28 agosto, 2010

Presidenciais

"No seu conjunto a esquerda transformou-se num projeto inviável e a melhor garantia de que uma direita minimamente civilizada tem o caminho livre. A estratégia fundamentalista e muito conservadora do Partido Comunista e do Bloco tem vindo a criar as condições para a entrega do poder à direita que, a menos que surja um qualquer Santana Lopes ou se desfaça em intrigas internas, poderá capturar os destinos do país por muito tempo.
As presidenciais são disso mesmo um bom exemplo. O PC, que não acredita no mérito individual, candidata um funcionário simplesmente para garantir tempo de antena para a promoção da sua visão anacrónica do mundo. O PC é cada vez mais uma igreja que anuncia o apocalipse a todo o momento e promete um paraíso lá muito para o fim dos tempos. Convence crentes, mas não cidadãos livres. O Bloco apoia Manuel Alegre com o único objetivo de sabotar o PS, de o fracionar e assim poder crescer mais um pouco à custa dos escombros. O próprio Alegre é um oximoro, fala muito de grandes princípios mas não tem nenhum. Quanto aos outros dois candidatos são episódicos e algo caricatos. Falta-lhes destino.
O comportamento da esquerda, bem expresso nestas presidenciais, poderia dar origem a um livro cujo título seria "como entregar o poder à direita, sem esforço". Resta-nos a sorte de que hoje o essencial da política já não se decide em Lisboa, mas em Bruxelas. E a esperança, para quem a tem, de que a travessia do deserto sirva ao menos para uma renovação do pessoal e das ideias políticas da esquerda.
Que bem precisa. » [Jornal de Negócios]

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