoral, eventualmente negativo para o PS. Mas a avaliação tem que continuar. Claríssimo. Penso que com isto todos concordamos. É provável que tenha um impacto eleitoral.

ARF – Negativo.

- Mas tem que se fazer. E essa é que é a questão. Os portugueses querem ou não? Qual era a situação, perante o País, se o Governo decidisse suspender ou não fazer a avaliação? Era uma vergonha. Isso não se coloca, não está em cima da mesa. Há custos eleitorais. Bom. Vamos ver.

ARF – Se de facto acontecesse esse cenário que a senhora ministra está a pôr, que era o Governo decidir suspender a avaliação, bem, isso aí caía tudo na rua. Porque eu também queria que suspendessem os impostos, provavelmente.

- Acho que as leis não são para submeter a referendo. As leis são para cumprir. Ninguém pergunta aos portugueses se querem pagar os impostos.


ARF – Há outro dirigente do PS que diz que estava já farto, referindo-se a si, do quero, posso e mando da senhora ministra da Educação. Manuel Alegre referiu-se a si dessa maneira.

- Mas eu já respondi. Já reagi. Não valorizo essas críticas porque elas são desajustadas. Elas, sim, revelam uma certa arrogância de quem tem superioridade democrática de esquerda. E eu não reconheço de facto.

N. D. – Em termos partidários sente o apoio do PS? Do grupo parlamentar, dos militantes?

- Sim. Sou muito grata ao PS por criar condições para que a ministra da Educação possa fazer o que estamos a fazer. Porque a avaliação que faço, quando olho para a história da Educação dos últimos anos, acho que muitos ministros tiveram bons programas, boa vontade, boa visão, eu não considero que tenha uma visão ou mais esclarecida ou muito diferente, o que eu considero que são diferentes são as condições políticas para concretizar.

ARF – Refere-se também a ministros do PS que não tiveram as condições que a senhora ministra agora tem?

- São muitos os ministros da Educação.

ARF – Eu sei que são muitos.

- Quando olha do 25 de Abril para cá percebe.

ARF – Está quase a bater um recorde.

- O recorde não tem importância. O que considero de facto é que tivemos condições políticas para fazer. Portanto, a responsabilidade também é maior. Eu tenho grande estima por todos os ministros da Educação, porque considero que são todos em geral, homens e mulheres, honestos, que dedicaram parte da sua vida à causa pública da Educação. Não é fácil. Hoje sei que não é fácil por experiência própria. E a avaliação que faço é genuinamente esta. Em muitos casos não era possível. O País foi obrigado a recuar. E pagou caro isso. E portanto temos as condições políticas. E desse ponto de vista é muito bom que o PS esteja unido e que apoie a política de Educação. Tenho muitas manifestações de muito apoio, muito curiosas.

N. D. – Isso quer dizer que se as condições políticas se mantivessem nas eleições do próximo ano aceitaria continuar no cargo?

- Não depende de mim. Depende do senhor primeiro-ministro, do futuro primeiro-ministro. Nem faço cenários desses. Eu estou tão preocupada com o fazer agora...

N. D. – Mas poderá demonstrar uma vontade ou não?

- Não me preocupo com isso. Não me preocupo mesmo nada com o futuro. Eu tenho a minha carreira, tenho imensas saudades de dar aulas e, portanto, não estou nada, nada preocupada. Só estou preocupada em fazer agora e fazer bem o melhor possível.

ARF – Nós todos assistimos, como jornalistas, no dia a dia, imaginamos também como será o dia a dia da senhora ministra, nunca lhe apeteceu, sinceramente, bater com a porta?

- Estão-me sempre a perguntar isso.

N.D. – Mas apetece-lhe ou não?

- Vamos lá ver. Os ministros não são pessoas diferentes das outras. Têm talvez um pouco mais de responsabilidade. Porque tomam decisões que afectam a vida de muita gente. Mas no essencial são pessoas iguais às outras. E, portanto, é natural que tenham momentos de tristeza, de alegria, em que já tudo pesa e outros momentos de grande entusiasmo. Não considero que seja diferente este trabalho de outros trabalhos que já fiz que me entusiasmaram imenso e que também me pesaram.

ARF – Alguns dos seus maiores críticos, dentro e fora do PS, são pessoas de esquerda ou partidos de esquerda. E os sindicatos que são normalmente ligados à esquerda ou a partidos políticos de esquerda. A senhora ministra é uma mulher de esquerda? Porque é tão atacada pela esquerda inteira, até a esquerda do PS, que é uma pergunta importante: considera-se uma mulher de esquerda?

