Já fui roubado - tiraram-me metade do que tinha direito e do que descontei para o ter.
"Há coisas que não mudam e o ataque às gerações futuras é uma delas. Em
Portugal, os governos surpreendem sempre pela criatividade e desfaçatez e os
cidadãos pelo conformismo. Já tinha escrito sobre a matéria recentemente, mas
tenho de voltar ao tema porque o ataque aos futuros pensionistas prossegue a um
ritmo que acabará por trazer a desgraça mais rápido do que se pensava.
Como quem manda é a troika e a troika não quer saber do futuro, o ministro
das Finanças vai derrotando, um a um, os restantes ministros até que eles
percebam que, nas actuais circunstâncias, estão equiparados a gestores de
insolvência. O que me incomoda é que os seis mil milhões de euros que a banca
entregou ao Estado, e que deveriam servir para pagar as reformas de milhares de
bancários, desapareceram num abrir e fechar de olhos. A maioria para tapar
buracos e pagar dívidas. Perante este assalto, estranho que nem o ministro da
Segurança Social se incomode, nem o líder da oposição tenha uma palavra a dizer.
E os senhores de Bruxelas, que tanto rigor exigem nas cimeiras, pactuam afinal
com uma aldrabice em que aceitam uma receita extraordinária sem terem em conta
os encargos futuros.
Retomo o que escrevi há dois meses: "Mais cedo que tarde, vão dizer- -nos que
o nosso sistema de Segurança Social já não é sustentável e explicar-nos que, por
mais descontos que tenhamos feito, o Estado não poderá dar-nos mais do que um
rendimento mínimo." Nessa altura, vão tentar convencer-nos de que o sistema de
Segurança Social que construímos era irrealista, que fazíamos vida de ricos,
sendo pobres. Os governantes que nas últimas décadas desbarataram fundos de
pensões, nacionalizados para pagar erros de governação, estarão a assobiar para
o lado.
No meio desta desgraça que se abate sobre as futuras gerações de
pensionistas, temos o primeiro-ministro a falar de um excedente de dois mil
milhões de euros e o líder da oposição a encher-se de razão porque, afinal,
havia uma almofada. Nem um nem outro se dão conta de que nos estão a empobrecer
para todo o sempre. Ficar mais pobre agora para pagar erros do passado e
preparar o futuro é aceitável, mas não podemos aceitar que estejam a utilizar o
dinheiro que lhes confiámos, para nos devolverem na velhice, sem sequer nos
darem uma explicação.
Na situação de emergência que vivemos, tudo se passa na maior das
tranquilidades. É até possível ouvir o ministro Vítor Gaspar dizer que esta
operação é "actuarialmente equilibrada". O cálculo actuarial é usado para
determinar o risco dos seguros e das finanças e, se o ministro fez as contas,
deveríamos ficar descansados. Mas eu não fico, porque ele não vai estar lá para
responder quando eu for pensionista e pedir a devolução do dinheiro que lhes
confiei.
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