22 junho, 2010

Parte do nosso mal está aqui...

Há algo de errado neste país

Há vinte anos que o país em vez de apostar em infra-estruturas de transportes (rodoviárias, ferroviárias e portuárias) para tornar mais céleres e baratas as nossas exportações apostou-se em infra-estruturas vocacionadas para o lazer. Como se isso não bastasse tornamos as auto-estradas gratuitas enquanto os portos são ineficazes e caros.
Os governos e, principalmente, os autarcas desdobram-se em iniciativas para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar dos nossos reformados, os lares são modernos e confortáveis enquanto há escolas primárias onde se bate o dente, os centros de dia têm excelentes salas de computadores, tão boas ou melhores do que as de muitas universidades, os idosos são levados a passear enquanto as escolas não têm dinheiro para visitas de estudo.
Os governos desdobraram-se em iniciativas para facilitar e maximizar os níveis das reformas transformando-as em direitos adquiridos por quem trabalhou uma vida. Em contrapartida os mais jovens são obrigados a trabalhar sem direitos, em condições precárias e, não raras vezes, a emigrar porque os que têm muitos direitos adquiridos lhes deixam um país onde a palavra direitos está cada vez mais em desuso.
Os bancos enriqueceram a vender crédito ao consumo e a cobrar taxas e comissões aos clientes levando o endividamento externo a níveis absurdos. Agora ouço alguns grandes banqueiros defenderem a perda de rendimentos e de direitos daqueles que foram os seus clientes e o fim dos grandes projectos públicos para que possam continuar a ter lucros elevados orientando o crédito para o consumo.
Os nossos empresários desdobram-se em discursos de preocupação com as fracas expectativas de crescimento económico ao mesmo tempo que fazem múltiplas promessas de criação de emprego, mas com uma condição, a de poderem despedir.
O país precisa de exportar mas aposta-se no consumo, precisa de poupar mas aposta-se na despesa pública, precisa de aumentar a produtividade mas aposta-se em políticas de estímulo à preguiça, precisa de trabalhadores qualificados mas aposta-se em procedimentos de facilitação na avaliação escolar, precisa de técnicos qualificados mas aposta em cursos de direito, precisa de empresas mas cria mecanismos de enriquecimento na prestação de serviços.
O país carece de uma reflexão profunda em torno do problema de desenvolvimento, tarefa quase impossível pois os políticos confundem desenvolvimento com resultados eleitorais, os grupos corporativos que dominam o debate público estão mais apostados no enriquecimento próprio do que nos interesses do país e os eleitores cada vez mais idosos usam o voto para assegurar a manutenção dos direitos adquiridos. O resultado é um país que entra num beco sem saída e que recusa o futuro aos mais jovens aquilo e, ainda por cima, lhes exige e obriga a pagar os excessos e oportunismo dos que os antecederam.

4 comentários:

Anónimo disse...

TAMBÉM NÃO É TANTO ASSIM, CARAMBA!

Anónimo disse...

