""Que é um exemplo, é, Passos.
De dizer uma coisa e fazer outra, de populismo infrene, de calculismo e marketing desavergonhados.
E isto em dois meses"" Fernanda Cancio
«Quando foi noticiado que Passos ia a Bruxelas em classe económica, houve quem visse isso como pura demagogia populista e quem lesse no gesto uma deliberação saudável de exemplo. A declaração de que o Governo não teria férias devido ao muito que há a fazer e ao estado de emergência terá suscitado o mesmo tipo de reacções. Sucede que, como é público e notório, Passos tirou mesmo férias. Fez até questão de aparecer em vários media em calção de banho, em convívio familiar e "no meio do povo". Dir-se-á: coitado do homem, também tem direito. E tem até o direito de querer capitalizar a sua intimidade e exibir humildade. Mas, atenção, ninguém encomendou a Passos o sermão sobre a recusa de ir de férias. E, tendo feito esse anúncio solene, o mínimo seria que cumprisse o anunciado.
Não o fez. O que não o impediu de, no discurso do Pontal, afirmar que "o Governo ainda não teve tempo para se sentar". Isto na mesmíssima semana em que deixou o ministro das Finanças, um denominado independente, dar a cara isolado por um Conselho de Ministros que segundo os jornais terá durado dez horas e sido "muito duro" devido a uma alegada discussão de cortes na despesa - cortes na despesa que, ficámos a saber na conferência de imprensa dada por Vítor Gaspar, se concretizaram afinal num aumento brutal de impostos na electricidade e no gás. Uma reviravolta que o ministro tentou explicar - mal, de resto - em entrevistas televisivas, nas quais embatucou com o despesismo, criticado pela "tróica" (e por Portas), da Madeira. "Não me cabe fazer esse tipo de observação", respondeu Gaspar a Judite Sousa, aproveitando no entanto para, com desfaçatez, associar os Açores à ideia de despesismo. Ora se não cabe ao ministro das Finanças e segunda figura do Governo, investido, no caso, em primeira, fazer observações sobre despesismo, quando ainda por cima outro ministro já o fez, cabe a quem?
Ao PM caberá, certamente. Mas ao fim de, nas suas palavras, "nem dois meses de Governo", e num momento em que apela à "não conflitualidade social" em nome do desígnio comum de salvar o País, Passos despejou a direcção do Executivo e o enfrentar das feras no regaço do inexperiente politicamente e claramente a precisar, ele sim, de sol Vítor Gaspar para ficar em Manta Rota a dar entrevistas às revistas cor-de-rosa. E por lá continua quando o ministro da Economia admite que a coligação dê o dito pelo não dito quanto ao TGV (causando uma apoplexia ao deputado independente do PSD Abreu Amorim) e o Expresso noticia que o ministro adjunto Relvas, o mesmo que nomeou uma comissão para definir o que é serviço público de TV (coisa que o seu antecessor e colega de partido Morais Sarmento fez em 2002), "sondou" Mário Crespo para correspondente da RTP em Washington, um "lugar" que este assegura almejar há muito.
Que é um exemplo, é, Passos. De dizer uma coisa e fazer outra, de populismo infrene, de calculismo e marketing desavergonhados. E isto em dois meses. Chapeau.» [DN]
Não o fez. O que não o impediu de, no discurso do Pontal, afirmar que "o Governo ainda não teve tempo para se sentar". Isto na mesmíssima semana em que deixou o ministro das Finanças, um denominado independente, dar a cara isolado por um Conselho de Ministros que segundo os jornais terá durado dez horas e sido "muito duro" devido a uma alegada discussão de cortes na despesa - cortes na despesa que, ficámos a saber na conferência de imprensa dada por Vítor Gaspar, se concretizaram afinal num aumento brutal de impostos na electricidade e no gás. Uma reviravolta que o ministro tentou explicar - mal, de resto - em entrevistas televisivas, nas quais embatucou com o despesismo, criticado pela "tróica" (e por Portas), da Madeira. "Não me cabe fazer esse tipo de observação", respondeu Gaspar a Judite Sousa, aproveitando no entanto para, com desfaçatez, associar os Açores à ideia de despesismo. Ora se não cabe ao ministro das Finanças e segunda figura do Governo, investido, no caso, em primeira, fazer observações sobre despesismo, quando ainda por cima outro ministro já o fez, cabe a quem?
Ao PM caberá, certamente. Mas ao fim de, nas suas palavras, "nem dois meses de Governo", e num momento em que apela à "não conflitualidade social" em nome do desígnio comum de salvar o País, Passos despejou a direcção do Executivo e o enfrentar das feras no regaço do inexperiente politicamente e claramente a precisar, ele sim, de sol Vítor Gaspar para ficar em Manta Rota a dar entrevistas às revistas cor-de-rosa. E por lá continua quando o ministro da Economia admite que a coligação dê o dito pelo não dito quanto ao TGV (causando uma apoplexia ao deputado independente do PSD Abreu Amorim) e o Expresso noticia que o ministro adjunto Relvas, o mesmo que nomeou uma comissão para definir o que é serviço público de TV (coisa que o seu antecessor e colega de partido Morais Sarmento fez em 2002), "sondou" Mário Crespo para correspondente da RTP em Washington, um "lugar" que este assegura almejar há muito.
Que é um exemplo, é, Passos. De dizer uma coisa e fazer outra, de populismo infrene, de calculismo e marketing desavergonhados. E isto em dois meses. Chapeau.» [DN]
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