08 janeiro, 2015

Marcelo Rebelo de Sousa - troca os pés pelas maos

Estátua De Sal

MARCELO TROCA OS PÉS PELAS MÃOS
O comentário de hoje do Prof. Marcelo foi uma espécie de concerto de Aranjuez, com direito a pauta e tudo. A pauta, foi o dedilhar dos vários acontecimentos da semana, de segunda a sábado, tendo o dia de sexta sido marcado por uma espécie de happening em coro, quando a entrevista de Sócrates à TVI, tomou o som dos instrumentos.
Marcelo analisou a factualidade que Sócrates apresentou, e aceitou como boa a tese de que não terão existido malas de dinheiro para Paris. Que pedir dinheiro a amigos, não é crime, não senhor. Mas que as casas vendidas pela mãe de Sócrates, não estavam muito bem explicadas, porque Sócrates não esclareceu como, nem quem as teria avaliado. Ó Marcelo, tenha juízo, numa economia de mercado, que você defende e venera, o preço é livre de ser estabelecido entre as partes sem qualquer limitação. Essa é a essência da liberdade contratual das partes, que é pedra angular do Direito Civil. Mas eu não quero ensinar nada a um catedrático de Direito, que só comete a pecha de se esquecer das matérias que ensina, quando a necessidade de enviesamento opinativo se tem que manifestar, nem que seja somente pela omissão.
Marcelo continuou a dedilhar a pauta e foi-nos dando mais algumas pistas sobre o caso, estas de reter: que, de facto, vai ser muito difícil, por muita pena dele, digo eu, fazer-se prova, em juízo, da suposta corrupção da qual Sócrates está incriminado. Bem como provar que o dinheiro do Eng. Carlos Santos Silva não lhe pertence, pertencendo, sim, ao ex-primeiro ministro. Ora, assim sendo, e como Marcelo é ente muito bem informado, ainda que não apregoe estar na posse de informação privilegiada, como faz o seu rival do comentário, Marques Mendes, só me resta concluir que a “narrativa” de Sócrates tem, de facto, uma elevada probabilidade de ser verosímil.
Chegado a este beco, que chatice, Marcelo quase que assumindo que a Justiça irá claudicar no julgamento de Sócrates em juízo, eis que tira o grande coelho da cartola: bem, pedir dinheiro emprestado não é crime, mas viver acima das suas possibilidades, recorrendo aos empréstimos de amigos é, “politicamente”, censurável! Queria ele dizer que, Sócrates, porque pediu dinheiro emprestado para manter a vida de Paris, deve ser julgado “politicamente”, por tal, já que tal postura não fica nada bem a um ex-primeiro ministro.
Ó prof. Marcelo, devo dizer-lhe que já o leio desde 1973, ainda você tinha pera, bem negra e escrevia na Duque de Palmela num jornal chamado Expresso, que se dizia, e era, faça-se justiça, uma espécie de farol que iluminava a “primavera marcelista”. E só lhe digo, Marcelo, você está a perder qualidades.
Se você responsabiliza politicamente Sócrates por “viver acima das suas possibilidades”, que posso eu dizer quando os seus fins-de-ano eram no Brasil, nos braços do Dr. Ricardo Salgado e as suas férias eram no iate do dito banqueiro, no Mediterrâneo e por aí? Terá você rendimentos para passar férias em iates de luxo? Será que também não andou a viver acima das suas possibilidades?! E não vale, dizer que foram feitas contas “à moda do Porto”, como você veio a alegar. Tem fatura, com NIB? Afinal pagou o quê ao Dr. Ricardo Salgado? Deu-lhe uma esmola para ele pagar o combustível do iate? Pagou as sobremesas dos jantares?
Não, meu caro Marcelo, essa não está ao nível do seu próprio passado. Enviesar a pena, ou o comentário, com objetivos políticos, que são os seus, não lhe fica bem. Nada bem. É que, se espera, com tais derivações, conquistar o apoio de Passos, a bênção dos arrivistas que nos governam, para o transformarem de putativo candidato da Direita à Presidência da República em efetivo candidato, talvez se saia mal. Você ainda assim, causa-lhes arrepios, e nunca conseguiria, sendo Presidente da República, por muito que se esforçasse, chegar aos calcanhares de Cavaco, no que toca ao seguidismo e faciosismo que ele usa, sem vergonha, para apoiar o Governo em funções, na sua ação de destruição do País, e de agenda de destruição do Estado Social.
A Presidência da República tira-lhe o sono, Marcelo Rebelo de Sousa. Você que já foi propalado como o português com mais insónias cá do burgo, inesgotável energia utilizada para fundar a sua enciclopédica vertente opinativa.
Mas mais que os sonhos da Presidência, você tem um pesadelo reiterado no qual sobressai o retrato de Guterres, no palácio de Belém, na correnteza sequente do retrato do finado Cavaco.
Esse pesadelo tira-lhe o sono, e foi essa a última tecla da sua pauta de hoje. Guterres, é uma espécie de anjo mau a infernizar-lhe os sonos e os sonhos, ele que paira, sem se comprometer, com qualquer candidatura, reservando, até ao fim, a sua legítima e livre decisão.
Aí você, voltou ao seu melhor: que Guterres só pode vir a ser candidato à Presidência da República. Que a ONU não tem hipótese para ele porque Dilma quer a Presidência da ONU para Lula! Devo dizer que, com esta, você me fez sorrir e recordar o Marcelo de outros tempos, sempre criativo e conspirativo.
Você quer obrigar Guterres a pronunciar-se em definitivo. Sim, Marcelo, porque já todos nós percebemos que, se Guterres avançar, você vai-se ficar eternamente pelo comentário, nem que Passos lhe venha pedir, solene, que se candidate, de joelhos, com um baraço à cinta, tipo Egas Moniz, retratando-se perante a sua arrasadora e dominical peroração.
Você quer ser tão racional que lhe faz confusão entrar num combate que, racionalmente, você acha que está, à partida, perdido. É essa a diferença entre os políticos que se guiam por desígnios e arriscam, vão à luta e se empenham com alma e coração por aquilo em que acreditam, e que quando perdem se erguem para disputar o próximo combate.
Você não, você vive do cálculo e de um conjunto de presunções que estima serem razoáveis.
A política não é isso. É um risco contínuo de opções, nem sempre racionalizáveis e passíveis de cálculo, em termos do seu resultado final.
Como na vida.
Que venha Guterres, para que continuemos a ter os seus comentários dominicais, servidos perante o ar embevecido da Judite de Sousa. Confortavelmente e sem risco.

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