Ao ler este texto fiquei, por momentos, com vontade de, sem objecções, dar inteira razão ao seu autor. Porém, reflectindo um pouco sobre o que ele aborda, acabei por concluir que quem o escreveu parece não aceitar que a parte mais idosa da nossa gente tenha direito a um fim de vida com um mínimo de dignidade. Que me desculpe o autor se estrou errado.
Refere a qualidade de alguns lares de idosos e de centros de dia, em contraponto com a falta de qualidade de algumas escolas.
Os passeios de idosos e a falta de verba das escolas destinadas a viagens de estudo.
Parece ver os direitos dos reformados como a causa da falta de direitos dos trabalhadores mais novos.
Por fim afirma que o paÍS...«recusa o futuro aos mais jovens...» e os «obriga a pagar os excessos e oportunismos dos que os antecederam» - os mais velhos, claro está.
Estas quase invectivas fazem supor que são de alguém ainda jovem, que não conheceu o país de há 30, 40 ou 50 anos atrás, e por isso não faz ideia das dificuldades dos trabalhadores desses tempos, ou seja, daqueles que são os velhos de hoje, ao mesmo tempo que deve acreditar que estes mesmos velhos foram oportunistas, como se aqueles tempos fossem os da actualidade.
Relativamente a estes pontos deveria estar melhor apetrechado ou ter mais cuidado na sua abordagem.
Claro que não deixa de ter razão quando se refere a gastos desnecessários feitos pelas autarquias. Desnecessários e não imprescindíveis, digo eu, porque estes tinham e têm de ser feitos. O problema é definir o que são uns e outros.
Computadores em centros de dia, talvez sejam gastos supérfluos. Quem quer essa tecnologia que a compre, como fiz eu.
Passeios para a 3ª idade, só serão aceitáveis se se destinarem a cidadãos sem recursos para o efeito, o que não é o que acontece, pois esses, coitados, nem se candidatam a tais oferendas.
Mas também não tem de haver dinheiro para viagens de estudo. Os alunos, quaisquer que seja o seu patamar escolar, que as paguem. Aliás, talvez assim dêm valor ao estudo que vão fazer, quando de estudo tratarem a viagens.
Gastos que, no seu conjunto se tornam avultados. Mas mais avultados são os que resultam do que não interessa para as regiões nem para o país, e foram aos milhões, gastos pelas autarquias e pelos governos, quantas vezes em prejuízo da serventia, da funcionalidade e da estética dos locais onde esses milhões foram enterrados.
Estas as achegas que em meu entender se justificam, relativamente a alguns pontos do texto.
Texto no qual o seu autor poderia dissertar sobre os gastos do Estado com os partidos políticos, com a Presidência e com a Assembleia da República; com as empresas e outros organismos fantasmas criados pelas autarquias e pelos governos; com as idemnizações inventadas a quem não tem direito a elas; com os subsídios oferecidos a quem não quer trabalhar. Enfim, o autor teria tanto, tanto, tanto a referir que desse modo talvez fosse mais elucidativo.
TENHO DITO

Anónimo disse...

Francamente, fiquei admirado com o conteúdo do texto. Li e optei por não comentar porque o achei incongruente, comparando-o com outros artigos do editor.
Mas agradeço ao Sr. TENHO DITO o facto de o ter feito.
Só não concordo com o facto de os menos favorecidos terem de pagar do seu bolso os tais passeios de estudo. Mas não é mentira que muito dificilmente se consegue distinguir quem pode e não pode pagar. Desde que eu tive conhecimento de um cavalheiro, empresário, a quem foi concedido um atestado de pobreza, fiquei desconfiado. Não pelo facto de ser empresário mas porque sei que os seus rendimentos mensais ultrapassavam os 2.500 Euros! Só era pobre no papel!
Há quem lhe chame casos pontuais, mas são demasiados!

Anónimo disse...

Ao Sr. último Comentador
Compreendo e aceito o seu ponto de vista sobre os (eu diria antes) mais desfavorecidos pagarem as suas viagens de estudo. Mas não fechei essa hipótese quando me referi aos idosos sem recursos para os seus passeios oferecidos pelas autarquias.
Quanto aos ricos que passam por pobres, conheci e conheço situações de bradar aos céus. Milionários a beneficiarem de subsídios para os livros dos filhos, proprietários abastados com filhos a comerem de borla nas cantinas escolares, e outros fazendo um tremendo sacrifício para equilibrar os parcos rendimentos a ficarem de fora.
Eu mesmo cheguei a intervir numa dessas situações, porque não podia com tal imoralidade. Mas o aluno continuou a comer de borla e a ir para a escola todos os dias de bom "mercedes" e a sobressair dos seus companheiros com roupas de marca e diferentes quase todos os dias. Se ao menos fosse bom aluno...
Este país é um país de ladrões.
TENHO DITO