Muito pode haver de razão, mas, sempre vem a alfinetada ao Governo por ter aliviado o deficit.
Pergunta-se - e o que estava a acontecer se assim não tivesse acontecido?
E se fosse aplicado o sistema preconizado?
Sem dinheiro pedem fiado a través dos cartões de crédito.
Com dinheiro, o que aconteceria?
Por muito que custe aos teóricos da economia, raramente as suas teorias tem aplicações na realidade.
"Dois números não coincidentes foram conhecidos ontem: crescimento da economia mas subida do desemprego. É normal: um não anda sempre a reboque do outro.
O importante, em Portugal, é entender que o desemprego sobe na medida em que o velho modelo económico desaparece - mão-de-obra pouco qualificada, indústria manual e até licenciados (de Humanísticas, que engrossavam sobretudo as fileiras dos lugares públicos) estão a perder empregabilidade. E isso muda quando a economia mudar.
Sabendo-o, e conhecendo a (justa) preocupação na escolha de um caminho económico que ocupa a nossa discussão pública, é interessante olhar o mesmo problema através das lentes que o professor João Rosas usou no i na sua crónica de quinta-feira: já chega de falar de estratégia económica, escrevia ele, quando existem ferramentas de melhoria social tão ou mais importantes que ela. Rosas sabe do que fala.
Na área em que ensina (Teorias Sociais de Justiça) desenvolvem-se linhas de pensamento que avaliam a política (a decisão política) pelo impacto que tem no bem- -estar das pessoas. Isso: no bem-estar. O que explicam é evidente, mas nem sempre se vê: economias com grande desempenho, mas sem bem- -estar, não são virtuosas. Repare-se em África: há economias a crescer a dois dígitos mas que ainda não são capazes de traduzir esse esforço em bem-estar para as suas populações.
Ora os europeus estão habituados a bem- -estar.
Não o trocam por menos défice, por exemplo - ainda que isso seja perigoso. Mas é assim. E, sendo, há um nível de bem-estar hoje na Europa que é impermeável aos políticos - a grande maioria vive acima do risco político de errar no candidato que escolhe.
Conclusão óbvia: não vota.
Nos Estados Unidos, houve académicos conceituados a sublinhar muito este fosso - e surgiu a ponte Obama.Rosas, com o seu texto, falava de outras pontes possíveis - ou de ferramentas que poderiam fazer de algum político uma ponte Obama. Há muitos exemplos - falo aqui de um. Stuart White estuda Política Social há muitos anos e reconhece que já ninguém se excita com subsídios de natalidade ou escolares e muito menos espera uma reforma do Estado.
Por isso, escreveu uma obra brilhante - uma dessas ideias que poderiam virar o eleitorado. Intitula-se "Mínimo Cívico" e diz qualquer coisa deste género: cada pessoa teria uma conta individual creditada com as suas contribuições sociais. Sempre que precisasse de se financiar - White autorizaria apenas estudos, tratar dos filhos ou familiares de idade e lançar um negócio - poderia usar dinheiro dessa conta. Veria o saldo baixar, claro - mas era escolha sua. Assim, diz White, floresceriam novos pequenos negócios (pois, as tão importantes PME nacionais), existiria maior igualdade no ensino e libertar-se-ia muita gente (em momentos-chave da vida) da escravatura do emprego. É evidente que esta ideia não soluciona os problemas do mundo. Mas resolver o défice, só por si, também não. E com teses como a de White sempre se fala directamente com as pessoas."
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