A Grécia foi duramente punida pelos chamados parceiros porque o seu governo ousou quebrar a obediência e a vassalagem prestada ao ministro alemão das finanças e àqueles que o seguem por medo ou por convicção. Portugal nunca ousou levantar a voz nem no Eurogrupo nem no Conselho Europeu. A Europa é, aliás, cada vez mais o Eurogrupo que, por sua vez, é comandado pelo ministro das Finanças da Alemanha, o tenebroso Wolfgang Schauble
Esta entrevista de Yanis Varoufakis é um documento demolidor sobre o funcionamento do Eurogrupo e sobre o comportamento de alguns dos seus membros. Ninguém desmentiu até agora as palavras do ex-ministro grego das Finanças e, no entanto, as revelações que ele faz são demasiado graves para serem caladas.
Pasma-se como é que nem a actual ministra nem os anteriores ministros das Finanças portugueses que integraram esse poderoso grupo que decide os destino dos europeus, não falaram nunca do funcionamento dessa poderosa instituição que não só não tem existência legal nos tratados europeus como ignora as regras de funcionamento da democracia.
Nesse lugar onde não há leis nem regras mandam dois ou três e obedecem todos os outros. E quando algum deles se recusa a obedecer à lei dos mais fortes e exige conhecer as regras que inexistem, é convidado a sair. Eis o que Varoufakis disse sobre o Eurogrupo:
“(…) a situação é muito pior do que se imagina (…) há uma ausência completa de escrúpulos democráticos por parte dos supostos defensores da democracia europeia (…) pessoas poderosas olhando-[o] nos olhos, dizerem: “tens razão no que dizes, mas vamos trucidar-te de qualquer maneira” (…). (…) Se alguém invoca argumentos económicos para sustentar a sua posição, depara-se com olhares vagos e é como se não tivesse falado, ninguém responde. (…) Ou assinas na linha marcada ou a Grécia está fora” (estas últimas são palavras do ministro alemão das Finanças perante o argumento de Varoufakis de o Syriza ter sido eleito para mudar a Grécia).
Nessa entrevista, Varoufakis relata com pormenor o andamento das negociações, referindo como o Eurogrupo saltava de tema para tema, querendo mexer em tudo. Sempre que a Grécia apresentava uma proposta, o Eurogrupo saltava para outra, sempre querendo mais, pedindo sucessivamente documentos e dados que nunca bastavam.
À pergunta sobre se a Grécia tentou trabalhar em conjunto com outros países endividados, a resposta de Varoufakis foi um “Não” porque “desde início esses países mostraram claramente que eram os principais inimigos do governo [grego] e a razão era o pesadelo que representaria para eles nós conseguirmos uma boa negociação para a Grécia. Isso seria politicamente esmagador para eles porque teriam de explicar aos seus povos porque não tinham negociado como nós.
Quando questionado sobre o funcionamento do Eurogrupo, Varoufakis recordou a reunião em que o presidente disse que a Grécia devia fazer o seu caminho fora da zona euro: Eis o relato de Varoufakis: “(…) há uma acordo de que os comunicados do Eurogrupo devem ser aprovados por unanimidade e o presidente não pode convocar uma reunião e excluir um estado-membro da zona euro. O presidente disse que sim, que podia. Então eu pedi um parecer jurídico. Foi um reboliço! Durante 5 a 10 minutos a reunião parou funcionários falavam uns com os outros e ao telefone e um deles dirigiu-se a mim e disse: “Bem, o Eurogrupo não exiete na lei, não há nenhum tratado que regule este grupo.”
O destino dos cidadãos europeus está assim entregue a um grupo fora da lei
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