“O Primeiro-Ministro, Passos Coelho, esse desbloqueador de casos difíceis, esse facilitador de imbróglios (talvez devido à sua irmandade quase de sangue, com o seu amigo Relvas, o rei dos “facilitadores”), deu hoje uma entrevista à SIC, que segui com atenção.
Nada disse de importante que tivesse a ver com o País. Foi uma sessão de propaganda em que tentou apenas contrariar os “mitos urbanos” que circulam sobre a sua pessoa. Foi apenas um puro exercício de narcisismo. Uma tentativa de contrariar os efeitos negativos que a sua postura e políticas, durante quatro anos, geraram na opinião pública. De tal forma que, interrompeu as perguntas da entrevistadora, várias vezes, sempre que as perguntas lhe vinham contrariar a narrativa e obriga-lo quebrar o guião. Clara de Sousa bem tentou, mas não teve coragem para lhe bater o pé de forma consequente, pelo que, Coelho lá foi discorrendo numa espécie de monólogo presunçoso.
Dizem que eu minto? Não, eu não menti. Fiz promessas, sempre de boa fé, mas os números que me deram é que estavam errados.
Dizem que eu quis dificultar as negociações com a Grécia, e alinhei sempre com a Alemanha? Não, eu sempre apoiei o povo grego, e até desbloqueei o acordo final.
Dizem que eu quero cortar 600 milhões de euros nas pensões?
Não, eu não quero nada, apenas temos que encontrar uma solução conjuntamente com o partido socialista.
Ou seja, Passos continua no seu mundo autista e esquizofrénico. Continua igual a si próprio, mentiroso, e desprezando a inteligência dos portugueses, e nesse sentido, eu até concordo, que ele é obstinadamente previsível.
Mas, que Passos faça propaganda é legítimo, e expetável.
Contudo, o mais risível, foi a análise da entrevista feita nas televisões pelos comentadores de serviço.
Na SIC, o painel estava montado para que eventuais farpas a Coelho viessem embrulhadas em papel celofane: José Miguel Júdice, Joaquim Aguiar, e Ricardo Costa. Júdice, dos três o único com capacidade para pensar fora dos guiões, foi o único que terá merecido alguma atenção. O Ricardo está cada vez mais a voz do patrão e o Aguiar é tão erudito que diz coisas que nem ele deve entender. Contudo, todos eles deram a tática. O PSD não pode jogar apenas na campanha do medo. Dizer que Portugal não é a Grécia não chega. O mano Costa anda preocupado. O Coelho tem que fazer propostas políticas para o futuro, e estas nunca mais chegam. Ou o programa do PSD sai, e depressa, com propostas, ou o mano de meio sangue, o António, ganha as eleições, para grande desgosto dele, já que lhe é conhecido um enorme e fraternal ciúme. Coisas mal resolvidas de um infante tardio.
Na RTP Informação foi o delírio. André Macedo e José Manuel Fernandes fizeram um trabalho digno de grandes propagandistas: Coelho muito bem. O País deve-lhe muito. Vejam a Grécia. Cá não há filas no Multibanco. Coelho não mente, é firme como a espada do D. Afonso Henriques, O Costa, não. Está aflito com o Sócrates preso. E era apoiante do Syriza, não se lembram? Pois é, o Costa é um syrizista disfarçado de Hollande à moda do Terreiro do Paço. Contudo, também eles deram o recado: são precisas mais propostas porque ainda não dá para ganhar.
Na TVI24, salvou-se, ainda assim a noite. Ângelo Correia e João Cravinho. A entrevista de Coelho foi o mote inicial apenas. Falaram do País, da Grécia, da Europa, do Euro, do presente e do futuro. E aqui, não houve propaganda mas apenas a opinião de dois homens inteligentes que confrontaram ideias, e que, curiosamente, estiveram de acordo em muitos tópicos. Ângelo mais alinhado à narrativa do governo mas sem a poupar nas críticas, sem lhe tornear as fraquezas e contradições, com o provável objetivo de ser ouvido e tal levar a mudanças de rumo. Cravinho, sagaz e contundente, quer na crítica à narrativa do governo, quer e sobretudo, às soluções que a UE está a impor aos países em termos de políticas económicas.
Resumo final. O discurso de Passos não passa de um conjunto de soundbites, que vão ser repetidos atá à exaustão para ver se os portugueses os decoram, porque ele acha que os portugueses não passam de uma manada de bois estúpidos e assim devem ser tratados. É como se tivéssemos que aprender a tabuada, de novo, e tivéssemos que repetir em voz alta: dois vezes um dois, dois vezes três, seis, dois vezes quatro, oito…etc.
Os comentadores, ao serviço da maioria, estão preocupados. Já estão fartos de repetir a história do Coelho que salvou a coelheira e estão a sentir-se ridículos, porque estão a ficar sem assunto. Querem propostas políticas, obras, inaugurações, promessas, para poderem ocupar o tempo de antena com eruditos e sábios comentários, loas ao futuro da governação PAF.
E mais que isso: quais treinadores de bancada, já dão a derrota como certa, se a tática é só esta, assim tão raquítica e pobrezinha.
Cá para mim, bem podem esperar sentados. Passos e esta maioria nada mais tem para apresentar. Limitaram-se pôr em prática o programa que a troika lhes deu para executar.
A troika saiu, pelo menos oficialmente, e deu-lhes um ano de folga na austeridade, para poderem continuar a levar por diante o capítulo seguinte do programa e que é tentarem ganhar as eleições. É por isso que não tem propostas para apresentar.
Se ganharem as eleições, a troika é que lhes vai dar o programa outra vez. E o programa só pode ser mais do mesmo: austeridade, miséria, e venda do país em saldos aos chineses.
É que eu dou-lhes razão: nós não somos, de facto, a Grécia. Ainda temos muito para vender, e ainda não nos mandaram colocar os Jerónimos e a Torre de Belém num fundo com sede no Luxemburgo administrado pelo (m)sinistro Schauble.
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