Viriato Seromenho Marques escreve
“Quem manipula venenos deve ter cuidado para não se contaminar. O presidente da CE resolveu levantar, por sua iniciativa, e sem ter sido interrogado sobre isso por quem o entrevistava, uma suspeita sobre o vice-governador do BCE, Vítor Constâncio, a propósito do caso do BPN. Trata-se de uma polémica que falha o alvo. Parte do princípio de que se Vítor Constâncio tivesse sido mais atento, enquanto governador do BdP, casos como o BPN e o BPP poderiam ter sido evitados. Independentemente das omissões pessoais que possam ter ocorrido, o problema não é de supervisão, mas de estrutura. A crise europeia começou no sector financeiro precisamente porque as regras da UEM, que nada devem à inteligência, partiram do preconceito ideológico de que só os Estados poderiam portar-se mal dentro da zona euro. As regras do euro apenas obrigam os Estados, em relação à dívida, ao défice e à inflação. Os bancos (e os banqueiros como Costa e Rendeiro) foram deixados na mais branda das impunidades. Por isso, nenhum país foi poupado a bancos falidos e descapitalizados. A Irlanda foi defenestrada pelos seus bancos. Até setembro de 2012, os Estados da UE tinham utilizado dez vezes mais dinheiro público (cito a CE) para salvar o sistema financeiro do que a soma dos resgates de países. A união bancária? Trancas na porta, depois de casa arrombada! Constâncio e Barroso têm uma responsabilidade política idêntica: não só foram adeptos entusiastas da entrada de Portugal na UEM, como, depois de esta se ter revelado uma máquina de destruição maciça, continuaram em cargos europeus decisivos, sem que se conheça nenhuma autocrítica, e ainda menos uma verdadeira ideia de reforma. Querer fazer de Constâncio um bode expiatório pessoal, contudo, mostra que Barroso continua a fazer parte do problema nacional. Não da solução.” (DN)
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