Não foi só beliscão. A troika fez feridas que ainda sangram
No momento em que o ministro alemão das finanças exibe Maria Luís Albuquerque para em nome de Portugal receber o elogio da boca do seu mestre e patrão, dando-lhe a honra de discursar a seu lado para fazer o discurso elogioso da austeridade que “salvou” Portugal, eis que o presidente da Comissão Europeia, Claude Juncker, veio estragar a festa, denunciando preto no branco que, afinal, “a troika pecou contra a dignidade” de portugueses, gregos e também irlandeses” e que é preciso rever o modelo e não repetir os mesmos erros.
Junker, num exercício de auto-contrição admitiu mesmo que a sua afirmação pode parecer “estúpida” dita por ele, ex-presidente do Eurogrupo. E acrescentou que “falta à troika legitimidade democrática e que “temos de aprender as nossas lições do passado e não repetir os mesmos erros”.
Como se esperava, o governo português tomou o partido do ministro alemão, com oministro da presidência a fazer-se de ofendido, a dizer que as declarações do presidente da Comissão Europeia são “infelizes”, garantindo que a dignidade de Portugal “nunca foi beliscada” pela ‘troika’.
Qual é afinal o conceito de “dignidade” do ministro Marques Guedes? Um país que voltou aos níveis de pobreza de há dez anos, em que uma em cada cinco pessoas é pobre, em que 25,7% da população vive em privação material em virtude das políticas de austeridade impostas pela troika, não viu a sua dignidade atingida?
A troika não beliscou, feriu a dignidade do país e dos portugueses. E as feridas ainda sangram.
Vem a propósito recordar o que sobre a troika em Portugal escrevi em Setembro de 2013:
Mal imaginava na altura que Junker, então presidente do Eurogrupo viria reconhecer o que já então saltava à vista. Mas mais vale tarde que nunca.
Foi um triste gozo, recordar também o que escrevi aqui e aqui.
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