Por: José Niza
1.Nos últimos tempos tem-se falado muito de desgraças nacionais. De um modo geral, quem nelas mais fala, é quem mais devia estar calado.
Há dias, um grupo excursionista de dez ex-ministros das finanças foi a Belém falar com o Presidente da República – também ele ex-ministro das finanças – em nome da salvação da Pátria.
À frente da excursão ia Medina Carreira, o adivinho-mágico que há exactamente 34 anos anda a agoirar que Portugal vai acabar no dia seguinte. O restante séquito foi constituído por uma larga maioria de ex-ministros do PSD e do CDS, a saber: Eduardo Catroga, Miguel Beleza, Jacinto Nunes, João Salgueiro, Bagão Félix, Manuela Ferreira Leite. E, ainda, os ressabiados do PS, Pina Moura e Campos e Cunha.
À excepção de Ernâni Lopes – que estoicamente e com sucesso aguentou o impacto da intervenção do FMI nos anos 80 – todos os restantes, incluindo Cavaco Silva, são os coveiros das finanças públicas e os co-autores do descalabro económico em que hoje o País se encontra. E que não começou ontem, nem com Sócrates, nem com Teixeira dos Santos.
É preciso muita lata e muito descaramento, para este aglomerado de ex-ministros – que só são “competentes” quando não estão no governo – se arvorarem agora em sábios salvadores da Pátria quando foram eles, um a um, que irresponsavelmente a foram soterrando.
2. Um conjunto de dados recentemente divulgados pelo semanário Expresso – e aos quais, que eu saiba, ninguém prestou atenção ou dedicou relevo mediático – explica, preto no branco, porque é que Portugal está como está, é aquilo que é, e vai ser aquilo que não quer.
Vejamos o negríssimo retrato do Portugal que temos, trinta e seis anos depois do 25 de Abril:
O abandono escolar em Portugal é de 31%, mais do dobro do que aquele que existe nos outros países da União Europeia. Isto significa que por cada três alunos que entram para o ensino secundário, um deles fica irreversivelmente pelo caminho. Tudo somado dá centenas de milhar de jovens.
Mas ainda há pior: no que respeita ao número de adultos que concluíram, pelo menos, o ensino secundário – e nos 21 países europeus em que o estudo se realizou – Portugal figura num destacadíssimo último lugar, a grande distância do penúltimo, a Espanha.
mente, os primeiros quatro países onde se verificam as mais altas percentagens de adultos com o 9º ano (ou mais) são todos eles para lá do antigo muro de Berlim: República Checa (91%), três vezes melhor que Portugal; Estónia (89%); Eslováquia (87%); e Polónia (88%). Tudo isto prova que nestes antigos países de ditaduras comunistas, não havia liberdade, mas escolas é que não faltavam.
Curiosamente – desgraçadamente – os quatro últimos dos vinte e um são todos eles países do sul da Europa, onde abunda o sol mediterrânico e o “dolce farniente”: Grécia (60%), Itália (52%), Espanha (51%) e Portugal 27%, quase metade do penúltimo, a Espanha!
Quanto aos conhecimentos de matemática dos nossos trabalhadores, Portugal ocupa o 25º lugar em 29 países.
Mas, deixando os trabalhadores em paz, e passando para o mundo dos patrões portugueses, o que é que temos?
Temos que só 9% deles tem um curso superior. Temos que apenas 10% completaram o ensino secundário. E temos que 81% do total nunca foi além do 9ºano, ao contrário dos 28% da média europeia.
Em contraste com esta crua realidade temos dos professores mais bem pagos da Europa, com menos alunos por turma, e com menos horas de trabalho. E, apesar disto, temos também os professores menos avaliados e mais revoltados.
Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues bem tentaram fazer reformas e dar prioridade absoluta à educação. A resposta foram grandes manifestações e uma santa aliança de todos os partidos da oposição contra as reformas e a favor dos professores e da ridicularização das centenas de milhar de computadores postos ao dispôr das crianças e dos jovens. Em vez de se corrigirem algumas soluções propostas pelo governo, foi o bota-abaixo.
E tudo ficou como estava antes.
É este o Portugal que temos.
É este o atraso que temos.
Em boa verdade, já não somos Europa, somos uma jangada errática, habitada por uma multidão de semi-analfabetos, encalhada na História e sem futuro à vista.
“O algodão não engana”. (ORibatejo)
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