Não é uma fuga de Bach, é uma fuga de Presidentes de Câmaras. Das maiores do País. E todas do PSD.
Li a história no Diário de Notícias e fiquei estupefacto: de repente, um a um, pé ante pé, os presidentes de alguns dos mais importantes municípios de Portugal iniciaram uma frenética e imparável debandada. Como se fosse uma corrida de estafetas.
- O de Coimbra, Carlos Encarnação, que até já foi membro do governo, disse "good-bye". E foi à vida.
- O de Cascais, António Capucho, membro do Conselho de Estado e ex-ministro do PSD, despediu-se. Sem justa causa.
- O de Sintra, Fernando Seara, emérito comentador de futebol (não tarda que Cavaco o transforme de comentador em Comendador) e candidato à presidência da Federação do dito cujo, também está de malas aviadas para se despedir do Palácio da Pena e das queijadas com que Lord Byron se aconchegava.
- O de Vila Nova de Gaia, Luís Filipe Menezes – ao que também adianta o DN – vai passar a pasta (isto é, as dívidas) ao seu número dois, o destemido gladiador Marco António.
E por aí fora, que Portugal é grande.
Esta fobia autárquica de matriz obsessivo-compulsiva que subitamente irrompeu no PSD é um fenómeno digno de análise e reflectida reflexão.
Em primeiro lugar há que ter presente que este impulso para a fuga é uma característica genética do actual PSD (que até nem existia no fundador PPD). Tenha-se por exemplo em conta que o inefável Santana, não obstante as himalaicas barbaridades que cometeu, se manteve sempre no seu posto. E que só abandonou S.Bento aos empurrões.
Em segundo lugar há que saber distinguir entre vários modelos de fugas: umas para a frente, outras para trás, e outras aos zig-zagues, não se sabendo bem para onde.
Uma das maiores fugas ocorridas no PSD – só comparável à de Cunhal do Forte de Peniche – foi uma fuga para a frente e para cima: Durão Barroso, que pelo voto popular tinha ascendido a Primeiro Ministro de Portugal, mal percebeu que os amiguinhos do inimaginável George W. Bush iam "pagar-lhe" a viagem para Bruxelas, fez logo as malas e passou a pasta (isto é, as dívidas) ao sempre inefável e único Santana.
E, assim, os edis laranja, um a um e pé ante pé, vão abandonando os seus navios como se fossem ratos.
E porque é que saem?
Ora aí está uma sagaz pergunta!
A razão é simples: money, cacau, pilim, carcanhóis, euros, dólares, dinheiro…
Ou a falta dele.
***
Uma coisa que sempre me impressionou enquanto autarca e deputado, foi o endémico argumentário monetarista de muitos presidentes de câmara que fui conhecendo ao longo do caminho. Sem excepções partidárias e sempre com um rasgado sorriso de felicidade estampado no rosto, me diziam eles:
- "Ainda não atingimos os limites do endividamento"!
E a ideia com que eu ficava era a de que, obsessivamente, enquanto não furassem o tecto, não teriam descanso.
Claro que estas histórias já se passaram há muitos séculos, ainda "O Ribatejo" gatinhava. E que o culpado de tudo isto foi o Sócrates que, ainda de fraldas, não conseguiu evitar estes autárquicos desvarios. Como, aliás – e para que não restem dúvidas – também foi ele o culpado dos tsunamis que devastaram a Grécia, a Irlanda, os Estados Unidos e outros países do 3.º mundo.
Portanto – meus amigos – a questão é de dinheiro. Isto é, da falta dele. É que, como o vil metal cada vez mais escasseia para acender o fogo de artifício das obras de fachada, para encher os tachos dos boys e das girls dos partidos, para empregar filhos e afilhados mais ou menos analfabetos (mas todos diplomados) – é a deserção.
Falta saber para onde?
Como se trata de autarcas de primeira água, é natural e justo que tenham expectativas de um lugarzinho num futuro Governo, nem que seja o de Sub-Secretário de Estado das Hortaliças.
O que é estranho é que ainda ninguém se tenha lembrado de recordar aos fugitivos que, ao fim de pouco tempo, já estão a rasgar o compromisso que firmaram com os eleitores.
Se alguém lhes perguntar, eles responderão que.
E já estão noutra.
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