15 julho, 2010

Ronaldo


Cristiano Ronaldo, Leonel Messi e Káká foram eleitos, nos três últimos anos, os melhores jogadores de futebol do mundo.
De cada um deles se esperava que nos relvados da África do Sul fosse o melhor entre todos. E também mostrassem a centenas de milhões, não só a sua magia e arte de jogar, mas também que conseguissem levar às costas as suas selecções até ao infinito. Como Ronaldo fez no Manchester United e agora faz no Real Madrid. Como Messi faz no Barcelona. Como Káká fazia no AC Milan.
Mas não foi isso que aconteceu. Ao contrário de Eusébio no Mundial de 1966. Ao contrário de Pélé. Ou ao contrário de Diego Maradona.
E surge a inevitável pergunta:
– O que distingue Eusébio de Ronaldo?
– O que diferencia Pélé de Káká?
– E o que separa Diego Maradona de Leonel Messi?
Nos jogos de Portugal com a Costa do Marfim, Coreia do Norte e Brasil, Ronaldo foi sempre eleito pela FIFA como o melhor em campo. Para qualquer outro jogador isto seria motivo de glória. Mas, para Ronaldo, isto só significou que os outros foram piores do que ele. Nada mais.
Em nenhum destes jogos – e ainda menos com o da Espanha – Ronaldo foi o genial futebolista que todos os fins de semana nos habituámos a ver e que nos maravilha com a sua arte de jogar à bola.
Existem, portanto, dois Ronaldos.
O Ronaldo dos clubes, cheio de alegria de viver e de jogar, um ídolo mundial pela elegância e magia do seu jogo.
E o da selecção nacional, triste, tenso, ansioso, reduzido a uma décima parte do talento do outro.
Acresce que esta situação não é de agora e já vem de longe: – Ronaldo brilha nos campeonatos e nas provas europeias ao mais alto nível mas, quando chega à selecção, o seu génio reduz-se à vulgaridade.
Nos jogos do Mundial em que Portugal competiu, o que mais me marcou e deprimiu não foi a falta dos golos, nem da magia das fintas, nem da certeza dos remates ou dos passes. O que me entristeceu foi aquele olhar triste de tristeza, parado, fixo, perdido, a olhar para nada. Como é que um jogador tão genial como ele se perde no campo, errático e errante, vulgar, banal, ausente, sem chama, sem alma, sem fulgor, sem aquele sorriso de menino?
Como já se percebeu, nada disto tem que ver com futebol. A questão é outra, é psicológica.
Lembram-se do nosso campeão do mundo dos 5.000 metros, Fernando Mamede, que quando foi aos Jogos Olímpicos claudicou e ficou com as pernas bloqueadas?
Lembram-se da campeã do mundo do salto em comprimento, Naide Gomes, que quando foi às últimas Olimpíadas ficou paralisada de inibição?
Pois eu lembro-me. E sei que nada disto tem que ver com atletismo. A questão é outra, é psicológica.
Nos dramas pessoais de Mamede, Naide Gomes e Ronaldo existe um forte elo comum: a bandeira nacional, o hino, o amor à Pátria, o orgulho de representar Portugal, a responsabilidade, a obrigação de não desfazer as esperanças de um País, a inabalável vontade de vencer, o imenso e enorme peso que tudo isto tem.
Há quem consiga resistir e até fique estimulado, como Eusébio. Como Rosa Mota. Como Carlos Lopes. Como Fernanda Ribeiro. Como Nelson Évora. Como Luis Figo.
E há quem claudique.
Não dos músculos, mas dos neurónios.
Como se vê, nada disto tem que ver com futebol. Ou com atletismo.
E este é que é o drama.
Ps – Os jogos de apuramento para o Campeonato da Europa vão começar daqui a dois meses. O que coloca a questão de saber quem vai ser o próximo seleccionador. Está provado que Carlos Queiroz não serve. É antipático. Arrogante. Tem uma péssima relação com os media e com os jornalistas. Tem – pelos vistos e ouvidos – também uma má relação com os jogadores. Além do mais, é um professor, não é um treinador. Se Portugal não pode prescindir de Ronaldo, Eduardo, Dani, Fábio Coentrão, Ricardo Carvalho e outros, pode – e deve de imediato – prescindir do actual seleccionador. Soube-se agora que o contrato de Queiroz só termina em 2013 e nem sequer tem uma cláusula de rescisão. E que, se a Federação o quiser despedir, terá de lhe pagar 5 milhões de euros! Grande negócio! Nunca pensei que a inépcia e a irresponsabilidade de Gilberto Madaíl e companhia fosse tão longe. E espero que Carlos Queiroz tenha a honradez e a lucidez de se demitir já. Porque, se não o fizer, poderá ficar com um milhão de contos, mas nunca mais será ninguém no futebol português

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