"Muita gente se tem surpreendido com aquilo que considera ausência de reacção, quer da "rua" quer dos protagonistas partidários e sindicais habituais, às duríssimas medidas do Governo.
Várias explicações têm sido ensaiadas. Que é Verão, que as pessoas estão amodorradas pelo calor, que a generalidade ainda não sentiu o efeito dos cortes e do agravamento dos impostos, que há um sentimento geral de conformismo, resignação e até mea culpa face à austeridade.
Ora estas explicações, se poderiam fazer sentido para a população, não colhem no que respeita aos partidos da oposição nem aos sindicatos, cujas reacções são de uma doçura enternecedora se as compararmos com as evidenciadas face ao Governo PS. Um contraste tanto maior quando em vários casos - o da avaliação de professores sendo o mais escandaloso pela contestação selvática que suscitou antes - as promessas e acções pré-eleições dos partidos do Governo foram completamente invertidas pelo Executivo. O que pode levar Nogueira e companhia a baixar tanto as orelhas? Há alguma coisa que não saibamos (ainda) ou deu-lhes a vergonha, como ao PCP e ao BE, de terem feito pandã com a direita para diabolizar Sócrates e ajudar a colocar no poder o Governo mais determinado a acabar com "as conquistas dos trabalhadores" que vimos desde o 25 de Abril?
Não havia diferença entre PSD e PS, ouviu-se tantas vezes aos dirigentes da chamada "esquerda portuguesa". O PS tinha uma política "neoliberal" que agravava as desigualdades e a pobreza; o PS era inimigo dos trabalhadores e servo do "grande capital"; o PS traiu os portugueses ao negociar com a troika um acordo ruinoso (amanhãs a cantar, ou nada). E muito pior que o PS era esse "objecto mau", esse cúmulo do odioso chamado Sócrates. Sem ele, tudo voltaria a estar bem; sem ele, culpado de todos os males, arquitecto da bancarrota (para a direita) e traidor do proletariado (para a "esquerda"), não haveria mais impostos, nem avaliação de professores, nem corte do abono de família, nem fecho de escolas e centros de saúde nem IVA máximo no leite com chocolate "das crianças"; sem Sócrates, "os mercados" emprestar-nos-iam a juro de amigo, as crises económica mundial e do euro eclipsar-se-iam e não se exigiriam "mais sacrifícios aos portugueses", até porque, como gritou Cavaco na tomada de posse, se tinha chegado ao limite.
Erigido em totem sacrificial, Sócrates, "o mentiroso", foi queimado em auto da fé e o País respirou de alívio. Para se descobrir, semanas depois, com um PM que desdiz - ou melhor, manda desdizer - tudo o que prometeu e se apresta a esbulhar o rendimento do trabalho e a empobrecer os pobres e classe média como nunca até hoje. Que vão chamar-lhe, mentiroso e ladrão? Que vão fazer, encher as ruas de gente vociferante com cartazes insultuosos? Pois. " (Fernanda Cancio - DN)
Várias explicações têm sido ensaiadas. Que é Verão, que as pessoas estão amodorradas pelo calor, que a generalidade ainda não sentiu o efeito dos cortes e do agravamento dos impostos, que há um sentimento geral de conformismo, resignação e até mea culpa face à austeridade.
Ora estas explicações, se poderiam fazer sentido para a população, não colhem no que respeita aos partidos da oposição nem aos sindicatos, cujas reacções são de uma doçura enternecedora se as compararmos com as evidenciadas face ao Governo PS. Um contraste tanto maior quando em vários casos - o da avaliação de professores sendo o mais escandaloso pela contestação selvática que suscitou antes - as promessas e acções pré-eleições dos partidos do Governo foram completamente invertidas pelo Executivo. O que pode levar Nogueira e companhia a baixar tanto as orelhas? Há alguma coisa que não saibamos (ainda) ou deu-lhes a vergonha, como ao PCP e ao BE, de terem feito pandã com a direita para diabolizar Sócrates e ajudar a colocar no poder o Governo mais determinado a acabar com "as conquistas dos trabalhadores" que vimos desde o 25 de Abril?
Não havia diferença entre PSD e PS, ouviu-se tantas vezes aos dirigentes da chamada "esquerda portuguesa". O PS tinha uma política "neoliberal" que agravava as desigualdades e a pobreza; o PS era inimigo dos trabalhadores e servo do "grande capital"; o PS traiu os portugueses ao negociar com a troika um acordo ruinoso (amanhãs a cantar, ou nada). E muito pior que o PS era esse "objecto mau", esse cúmulo do odioso chamado Sócrates. Sem ele, tudo voltaria a estar bem; sem ele, culpado de todos os males, arquitecto da bancarrota (para a direita) e traidor do proletariado (para a "esquerda"), não haveria mais impostos, nem avaliação de professores, nem corte do abono de família, nem fecho de escolas e centros de saúde nem IVA máximo no leite com chocolate "das crianças"; sem Sócrates, "os mercados" emprestar-nos-iam a juro de amigo, as crises económica mundial e do euro eclipsar-se-iam e não se exigiriam "mais sacrifícios aos portugueses", até porque, como gritou Cavaco na tomada de posse, se tinha chegado ao limite.
Erigido em totem sacrificial, Sócrates, "o mentiroso", foi queimado em auto da fé e o País respirou de alívio. Para se descobrir, semanas depois, com um PM que desdiz - ou melhor, manda desdizer - tudo o que prometeu e se apresta a esbulhar o rendimento do trabalho e a empobrecer os pobres e classe média como nunca até hoje. Que vão chamar-lhe, mentiroso e ladrão? Que vão fazer, encher as ruas de gente vociferante com cartazes insultuosos? Pois. " (Fernanda Cancio - DN)
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