Em geral, ouve-se duas ‘acusações’. A primeira é de que “ele acredita mesmo que se deve pagar as dívidas.” E dizem-no com um som de perplexidade na voz, como se o PM fosse uma espécie rara. “Ele próprio vive em austeridade, um vida poupada e sem extravagâncias.” No fundo, a maioria da oligarquia política portuguesa continua a acreditar que a crise é passageira, e um dia o passado voltará, vestido de cor de rosa, e voltaremos a viver de crédito e a acumular dívidas. As dívidas são sempre para ser pagas no futuro, ou seja, nunca. Viver com um PM que discorda deste consenso nacional é uma revolução. Os anos de Passos Coelho serão conhecidos como um pesadelo que resultou da combinação entre a “ideologia neoliberal” e “teimosia pessoal”.
A segunda ‘acusação’ é formulada com um ar ainda mais chocado, “ele está mesmo nas tintas para as eleições”. “Continua a tomar medidas impopulares a menos de um ano das eleições” e, pior do que tudo, “diz a verdade aos portugueses”. Como é possível ganhar as eleições assim? A fazer o que é necessário? A dizer a verdade, quando a verdade é impopular? Ninguém ganha eleições com este discurso. E há outros que, naturalmente, acham que “o governo não tem uma política de comunicação” como, por exemplo, “tinha o Sócrates”. Como se pode ter uma “política de comunicação” a dizer “verdades impopulares”? ( O Observador)
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