Sobre a mentira e quem mente
A mentira só dura enquanto a verdade não chega
Mentira
Mentira
É uma declaração feita por alguém que acredita ou suspeita que ela seja falsa, na expectativa de que os ouvintes ou leitores possam acreditar nela. Portanto uma declaração verdadeira pode ser uma mentira se o falante acredita que ela seja falsa; e histórias de ficção, embora falsas, não são mentiras.
Dependendo das definições, uma mentira pode ser uma declaração falsa genuína ou uma verdade seletiva, uma mentira por omissão, ou mesmo a verdade se a intenção é enganar ou causar uma ação que não é do interesse do ouvinte.
“Mentir” é contar uma mentira.
Uma pessoa que conta uma mentira, em especial uma pessoa que conta mentiras com freqüência, é um “mentiroso”.
A mentira corrói, dilacera e destrói vidas…
A mentira corrói, dilacera e destrói vidas…
Os mentirosos compulsivos já estão habituados a mentir que, eles próprios, acreditam no que dizem, como sendo verdade.
A Mentira
Porque é que, na maior parte das vezes, os homens na vida quotidiana dizem a verdade? Certamente, não porque um deus proibiu mentir. Mas sim, em primeiro lugar, porque é mais cómodo, pois a mentira exige invenção, dissimulação e memória. Por isso Swift diz: «Quem conta uma mentira raramente se apercebe do pesado fardo que toma sobre si; é que, para manter uma mentira, tem de inventar outras vinte». Em seguida, porque, em circunstâncias simples, é vantajoso dizer directamente: quero isto, fiz aquilo, e outras coisas parecidas; portanto, porque a via da obrigação e da autoridade é mais segura que a do ardil. Se uma criança, porém, tiver sido educada em circunstâncias domésticas complicadas, então maneja a mentira com a mesma naturalidade e diz, involuntariamente, sempre aquilo que corresponde ao seu interesse; um sentido da verdade, uma repugnância ante a mentira em si, são-lhe completamente estranhos e inacessíveis, e, portanto, ela mente com toda a inocência.
Friedrich Nietzsche, in 'Humano, Demasiado Humano'
A mentira pode ser uma dependência que, como qualquer vício, só é tratada quando o mentiroso assume que mente.
Longe das inocentes partidas que se pregam no Dia das Mentiras, 1 de Abril, pode isolar e causar sofrimento.
A mentira pode ter contornos de dependência tal como o álcool e a droga, quando é dita de forma compulsiva, ou seja quando a pessoa tem consciência de que está a mentir mas não consegue controlar esse impulso.
Nestes casos, provoca sofrimento no próprio mentiroso compulsivo e nas pessoas mais próximas dele, embora seja uma doença passível de ser tratada, tanto ao nível da psiquiatria como ao nível da psicologia clínica.
O primeiro passo para o tratamento é a pessoa assumir que tem um problema, que mente compulsivamente e que precisa de ajuda. Sem isso, qualquer forma de terapia é impossível. Jorge Gravanita, psicólogo e membro da Sociedade Portuguesa de Psicologia Clínica, explica que "o primeiro passo para o tratamento é a pessoa assumir que é dependente da mentira e querer libertar-se de algo que a tem vindo a prejudicar": "O tratamento é a busca do conhecimento de si próprio que permite que a pessoa se liberte desta bengala que é uma mentira." Também para o psiquiatra Pacheco Palha um mentiroso compulsivo "não tem perda de juízo, pode ter é perda de capacidade de controlo".
Por isso - defende -,
"o primeiro passo para se tratar é reconhecer que tem uma perturbação ao nível do controlo dos impulsos".
"A compulsividade revela-se em estruturas obsessivo-compulsivas e é um mecanismo patológico, como a cleptomania [vício de roubar]", diz o médico, acrescentando que a pessoa "até pode ter sofrimento ao reconhecer que não a domina".