O Jumentorça-feira, Abril 22, 2014
Se fosse inventado um trapalhómetro, talvez fruto do roteiro do empreendedorismo de Cavaco Silva, o governo português seria o ideal para o testar. Talvez ainda se fosse a tempo de medir os valores da trapalhometria do governo de Santana Lopes com esta coisa a que alguns insistem em designar por governo. Aliás, o trapalhómetro devia ter uma segunda função, a de mentirómetro, isto porque uma das maiores dificuldades na avaliação deste governo está em distinguir mentiras de trapalhadas, principalmente quando as trapalhadas envolvem mentiras ou estas são também trapalhadas.
As trapalhadas e as mentiras são tantas que Portugal não tem um governo e uma realidade, temos um circo em permanente digressão e com sucessivas alterações nos seus números. Às vezes não conseguimos distinguir os animais selvagens dos trapezistas ou os palhaços dos contorcionistas, nunca sabemos distinguir a realidade do ilusinismo. Mas não é um circo digno de se apresentar no Mónaco num espectáculo de caridade, é um circo rasca, onde os artistas andam sempre à bulha, com uns tentando dizer que são melhor do que os outros.
No circo não falta o apresentador, um verdadeiro mestre do espectáculo e tal como sucede nos circos de feira é um artista já com demasiados anos de trapézios e cambalhotas para que se consiga aguentar com os artelhos. Mas é um apresentador especial pois a ele se deve uma parte do elenco, aliás, mais zangados ou menos zangados aquilo é tudo da mesma família, o circo, as palhaçadas, o ilusionismo e o contorcionismo corre-lhes no sangue. Nãosó éo patriarca como ao longo da sua carreira já lançou grandes artistas, um até fazia um número de ilusionismo em que apresentava um grande número, de um momento todos os espectadores metiam as mãos nos bolsos e reparavam que tinham ficado com as carteiras, com um golpe de magia aparecia o dinheiro no bolso dos artistas e até o apresentador descobria que lhe tinham aparecido duzentos mil no bolso sem saber ler nem escrever.
Um dos números mais emocionante é o do domador de feras amestradas, entrada com um chicote e desde as feras até ao espectador da última fila é corrido à chicotada. Exibe três perigosas feras, duas já tinham sido amansadas antes do início da tourné, são dois leões a que deram o nome de Rangel e de Aguiar. A mais perigosa fera, aquela na qual o domador dá mais chicotadas, que fica no poste mais alto e que é obrigada a passar pela argola de fogo tem o nome de Paulo. O Paulo bem mostra os dentes e ameaça abocanhar o domador mas leva umas chicotadas e o leão é transformado num gatinho desdentado e com as unhas cortadas.
Divertida mesmo é a contorcionista, a senhora tem aquele ar de ter lhe terem metido a cabeça num balde com azeite e consegue fazer tudo com aquele corpinho que Deus lhe deu, nela não há inconseguimentos, consegue tudo. Até consegue contorcer-se toda para convencer os espectadores mais desconfiados, até mesmo aqueles que se sentem ofendidos pelo seu espectáculo. Foi a surpresa do circo, até porque só entrou para o elenco com a caravana já em marcha.
Num circo pequeno todos ajudam e se o leão é uma poderosa fera no princípio do espectáculo, logo de seguida tem que fazer outra coisa, desde vender pipocas a varrer a cavalariça. Veja o caso do feroz Portas, ainda está a lamber as feridas das chicotadas e já está alegremente a vender Magalhães aos venezuelanos e passaporte aos chineses de uma tríade que foi ao circo em visita de cortesia, pensando na hipótese de comprar a companhia. Enquanto o leão Portas vende passaportes aos chineses o leão Rangel foi tirar as pulgas aos dálmatas da contorcionista e o Leão Aguiar foi fazer um número artístico de acrobacia aérea em que no final acaba por cair num alguidar.
Apesar de um ter um pouco de circo piolho a companhia até tem um grande número de artistas, temos um tipo com a alcunha de Lambretas a fazer de Homem Invisível pois não se deixa ver nem se sabe o que anda a fazer, temos a magia da Santinha da Horta Seca que não há espectáculo em que não faça algo de milagroso, O Guedes dá o seu espectáculo no trapézio e cada vez que a Maria Luís, cá em baixo, dá um berro o Guedes dá mais uma cambalhota lá em cima. Depois do trapezista vem a Paula, a atiradora de facas, é só entrar e há logo facada num voluntário, o preferido dela era o bastonário da Ordem dos Advogados que não havia espectáculo em que não fosse convidado a colaborar.~
Recentemente o circo contratou mais um artista, ainda não se percebe muito bem qual o seu papel nem se sabe como vai ser remunerado, mas o José Rodrigues dos Santos que até aqui só tinha amestrado caniches teve logo de mostrar que não andou na BBC para aturar canitos, desta vez decidiu amansar de uma vez a mais perigosa fera do país, o famoso Sócrates, mais conhecido por animal feroz. Mas o pobre do Zé acabou todo arranhado e ainda se foi queixar do bicho para o Facebook. Ao que parece o seu número vai acabar
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