Foi nas instalações desta fábrica de chocolates, em Vila do Conde, que Passos
Coelho escutou o mesmo que os ministros Nuno Crato, Vítor Gaspar, Assunção
Cristas, Aguiar-Branco e Paulo Portas ouviram
já noutros locais do País: a insatisfação popular.
Escutou, mas não viu. É que, ao contrário do que estava previsto, o Mercedes com matrícula de Agosto de 2010 do primeiro-ministro entrou e saiu pelo portão traseiro da unidade fabril, escapando assim à fúria de mais de duas centenas de pessoas que se começaram a concentrar duas horas antes nas imediações da entrada principal.
De um lado da pequena rua de acesso à fábrica, eram as barreiras amarelas que mantinham os manifestantes afastados. Do outro lado, eram algumas dezenas de militares da GNR que iam tentando afastar os mais jovens e exaltados dos automóveis dos convidados que por ali entraram. Todos os que passaram, vestidos com fato e gravata, em carros de alta cilindrada – inclusive dois Jaguar –, foram vaiados.
Muitos deles foram cuspidos (os menos avisados levavam a janela aberta) e sentiram várias mãos a bater com força nas janelas e na "chapa". Miguel Cadilhe, ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva, foi um deles, mesmo conduzindo um Mini. A GNR acabou por identificar um dos manifestantes que saltou para cima de um carro. Lá dentro, minutos depois, Passos Coelho avisou que não governa “para satisfazer a opinião pública” e pediu aos que concordam com a medida que o expressem publicamente.
Passos, lindo "menino" vem cá para ouvires o que te tenho para dizer
Tens que saber o que é a vida, meu "morcom"
Todos à Manif, digo eu...
Agarrarem-me senão...
Não se podem dizer as verdades, senão vou preso?
Somos as mais sacrificadas
...Gatuno, ladrão, aldrabão, vai mas é trabalhar p'rá estiva
Eu, mau. Para quê tantos nomes? Não votaram em mim?
Com este ar angélico, ainda me vão continuar a chamar nomes feios?
Vou utilizar este disfarce para passar despercebido à saída
Será que me vai sair uma bronca com o CDS? Ou com Cavaco Silva? Ou as duas?
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