14 dezembro, 2009

Ódio na política


Por: José Niza

 
1. Respondendo a uma jornalista, o ministro Vieira da Silva declarou que Sócrates e o PS estão a ser vítimas de "espionagem política". Eu vou mais longe. E acuso: o que nos últimos anos se tem passado em relação a Sócrates e ao PS é muito mais do que espionagem política, é uma série ininterrupta de tentativas de assassinato político. Sócrates não só sobreviveu a todos os atentados como, pelo caminho, ganhou duas eleições legislativas. Que pior podia acontecer àqueles que pretendem destruí-lo?
2. As investigações criminais competem aos juízes, aos magistrados do Ministério Público e aos polícias da Judiciária. São eles quem recolhe as informações, os documentos, as provas. São eles que fazem as escutas. São eles os responsáveis pelo sigilo das investigações. Mas, depois, é a sistemática violação do segredo de justiça e as fugas de informações (verdadeiras, falsas ou manipuladas) para certos jornais, certos jornalistas, certas televisões. Como é que as informações saltam das investigações criminais para os jornalistas é coisa que nunca até hoje se conseguiu descobrir. Em contrapartida, o que se constata é que os dirigentes dos sindicatos dos juízes, magistrados e polícias nunca reconhecem a sua responsabilidade nas fugas e nos atentados ao segredo de justiça. Há dias, no "Prós e Contras"– e "apertado" pela jornalista Fátima Campos Ferreira – um conceituado juiz desembargador, meio engasgado, acabou por responsabilizar as mulheres da limpeza pelas fugas de informação dos tribunais! Numa sondagem do Expresso da passada semana, 67,9 % dos inquiridos criticam o funcionamento da Justiça. E magistrados e juízes surgem no fundo, abaixo dos órgãos de soberania e de todos os líderes partidários.
3. Com as informações nos bolsos os tais jornalistas do costume iniciam a ofensiva mediática das acusações, das insinuações, das difamações, das calúnias, dos julgamentos na praça pública e nos telejornais. Mas, cobardemente, recusam-se a revelar as origens das fugas e a identidade das fontes.
4. A terceira fase é a da conversão manipulada das mentiras em "verdades" e a sua utilização política contra os inimigos a abater. Das três, esta é a etapa mais nojenta. A tal "espionagem" é apenas um dos passos em todo este cortejo de indignidades: tudo nasce na justiça, continua nos media e termina nos matadouros da política suja.
5. Falemos, então, de política. Mais concretamente, do PSD.
Em 2005 – ano de eleições – o chefe de gabinete de Santana Lopes, então Primeiro Ministro e presidente do PSD, conjuntamente com um inspector da Judiciária, um dirigente do CDS e dois jornalistas de escândalos, forjou uma carta "anónima" para despoletar a investigação do caso Freeport e incriminar Sócrates num caso de corrupção. A campanha contra o então Secretário-Geral do PS explodiu nos jornais e nas televisões. O que não impediu que os Portugueses lhe dessem a maioria absoluta.
Nos anos seguintes tudo serviu de pretexto para atacar Sócrates.
Sobre todos os casos nunca Sócrates foi ouvido, indiciado ou acusado pelos tribunais do que quer que fosse.
Em 2009 – mesmo em cima das eleições – Sócrates foi de novo colocado perante os pelotões de fuzilamento político: a compra da TVI pela PT, o cancelamento do programa de Manuela Moura Guedes, a inventona das escutas à Presidência da República (que um assessor de Cavaco Silva colocou no Público e que em boa hora o Diário de Notícias denunciou, fazendo o feitiço virar-se contra o feiticeiro).
Mais uma vez Sócrates conseguiu sobreviver a todos os ataques e voltou a ganhar as eleições. Manuela Ferreira Leite perdeu-as. Ressabiada pela derrota eleitoral -  e contra decisões dos próprios  tribunais – acusa Sócrates de estar "sob suspeita". Nunca, em Portugal, um líder partidário foi tão longe num ataque a um Primeiro Ministro.
Depois de uma sucessão de lideranças desastrosas, MFL chegou ao PSD como a grande salvadora do partido. Pacheco Pereira – seu ideólogo, estratega e "chevalier servant" – incensou-lhe a genialidade. Mas, afinal, era só mau génio…Para além de incompetente, a senhora é mal-formada, falsa moralista, ultra-conservadora, mesquinha e vingativa. Em poucos meses conseguiu fazer do PSD um partido sem rumo, sem votos e sem credibilidade. Um partido em "suicídio lento", como disse há dias Pinto Balsemão.
Se ainda fosse vivo, Freud diagnosticaria que a politicopatia de que a senhora sofre é um mecanismo de defesa do Eu chamado "projecção": a senhora exorcisa os seus defeitos e projecta-os, vingativamente, em Sócrates
(O Ribatejo)














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