- Considero e acho que há a esquerda da retórica e a esquerda da acção.

ARF – A esquerda da retórica é a que está neste momento a criticá-la?

- Eu vejo discursos em defesa da escola pública e depois leio que são um conjunto de adjectivos, de ideias, nada de factos, que ignoram aquilo que se está a fazer em defesa da escola pública. Por exemplo, a escola pública é um tema que mobiliza muito a esquerda.

ARF – Sim, sim.

- Valorizar a escola pública. O que é que significa para esta esquerda que critica a escola a tempo inteiro, o alargamento da acção social escolar, refeições para todas as crianças do 1 º ciclo, transporte escolar, cursos profissionais em todas as escolas públicas, inglês para as crianças do 1 º ciclo, computadores individuais para os meninos do 1 º ciclo. O que é que isto significa? Nada. Nem uma palavra. E, portanto, eu acho que é uma esquerda que não apenas é a esquerda dos adjectivos, não sei exprimir de outra forma, como está capturada de uma visão que reduz a escola pública e a educação ao problema da condição dos professores. Estou a dizer-lhe com toda a sinceridade.

ARF – Sim, em que os alunos são peça secundária do processo?

- Eu considero porque não vejo uma palavra sobre aquilo que de facto são medidas laterais à questão da condição profissional dos professores que muito beneficiam os alunos e que são ignoradas. Não há uma palavra sobre essas medidas. E na minha opinião isso é que é o essencial da valorização da escola pública. É torna-la de qualidade, é fazer com que ela seja uma escola atractiva, de referência, igual aos melhores colégios, igual às melhores instituições de educação. Esse é o nosso esforço, é isso que temos de fazer pela escola pública

Ministra da Educação – Entrevista (4)

N.D. – Uma das coisas que está escrita no programa do Governo é que a avaliação devia ser acompanhada de medidas que aumentassem a motivação e autoestima dos professores. Não está a ter o efeito contrário?

- Talvez. Não sei dizer.

N. D. – Não estão a faltar as tais medidas? Que medidas podem ser essas? Não só os professores o dizem como já há alunos a dizerem que sentem que os professores não estão motivados.

- Nós fizemos um conjunto de mudanças muito drásticas, muito pesadas até. Penso que a mais penalizadora é a que tem que ver com a alteração das condições de reforma e pré-reforma até, associada ao facto de termos regulamentado a componente não lectiva faz com que os professores estejam muito mais tempo nas escolas. E quando digo isto é muitas vezes interpretado como sendo um ataque aos professores. Que antes não trabalhavam e agora trabalham. Mas não é. O quadro de regras fazia com que os professores no início de carreira tivessem uma sobrededicação à escola, andavam, como se via muitas vezes aí nas reportagens, de terra para terra, eram exigidos muitos sacrifícios, sendo a compensação no final da carreira poder haver um certo afastamento. Isto era a organização da carreira. Não tem nada que ver com qualidades pessoais dos professores. Não tem nada que ver com isso. Ou com a avaliação se trabalhavam ou não. Nós alterámos essas regras. Dissemos que é necessário que os funcionários públicos todos se aposentem mais tarde e no caso dos professores é necessário que as horas de componente não lectiva, de desgaste da profissão sobretudo, revertam para trabalhos de estabelecimento, para acompanhamento dos alunos para podermos recuperar os resultados escolares. E isto alterou a vida das pessoas. Esta é que é a questão. É que alterou a vida das pessoas. Que tinham expectativas de reorganização da vida a partir da aposentação. Que tinham as suas vidas organizadas em função de um quadro de regras que muda. E isto evidentemente eu consigo perceber que as pessoas fiquem desmotivadas e que estejam cansadas, sobretudo nestas faixas etárias em que as pessoas têm uma carreira já muito longa.

ARF – Os alunos hoje estão melhor servidos? Os alunos hoje têm melhores professores, têm melhor escola?

- Eu acho que seguramente têm mais tempo de trabalho, seguramente mais tempo de trabalho na escola, têm, foi possível com estas medidas estabelecer em cada escola o regime de substituição de aulas.

ARF – Outro assunto muito contestado.

