19 abril, 2008

25 de Abril



25 de Abril

Da janela do meu coração, continuo a ver o 25 de Abril de 1974 a passar.
Algumas vezes temos conversado.
Não passa agora tantas vezes e, quando passa, já o faz, com um passo curto, muito miudinho.
Ainda trás consigo uma áurea de esperança.
Mesmo para os velhos, o futuro não se perde nunca de vista
Está a ficar velho, mas, como todos os velhos, está rico em experiência e em sabedoria acumulada.
Tenho notado que nalguns dias, passa como que se estivesse um pouco envergonhado.
Creio que não será com ele próprio.
Não sendo de muitas palavras e mais de actos, prefere que o tempo vá passando para que muitos dos que mal dele disseram e alguns ainda hoje dizem, se compenetrem da sua razão.
Os bons corações são generosos, compreensivos e humildes.
Ele foi.
Ele assim é
Houve tantos que precisaram dos seus favores, o que ele nunca regateou e muitos desses, hoje tanto mal dele dizem.
Houve tambem quem pretendesse aproveitar as ruinas do casarão que ele escancarou, para o transformar em outro quase igual, apenas pintando com outras cores a fachada e as paredes.
Noto-lhe no semblante a esperança de quem sabe que um dia virá o reconhecimento das suas qualidades.
Nunca mo disse, mas eu já me apercebi, que tem perdoado a essas pequenas minorias, a sua maledicência e oportunismo.
Estando mais velho, já com as rugas a começarem a cobrir-lhe a face tisnada pelas intempéries da dura vida terrena, sabe que não foi perfeito em tudo o que até agora fez.
Também têm consciência de que, com a sua idade, agora, não pode fazer muito mais.A sua sina, foi abrir para uma grande maioria, as portas do casarão, velho, com as paredes a derrocarem e o vigamento dos tectos cheios de teias de arenha, quando não, de ninhos de vespas e com o telhado a desmoronar-se, devido aos maus tratos de 50 anos de abandono e isolamento.
Depois das portas abertas, todos entraram.
Minto, alguns, fugiram, pois tiveram medo que algum pedaço do velho edifício lhe caísse em cima.
Outros que durante anos foram habitantes privilegiados do edificio, aproveitaram a camuflagem do pó da derrocada e passam por aí, despercebidos.
… A minha janela continua aberta.
Será bom continuar a vê-lo passar.
Nem acredito que não possa assim ser.
Estamos os dois a ficar cada vez mais velhos.
Eu mais, quando ele nasceu, já tinha quase 30 anos. Com três de serviço militar obrigatório, dois deles passados nas matas de Angola.
No regresso trouxe comigo o sedimento dessa dura passagem, muito dele, ainda me acompanha hoje no dia a dia.
Desejo que nos continuemos a ver, por longos, felizes e saudáveis anos.
Bem-haja

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