20 novembro, 2009

Democracia para que te quero...

Assim mesmo, por inteiro de “ O Jumento”

 

Mau tempo na democracia

O que me impressiona em tudo o que está a suceder já deixou de ser a hipotética gravidade dos factos, como, por princípio e formação democrática, desconfio das polícias espero por julgamentos e pela oportunidade de os visados se defenderem para tirar conclusões. O que me incomoda e indigna é a veleidade com que tanta gente embarca em informações dadas por maus polícias ou maus magistrados a maus e duvidosos jornalistas, abdicando de qualquer capacidade crítica e dando tudo por verdadeiro e merecedor de condenação sem qualquer julgamento.

A debate político em Portugal deixou de ter qualquer nobreza, os militantes dos partidos que estão na oposição, hoje sãos uns e amanhã serão outros, dispensam-se de respeitar os mais elementares princípios éticos para aproveitarem todas as oportunidade para achincalhar os adversários políticos.

Apesar dos graves problemas que o país enfrente os que querem chegar ao poder já nem se dão ao trabalho de pensar sobre as soluções para esses problemas, aguardam que algum magistrado mal formado manipule a informação de processos judiciais de motivação duvidosa, que os criminosos promovam uma orgia de crimes como a que sucedeu no Verão passado, que o Verão seja quente e arde mais uma boa parte da floresta ou que a gripe A saia do controlo das autoridades de saúde. Assim sendo não importa questionar nem reflectir, desata-se de imediato a usar informação tal como foi soprada para condenar o adversário.

Abro os jornais e vejo distintas intelectualidades que há anos davam um ar muito sério na suas crónicas a optar por textos que chegam a ser ofensivos para a inteligência do cidadão comum, depois os militantes mais assanhados enviam esses textos para milhares de pessoas por via mail. A democracia portuguesa deixou de ter opinião pública, o debate foi subsituído por um imenso tribunal da Santa Inquisição.

Dizia-me um amigo que é lamentável que os agentes da justiça promovam julgamentos na praça pública. Respondi-lhe que era bem pior do que isso, esta actuação manhosa de gente que vive muito acima da média dos que pagam os impostos para que sejam tratados como verdadeiros abades é a negação da própria justiça, se a justiça exige é precisamente para evitar os julgamentos sumários na praça pública. Mais do que a imagem dos políticos e, pelo que viu nas notícias, do próprio país, o que estes fascistas cobardes estão a fazer é detruir a justiça e minar a democracia.

Hoje o Público noticia que afinal não há escutas que provem que Vara pediu dez mil euros aos sucateiros, isto depois de muitos jornais terem explicado tudo em pormenor e até noticiaram os meios sofisticados com que a nossa polícia fez escutas de conversas pessoais dentro de gabinetes do BCP.

Agora que o visado já não é Armando Vara deixa-se cair a mentira, porque essa mentira já serviu os seus propósitos, levar o processo até Sócrates. Ainda vamos descobrir que as escutas a Vara não passaram de um estratagema para escutar ilegalmente José Sócrates pois qualquer conversa de um primeiro-ministro supõe uma decisão e, por conseguinte, sugere tráfico de influências. A escolha foi brilhante, é evidente que tivesse elegido António Vitorino ninguém acreditava, mesmo assim se fosse o ex comissário europeu teria muito cuidado a usar telefone, todo e qualquer cidadão que fale com Sócrates é suspeito neste país. Bem, do mal o menos, se fosse há uns anos atrás seria suspeitos de pedofilia, sempre há progressos na nossa justiça.

Mas que importam os princípios ou a legalidade desde que ela sirva par derrubar Sócrates, para salvar as mordomias dos magistrados, para Manuela Ferreira Leite convencer os eleitores que não é tão má quanto parece ou para abrir caminho ao paraíso?

 

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