Vamos ver que actitude vai tomar o Pesidente da Republica, a quem Jardim em tempos apelidou de Sr Silva.
O "sr. Silva" está hoje de volta à Madeira
Lutas constantes marcam relações Cavaco-Jardim
A Região Autónoma da Madeira prepara-se para receber a primeira visita de Cavaco Silva na qualidade de Presidente da República. Um ano depois de Alberto João Jardim ter provocado eleições antecipadas. Um programa de "volta à ilha" sem entrar na Madeira profunda mas que arrastará jornalistas e políticos durante quase uma semana (de hoje a sábado).
Por causa da visita, enquadrada nas comemorações dos 500 anos do Funchal, assiste-se a uma limpeza geral.
O temporal deixou marcas difíceis de ocultar. Tal como a relação vivida no passado entre os dois políticos, Alberto João Jardim e Aníbal Cavaco Silva. A relação entre ambos é de tolerância obrigatória. Os seus perfis, já se sabe, são incompatíveis. Esta é uma história que vem de longe, com altos e baixos, mais agressiva por parte de Jardim e sempre controlada à distância pelo professor, que raramente comentou as afirmações de Jardim, sobretudo quando estas atingiam os seus ministros das Finanças.Em 1994 Jardim estava furioso. Queria resolver a dívida e alerta Cavaco Silva, primeiro-ministro, para a "teimosia numa altura menos própria" do então ministro das Finanças, Eduardo Catroga. "Deveria tirar ilações e ver o ministro das Finanças que tem", disse, aconselhando-o uma remodelação. Do outro lado, o silêncio. Certo é que nas deslocação oficiais a linguagem abrandava. Enquanto primeiro-ministro, Cavaco visitou oficialmente a ilha três vezes entre 1990 e 1995, sem contar com incursões como a cimeira luso-espanhola de Dezembro de 1992 ou jornadas parlamentares do PSD em 1992.
A verdade é que o actual chefe de Estado conhece bem os meandros dos governos jardinistas. Sendo ministro das Finanças, acompanhou uma visita oficial de Sá Carneiro à região em 1980. Em 92 disparou: "Jardim, queres dinheiro? Vai ao Totta!"
Em 1944 viveu-se um dos momentos mais azedos. Um dia depois de umas eleições europeias, a bordo de um avião para a Venezuela, Cavaco responsabiliza Jardim pela derrota do PSD. Este reagiu mandatando o seu assessor para uma resposta curta: "Deveriam estar todos com os copos." Depois emitiu um comunicado pedindo desculpas pelo lapso do assessor. Uma coisa é certa: as passagens pela Madeira sempre foram ricas em comentários com duplo sentido. "Com um barco destes o senhor não precisa de um aeroporto intercontinental no Funchal", disse Cavaco a Alberto João, a bordo do catamaran "Pátria" (Maio de 1990). Resposta de Jardim: "Faça isso e arrisca-se a ter nas eleições só o voto do ministro da República." Nessa viagem, a recepção no porto do Funchal lembrava as recepções a Américo Thomaz, com dezenas de barcos a apitar embandeirados e os meninos das escolas à espera. É esta a grande contradição. O tom reivindicativo de Jardim, de ameaça constante, perde-se depois nos salamaleques de anfitrião, com laivos de alguma subserviência. Cavaco, pelo seu lado, foi-se revelando perito em contornar questões difíceis: "Jesus Cristo não sabia de finanças e foi um grande homem", disse, à chegada ao aeroporto, em 1995, quando instado pelos jornalistas a comentar as relações financeiras entre o Estado e a região. Na hora da despedida, a memorável gaffe: "Gostei muito de ter estado em Timor." Nessa visita, Cavaco criticou Jardim por "tratar na praça pública aquilo que é diálogo normal que se estabelece entre titulares de orgãos de soberania". Uma semana antes, o líder madeirense tornara público que o primeiro-ministro lhe teria pedido "tréguas" antes da visita. Ainda não se tinha chegado à fase em que Cavaco Silva passou a "senhor Silva". Isso foi na altura em que o agora Presidente se preparava para avançar para Belém (e minava a candidatura de Santana Lopes a primeiro-ministro): "O comportamento do Sr. Silva é causa de expulsão do partido", diz Jardim.
Depois, confrontado com a candidatura, o tom mudou: "Dou todo o meu apoio e vou empenhar-me na candidatura do prof. Cavaco Silva. Ele reúne as condições para ser Presidente da República. É uma pessoa impecável, honesta." Numa passagem da campanha pela região, Cavaco Silva arrumou o assunto: "Podem arranjar as formas mais hábeis mas eu não discuto o passado." Uma frase que provavelmente repetirá algures na visita que hoje se inicia.
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