O FMI – que continua muito crítico em relação à forma como a Europa está a lidar com a crise – ilustra em documentos diferentes até que ponto o regresso de Portugal ao financiamento normal nos mercados de dívida, a recuperação a curto e médio prazo da economia e a execução do próprio programa da troika estão dependentes de decisões tomadas ao nível europeu.
"As condições económicas frágeis [na Europa] implicam que mesmo com uma forte implementação do programa, choques externos adversos podem inverter os ganhos conseguidos até à data", alertam os técnicos do FMI no relatório da quarta avaliação a Portugal. "Uma acção abrangente na política a um nível europeu contribuiria significativamente para as chances de sucesso do programa", acrescentam.
O arrastamento da incerteza sobre o desfecho da crise do euro é uma força que tem impacto decisivo no prémio de risco exigido pelos mercados à dívida portuguesa. Num dos documentos publicados esta semana, o fundo aponta que cerca de metade do spread (diferença) entre os juros da dívida portuguesa e alemã (a referência de solidez) não é explicável com os indicadores orçamentais e económicos de Portugal – os 550 pontos- -base (pouco menos de metade do spread médio no primeiro semestre) devem-se ao clima de incerteza política sobre a crise que ameaça o euro. A análise do FMI sugere que Portugal continuará fora dos mercados de dívida enquanto a comunidade financeira não divisar uma saída para a crise europeia.
"Outro ponto de forte influência da política europeia está no impacto em Portugal – e outros países periféricos sob ajustamento – da vaga austeritária que domina a Europa, sobretudo Espanha. O efeito da austeridade europeia geral na economia aberta portuguesa será uma perda acumulada próxima de 5% no PIB entre este ano e 2017, a maior entre os países do euro.
O FMI tece ainda considerações sobre a magnitude do ajustamento estrutural pedido a Portugal, apontando que o país deve evitar um ajustamento estrutural "excessivo" num contexto sem crescimento económico. O novo Tratado Orçamental Europeu impõe a redução do défice estrutural (que exclui o efeito do ciclo económico) próximo de zero até 2016.
No relatório da quarta avaliação o FMI indica que nas conversas que mantém com as autoridades portuguesas – governo e Banco de Portugal – o risco europeu é reconhecido e que a alternativa passa por concentrar esforços na parte do cumprimento do programa ao alcance do governo. O executivo de Passos Coelho tem optado pela estratégia de não confrontar publicamente os líderes europeus – a Alemanha – sobre o rumo seguido na crise do euro.
FMI quer mais BCE. É o caso de uma instituição da troika que pede a outra (o Banco Central Europeu) que faça mais pela região – e pelos países sob ajustamento violento. No relatório muito crítico publicado ontem sobre a zona euro o FMI salienta que a região "chegou a uma fase crítica" e pede "acção determinada" nas soluções.
O Fundo pede ao BCE que injecte dinheiro na zona euro através da compra massiva de obrigações dos países membro, uma acção que estabilizaria as condições de financiamento e serviria de estímulo à economia do euro. BCE e Alemanha têm rejeitado esta opção, em parte devido ao que entendem ser o risco de inflação. O FMI avisa em sentido oposto – sem este passo corre-se o risco de um ciclo de deflação, ou seja, uma queda generalizada dos preços, com impacto destrutivo no investimento, na produção, com transmissão aos salários e à procura e a toda a economia." (IIII)
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