20 janeiro, 2015

Afonso Camões escreve o que lhe disseram

Com uma vénia aqui publicamos na integra o post de Estrela Serrano no Vai e Vem. 

Sócrates e as “virgens púdicas” do jornalismo
Publicado em Janeiro 19, 2015 por estrelaserrano@gmail.com


O advogado de José Sócrates foi à SIC e voltou a dar “baile” ao entrevistador. O tema é o incontornável editorial de Afonso Camões no Jornal de Notícias desta segunda-feira. O caso conta-se em duas palavras:
Afonso Camões, actual director do Jornal de Notícias (JN) foi escutado a falar com Sócrates, de quem é amigo, em Maio de 2014, informando-o de que estava a ser investigado e na iminência de ser preso. A notícia é do Correio da Manhã (CM). As escutas (sempre elas, se não houvesse telefones os procuradores e o juiz de instrução só prendiam alguém em flagrante delito) dizem também que Sócrates influenciou a nomeação de Camões para director do JN e que se ofereceu para angariar apoios financeiros para o grupo Controlinveste, hoje dirigido por Proença de Carvalho (ex-advogado de Sócrates) que, por seu turno, teria pressionado o presidente da ERC, chamando-o ao seu escritório para que aprovasse as queixas que Sócrates moveu contra o Correio da Manhã por notícias sobre a sua vida privada em Paris.

Tanto bastou para que algumas virgens púdicas do jornalismo se mostrassem escandalizadas porque, no fundo, acham que ser amigo de Sócrates é crime. Elas, as “virgens púdicas”, nunca foram nem são amigas de políticos, de banqueiros, de empresários, de procuradores, de juízes. etc.. (como se vê todos os dias com as fugas para o CM, i e SOL e se viu no caso BES, em que o banqueiro dono disto tudo convidava os jornalistas amigos para ricos passeios). Aliás, já quando o novo director da TVI, Sérgio Figueiredo, escreveu um artigo dizendo que é amigo de Sócrates houve quem lhe caísse em cima e visse na sua nomeação para a TVI uma conspiração pró-Sócrates. As “virgens púdicas” do jornalismo não são amigas do poder, são amigas dos trabalhadores, não dos patrões. Almoçam, jantam e viajam com calceteiros, alfaiates, empregados do comércio, quiçá, sem abrigo. Só falta às “virgens púdicas do jornalismo” dizerem que não conhecem, nunca viram nem sabem quem é José Sócrates!

As “virgens púdicas” do jornalismo que chegam a cargos importantes dentro ou fora de jornais, rádios e televisões, acham que os mereceram só pelo seu valor facial, nunca porque alguém deu “uma palavrinha” e os recomendou a quem os podia nomear. E nunca telefonaram a um político seja primeiro-ministro, ministro ou presidente da república, para lhe darem uma informação (que não publicaram, mas sabiam). E acham que um grupo privado não pode nomear quem quer para director de um órgão de comunicação social do seu grupo, nem pode receber um conselho ou uma recomendação de um amigo que foi primeiro-ministro.

Esta conversa sobre os atentados-de-Sócrates-contra-o estado-de-direito e controle da comunicação social é boa para despistar o que é relatado no editorial de Afonso Camões no JN de hoje. Diz Camões que a informação que deu a Sócrates lhe foi dada por um jornalista do CM, que a recebera de um colega do mesmo jornal vinda da equipa do procurador e do juiz de instrução do processo Sócrates. Ora, essa notícia não foi na altura publicada pelo Correio da Manhã, o que é estranho tratando-se de uma “bomba”. Só pode concluir-se, confirmando o que é claro para todos, que o procurador Teixeira e o juiz Alexandre têm uma relação de cumplicidade e confiança com o Correio da Manhã, claramente violadora da independência da justiça.

Perante o editorial de Afonso Camões, a Procuradoria-Geral divulgou um comunicado onde ignora a afirmação de Camões sobre a origem da informação que deu a José Sócrates, de ele estar a ser investigado e ir ser detido .

Como diria o outro… esta história ainda agora começou…

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