"Tão depressa não esqueceremos a imagem do primeiro-ministro entrando na sala da residência oficial pejada de câmaras e de fotógrafos, passo rápido, rosto fechado, lábios apertados, num misto de raiva e cinismo, correndo para o microfone, de olhos faiscando vingança, vencido pelo medo, disfarçado de grande líder, a ler umas páginas escritas para serem ouvidas em Berlim, Bruxelas e Nova York. E era vê-lo no final da leitura, quase a correr, como que a fugir dali para Belém, qual medricas incapaz de assumir sozinho a responsabilidade e as consequências de pela segunda vez ter apresentado um orçamento de Estado inconstitucional.
A reacção do primeiro-ministro ao acórdão do Tribunal Constitucional e dos comentadores que correram a manifestar-lhe apoio, envergonham Portugal e os portugueses. É legítimo discutir e discordar da decisão do Tribunal mas o que se passou não foi isso.
O que se passou foi o espectáculo triste do primeiro-ministro de um País democrático praguejando contra a decisão de um órgão de soberania porque ele cumpriu as suas funções e decidiu de uma maneira que não agradou ao primeiro-ministro, deixando-o exasperado e cheio de medo de ser castigado pelos seus patrões da troika.
Em vez de usar a decisão independente e soberana do TC como factor de credibilidade do País, exemplo evidente de que Portugal ainda é um País onde a democracia funciona e que não perdeu a sua dignidade apesar do resgate, permanecendo um Estado de Direito, o primeiro-ministro lançou palavras envenenadas de ódio e rancor contra o Tribunal Constitucional.
Não se apagarão tão depressa os ecos desse momento vergonhoso e triste em que um primeiro-ministro ficou “nú” perante o País e foi a correr pedir socorro ao seu aliado conjuntural de Belém, implorando uma palavra de confiança para ser ouvida pela troika. Logo vieram Barroso e o inefável ministro das finanças alemão, o socorrista de Gaspar, louvar a profissão de fé na troika e no memorando, feita pelo pobre coitado primeiro-ministro português. E o espectáculo continua, crescem as ameaças aos portugueses, anuncia-se a chegada dos troikanos, vem aí castigo, espera-se ao menos que não venha crime para não ser “crime e castigo”.
É difícil esquecer estes dias." ( http://vaievem.wordpress.com/)
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