Por: José Niza
1. Em poucos segundos um terramoto destrói uma cidade. E depois são cinquenta anos para a reconstruir. Se houver dinheiro.
Com os seus dois discursos da noite das eleições presidenciais e, depois, com o que proferiu na tomada de posse, Cavaco Silva abriu caminho para o acto mais irresponsável e mais irreparável que, em democracia, foi cometido em Portugal desde o 25 de Abril.
“Tivemos presidentes extraordinários e de grande capacidade para criar entendimenos, para chamar os diferentes partidos à razão no passado. Não o temos agora. É uma pena que tenhamos este Presidente neste momento”. Quem o disse ao DN foi o Professor Catedrático Boaventura Sousa Santos, doutorado em Yale e professor na Universidade de Coimbra e noutras universidades em França, Estados Unidos e Brasil.
2. Quando tudo se encaminhava para uma solução de ajuda da União Europeia a Portugal, quando todas as instituições e todos os líderes europeus elogiavam a forma como José Sócrates e Teixeira dos Santos tinham conduzido o processo, quando todos os países da UE se comprometiam a garantir a ajuda de que Portugal desesperadamente precisava, quando o Banco Central Europeu ia passar o cheque, todos os partidos da oposição – com especialíssimas responsabilidades para o PSD – tiraram o tapete ao Governo forçando Sócrates a pedir a demissão.
As terríveis consequências deste hara-kiri parlamentar na praça pública europeia, em directo e ao vivo, foram imediatas. As instituições internacionais, que acreditavam no compromisso de Sócrates, não eram capazes de entender esta irresponsável atracção pelo abismo revelada pelos partidos da oposição. A credibilidade política que Portugal foi conquistando junto da comunidade internacional por líderes como Mário Soares, Jorge Sampaio, António Guterres e José Sócrates, esvaíu-se num instante. Os juros da dívida dispararam para valores cada vez mais impensáveis e insuportáveis. E continuam a subir. E as agências de rating ficaram ainda mais livres para – sem decência, nem complacência – fazerem o upgrade do lucro para a usura.
Tudo isto podia ter sido evitado se os partidos da oposição – e o próprio Presidente da República – tivessem pensado duas vezes e tivessem colocado os interesses do País acima das suas vinganças contra PS.
Mas cometeram um erro de cálculo fatal: em vez de acertarem no PS, quase destruíam Portugal.
“Quem não sabe ser responsável na oposição, como poderá sê-lo um dia no governo?” (António Costa).
3. O que para trás ficou escrito não são palpites, nem opiniões: são factos. Irrefutáveis. Indesmentíveis. E contra factos não há argumentos.
Uma coisa é certa: as medidas do PEC 4 que a oposição chumbou, se comparadas com as do PEC que aí vem pela mão do FMI, são como a diferença que vai de uma dose pediátrica a um tratamento de choque.
E, por exclusiva culpa da oposição, Portugal não quis comprar por cem o que vai ser obrigado a pagar por mil.
4. Portugal tem agora perante si – e num prazo muito curto – dois momentos decisivos para o seu futuro: as negociações com a União Europeia e o FMI e as eleições de 5 de Junho.
Quanto à “ajuda externa” – que é a designação diplomática para não se falar de um empréstimo com juros altos – nem está ainda quantificada, nem se sabe o grau da sua violência.
Quanto às eleições, os Portugueses – sobretudo os que se assumem “de esquerda” – têm agora a última oportunidade de assegurar a continuidade do Serviço Nacional de Saúde, da Caixa Geral de Depósitos, do ensino público, da RTP, dos despedimentos só com justa causa.
E, ou percebem isto antes das eleições, ou, depois, já será tarde.
Em 1985, se Álvaro Cunhal não tivesse aconselhado o voto em Mário Soares, quem tinha sido presidente era Freitas do Amaral. Lembram-se?
1. Em poucos segundos um terramoto destrói uma cidade. E depois são cinquenta anos para a reconstruir. Se houver dinheiro.
Com os seus dois discursos da noite das eleições presidenciais e, depois, com o que proferiu na tomada de posse, Cavaco Silva abriu caminho para o acto mais irresponsável e mais irreparável que, em democracia, foi cometido em Portugal desde o 25 de Abril.
“Tivemos presidentes extraordinários e de grande capacidade para criar entendimenos, para chamar os diferentes partidos à razão no passado. Não o temos agora. É uma pena que tenhamos este Presidente neste momento”. Quem o disse ao DN foi o Professor Catedrático Boaventura Sousa Santos, doutorado em Yale e professor na Universidade de Coimbra e noutras universidades em França, Estados Unidos e Brasil.
2. Quando tudo se encaminhava para uma solução de ajuda da União Europeia a Portugal, quando todas as instituições e todos os líderes europeus elogiavam a forma como José Sócrates e Teixeira dos Santos tinham conduzido o processo, quando todos os países da UE se comprometiam a garantir a ajuda de que Portugal desesperadamente precisava, quando o Banco Central Europeu ia passar o cheque, todos os partidos da oposição – com especialíssimas responsabilidades para o PSD – tiraram o tapete ao Governo forçando Sócrates a pedir a demissão.
As terríveis consequências deste hara-kiri parlamentar na praça pública europeia, em directo e ao vivo, foram imediatas. As instituições internacionais, que acreditavam no compromisso de Sócrates, não eram capazes de entender esta irresponsável atracção pelo abismo revelada pelos partidos da oposição. A credibilidade política que Portugal foi conquistando junto da comunidade internacional por líderes como Mário Soares, Jorge Sampaio, António Guterres e José Sócrates, esvaíu-se num instante. Os juros da dívida dispararam para valores cada vez mais impensáveis e insuportáveis. E continuam a subir. E as agências de rating ficaram ainda mais livres para – sem decência, nem complacência – fazerem o upgrade do lucro para a usura.
Tudo isto podia ter sido evitado se os partidos da oposição – e o próprio Presidente da República – tivessem pensado duas vezes e tivessem colocado os interesses do País acima das suas vinganças contra PS.
Mas cometeram um erro de cálculo fatal: em vez de acertarem no PS, quase destruíam Portugal.
“Quem não sabe ser responsável na oposição, como poderá sê-lo um dia no governo?” (António Costa).
3. O que para trás ficou escrito não são palpites, nem opiniões: são factos. Irrefutáveis. Indesmentíveis. E contra factos não há argumentos.
Uma coisa é certa: as medidas do PEC 4 que a oposição chumbou, se comparadas com as do PEC que aí vem pela mão do FMI, são como a diferença que vai de uma dose pediátrica a um tratamento de choque.
E, por exclusiva culpa da oposição, Portugal não quis comprar por cem o que vai ser obrigado a pagar por mil.
4. Portugal tem agora perante si – e num prazo muito curto – dois momentos decisivos para o seu futuro: as negociações com a União Europeia e o FMI e as eleições de 5 de Junho.
Quanto à “ajuda externa” – que é a designação diplomática para não se falar de um empréstimo com juros altos – nem está ainda quantificada, nem se sabe o grau da sua violência.
Quanto às eleições, os Portugueses – sobretudo os que se assumem “de esquerda” – têm agora a última oportunidade de assegurar a continuidade do Serviço Nacional de Saúde, da Caixa Geral de Depósitos, do ensino público, da RTP, dos despedimentos só com justa causa.
E, ou percebem isto antes das eleições, ou, depois, já será tarde.
Em 1985, se Álvaro Cunhal não tivesse aconselhado o voto em Mário Soares, quem tinha sido presidente era Freitas do Amaral. Lembram-se?
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