Ainda que correndo o risco de ser excomungado decidi ser o único português a vir em defesa de Oliveira e Costa, pior do que isso, vir elogiar o ex-administrador do BPN e propor a sua libertação. Oliveira e Costa não só deveria ser imediatamente libertado como, porventura, ser proposto para uma das muitas condecorações com que os nossos presidentes costumam agraciar os velhos amigos, em sinal de reconhecimento pelos serviços prestados.
Oliveira e Costa há muito que é um dos melhores entre os melhores, conseguiu dar perdões a torto e a direito sem que tenham questionado a sua integridade nem a do primeiro-ministro. A não ser o Independente, então gerido por Paulo Portas, nenhum jornal se deu ao trabalho de investigar esses perdões fiscais. Oliveira e Costa conseguiu gerir em simultâneo as suas contas, a do país e as do PSD saindo com a sua imagem incólume quando abandonou o governo.
Não é qualquer um que sai do anonimato do estatuto de remediado, constrói um grande grupo empresarial e até chega a ter direito a páginas de elogio do Expresso, como sucedeu em tempos. Como explicar que de repente seja transformado em vilão de uma história que ninguém está interessado em ler?
Não é qualquer um que consegue fazer um buraco de 1.800 milhões sem ver, não é fácil enganar administradores como Dias Loureiro, enfiar o barrete a um ex-chefe das secretas e ludibriar directores escolhidos a dedo nos serviços de informação. Enganou-os tão bem que assinaram tudo e agora nem se lembram do que leram ou assinaram. É preciso ter uma inteligência acima da média para ludibriar Dias Loureiro e ainda conseguir que este saia do negócio esquecido do que fez e ainda por cima sem ter ele perdido um tostão.
Se foi simples distrair Vítor Constâncio o mesmo não se pode dizer de enganar Miguel Cadilhe ao ponto de levar esta velha vedeta da banca a pedir 600 milhões ao Estado para resolver o problema quando, afinal, o buraco era de 1.800 milhões.
Não é fácil fazer um buraco de 1.800 milhões e não haver um único cidadão a reclamar o seu dinheiro, um único jornalista a investigar o rasto de tanta massa, um único magistrado a violar o segredo de justiça, um único político a apontar-lhe o dedo. É um milagre Oliveira e Costa ter feito desaparecer 1.800 milhões sem ninguém ter reparado e sem que ninguém apareça a queixar-se.
Assim sendo não faz muito sentido que o homem esteja preso, o seu lugar deve ser numa fila de espera para as condecorações presidenciais. Merece uma comenda por mérito empresarial ou, se isso der muito nas vistas, por dedicação ao país, afinal fez uma reforma fiscal, cobrou a receita fiscal que ajudou Cavaco Silva a conseguir maiorias absolutas, modernizou muitas instalações do PSD e, quando se esperava que fosse para o merecido descanso, ainda construiu um dos bancos de maior sucesso na praça e ainda um grupo empresarial de grandes dimensões. <in O Jumento>
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