04 janeiro, 2010

Pacheco

Por:
José Niza

Basta pum basta!

Uma geração que consente deixar-se representar por um Pacheco é uma geração que nunca o foi. É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!

Uma geração com um Pacheco a cavalo é um burro impotente!

Uma geração com um Pacheco à proa é uma canoa em seco!

O Pacheco é um cigano!

O Pacheco é meio cigano!

O Pacheco saberá gramática, saberá sintaxe, saberá fazer ceias para cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!

O Pacheco pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de marquesas!

O Pacheco é um habilidoso!

O Pacheco veste-se mal!

O Pacheco usa ceroulas de malha!

O Pacheco especula e inocula os concubinos!

(…)

Não é preciso ir pró Rossio p'ra se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!

Não é preciso disfarçar-se p'ra se ser salteador, basta escrever como o Pacheco! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas, e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos!

(…)

O Pacheco nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever!

O Pacheco em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum!

O Pacheco nu é horroroso!

O Pacheco cheira mal da boca!

O Pacheco é o escárnio da consciência!

Se o Pacheco é português eu quero ser espanhol!

O Pacheco é a vergonha da intelectualidade portuguesa!

O Pacheco é a meta da decadência mental!

E ainda há quem não core quando diz admirar o Pacheco!

E ainda há quem lhe estenda a mão!

E quem lhe lave a roupa!

E ainda há quem duvide que o Pacheco não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!

(…)

E que fique sabendo o Pacheco que se um dia houver justiça em Portugal todo o mundo saberá que o autor de Os Lusíadas é o Pacheco que num rasgo memorável de modéstia só consentiu a glória do seu pseudónimo Camões.

E que fique sabendo o Pacheco que se todos fossem como eu, haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.

(…)

Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia – se é que a sua cegueira não é incurável – e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!

Morra o Pacheco! Morra! PIM!

 P.S.- Meu caro Almada Negreiros: Dantas e Pachecos é o que não falta por aí. Em 1915 como hoje. Desejo-te um bom ano de 1916. Desculpa lá o "fananço". E, já agora, dá um abraço ao Mário, o Viegas. 

O Ribatejo

1 comentário:

Anónimo disse...

Goste-se, ou não, o Pacheco é um ser humano! E muito me espanta toda esta tua linguagem, quando eu pensava que não sairia do círculo de amigos! Estás mal na fotografia, Zé!
Zé Carlos