- Sim, foi muito contestado na altura. Também foi uma medida que foi lançada apostando na iniciativa das escolas e que hoje, no início houve muita confusão porque umas escolas fizeram de uma maneira e outras de outra, e hoje ninguém fala disso. Porquê? Porque os professores encontraram um método de o fazer de uma forma confortável. Servindo todos. Os alunos têm o acompanhamento que é necessário e os professores podem, tendo um médico, um acompanhamento de um filho, qualquer coisa, qualquer motivo que justifique a sua ausência não precisam de ser penalizados por causa disso. E, portanto, eu acho que muitas vezes é preciso encontrar soluções deste tipo. Soluções que permitam resolver o problema de uma forma que seja confortável. O que penso é que os alunos hoje têm mais tempo de trabalho na escola e que os resultados mostram isso. Nós temos mais alunos, temos o mesmo numero de professores basicamente. Temos mais alunos, temos melhores resultados também, temos mais tempo de trabalho e mais actividades. Sobretudo na área da matemática e do português.

ARF – Melhores resultados? A oposição e os sindicatos dizem que os melhores resultados também são uma forma de o Ministério ter resolvido alguma estatística, com provas mais fáceis, nomeadamente a matemática, para que apareçam notas melhores e resultados mais positivos.

- Não é o Governo que faz os exames nem que faz essas avaliações. Não é o Governo, nem tem sequer nenhuma possibilidade de interferir nessa área. Se perguntar a qualquer ministro da Educação, a qualquer secretário de Estado dir-lhe-á quais são as condições que um membro do Governo tem para interferir nessa matéria. Nenhuma. Nenhumas condições. E, portanto, são feitos por equipas técnicas, por professores, grupos de professores. Nós podemos repensar e melhoramos muito as condições em que os exames são feitos. Procuramos dar condições a essas equipas para fazerem testes de aferição, para controlarem a qualidade. E tivemos, pela primeira vez em muitos anos, exames sem nenhum erro científico, pelo menos. Progressivamente as coisas vão melhorando. E pode discutir-se muito isso, mas aquilo que é facto é que nós tivemos melhoria de resultados em todos os anos de escolaridade, com ou sem exame, e em todos os níveis de ensino. E de uma forma consistente. E, aliás, isto já assim é há muitos anos. Não é de agora. Nós não podemos, ao mesmo tempo que temos uma política educativa que procura cumprir aquilo que são recomendações de organizações internacionais, como a OCDE...Há muitos anos que a OCDE recomenda ao País que crie cursos profissionais, há muitos anos que recomenda ao País que encerre as escolas do insucesso, há muitos anos que recomenda ao País que dê uma atenção particular ao ensino da matemática. E depois, no momento em que o País faz, lança essas medidas e começa a ter resultados, os mesmos críticos, que sempre invocavam a OCDE, por exemplo, para apontar como o País estava mal na matemática, se esqueçam que aquilo que se está a fazer é justamente a seguir as recomendações da mesma. E, portanto, é um bocadinho o dilema em que estamos e um discurso muito inimigo do progresso, na minha opinião. Inimigo até da acção e da possibilidade que temos de acreditar.

ARF – É o discurso da oposição de uma maneira geral. O PSD neste momento recebe os professores nos dias de manifestações. Como é que a senhora ministra, que está a olhar para isto tudo, vê esta atitude do PSD, que é o maior partido da oposição e que é alternativa normal de Governo?

- Sinceramente acho um pouco irresponsável.

ARF – Porquê?


- Aliás isso foi para mim surpreendente no dia da última manifestação, de dia 8 de Novembro. Quando com toda a clareza, para não chamar outra coisa, o dirigente sindical da FENPROF dizia "não, fizemos agora porque é ano de eleições e o Governo não resistirá a ceder". Está tudo dito.

N. D. - Vai contrariá-lo?

- Eu não quis dizer com isto que todos os professores foram manipulados. Nada disso. Os professores têm razões que eu compreendo para a sua insatisfação e para manifestar essa insatisfação. Não é nada disso. O que eu quero dizer é que do ponto de vista das instituições do sistema político-partidário, os sindicatos, os partidos políticos há aqui de facto um oportunismo político de teste ao Governo. Vamos ver. Porque não há muitos meses o PSD estava de acordo em que era absolutamente necessário fazer esta avaliação. Muda por razões eleitoralistas. O sindicato também achava que era possível ter um acordo com o Governo e muda por razões eleitoralistas.