Um grupo de jovens adultos na casa dos 30/40 anos (cuja folha de descontos para a segurança social seria interessante conhecer), sem curriculum a não ser escrever opinião em jornais, tem escrito vários artigos a dizer que não estão para “sustentar as reformas”. A primeira constatação é que já tinham idade para ter educação mas isso já começa a ser sinónimo de irreverência e não do que efectivamente é – falta de chá. A segunda é que escrevem com uma ignorância da história da segurança social que se fica a pensar se será esse o critério para garantir o lugar de opinador – não saber de nada.
“Se há jovens que acham que os reformados lhes devem alguma coisa o que seria se os reformados de hoje, quando fossem jovens, em vez de descontarem para a reforma – segurança social – começassem a guardar o dinheiro para na velhice terem como sobreviver? Eu respondo: os jovens iam começar a trabalhar aos 10 anos de idade (e aos 40 eram velhos). Quando as pessoas não têm perspectivas de uma velhice protegida o que fazem, em geral, faziam, no século XIX, é muitos filhos – e colocá-los a trabalhar aos 10 anos. A segurança social é um sistema que beneficia todos, velhos e novos, porque justamente se baseia na solidariedade intergeracional.
A ideologia de que os “velhos são um peso para os jovens” foi criada no seio do Banco Mundial, citamos em livro (A Segurança Social é Sustentável) as partes que o dizem directamente, para justificar a privatização em fundos de pensões da segurança social. Poucos exemplos na história são tão ricos a este respeito como os últimos anos – em Portugal os fundos de pensões só existem privados enquanto as pessoas não se reformam – depois, assim que é preciso começar a pagar reformas – são “gentilmente” cedidos ao Estado: foi assim com a PT, a ANA, e outros, até ao recente caso da Banca – a Banca deu o seu fundo de pensões ao Estado (para pagar dívidas à Banca e ao sector farmacêutico) e do Estado saem todos os anos, a cada ano, insisto, 530 milhões de euros (do orçamento geral) para pagar estas pensões da Banca.
Sugiro a indispensável leitura desta entrevista com Sara Granemann, autora justamente de uma tese de doutoramento sobre fundos de pensões no Brasil. De salientar, entre muitas outras questões que aborda, que ao contrário do que é erradamente escrito, incluindo em livros académicos, a segurança social não nasceu com Bismark mas na Comuna de Paris – é este o primeiro Estado a introduzir políticas sociais universais.
Raquel Varela
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