24 junho, 2010

Vuvuzelas

Por:
José Niza

  1. Para quem não saiba, as vuvuzelas são aquelas trombetas irritantes e estúpidas que provocam um ruído infernal, estridente e ensurdecedor nos estádios da África do Sul onde está a decorrer o campeonato do mundo de futebol.

Esse zumbido – que mais parece o barulho amplificado de um enxame de abelhas a entrar num cortiço – é desde há dias o ruído que mais gente incomoda em todo o mundo: uma estridência que entra pelos microfones de tudo o que são rádios ou televisões e que fura os tímpanos de cidadãos de todas as raças e de todas as cores.

Pior ainda: agride os jogadores nos estádios, não os deixa ouvirem-se uns aos outros, prejudica o trabalho dos árbitros e a comunicação com os bandeirinhas, e não permite aos treinadores passarem as suas instruções para dentro do relvado.

Recordo-me de uma vez ter assistido no Maracanã, do Rio de Janeiro, a um derby histórico – o FLA FLU – o Flamengo contra o Fluminense. No meio daquelas cem mil pessoas havia ilhas de samba que durante todo o jogo cantaram carnavais e percutiram tambores e pandeiros. A diferença entre este match brasileiro e os jogos da África do Sul é que, no primeiro, havia festa sem perturbar o jogo. E, nos segundos, é só barulho, ruído e decibéis.

Hoje, 13 de Junho, domingo, dia de Santo António, ouvi que as rádios e as televisões de todo o mundo estão a protestar contra este absurdo (que só agride quem não é surdo). E espero que consigam acabar com a tortura.

Outra "vuvuzela" inacreditável e atentória dos direitos dos futebolistas é a de que a FIFA, sem sequer os consultar, decidiu estrear uma bola nova no Mundial: o sr. Blater, presidente da FIFA, e o seu séquito de Madaís, quiseram inscrever os seus nomes na história do futebol por terem inventado uma nova bola. Só que – desde os guarda-redes aos pontas de lança – ninguém elogia o novo esférico. Pelo contrário: não gostam dele, não o querem, acham que não presta. Mas o que mandam eles – os protagonistas e actores do maior espectáculo do mundo – contra os interesses do sr. Blater? Nada!

  1. Há, todavia, outras "vuvuzelas". Nacionais. Nossas. Cá do burgo. São igualmente estúpidas e estridentes. E, politicamente, inconsequentes.

As "vuvuzelas" de duas comissões parlamentares – a de ética e a de inquérito – para apurar se havia liberdade de informação em Portugal, ou se o Primeiro Ministro e o Governo tinham interferido na compra, ou na não-compra, da TVI pela PT, só provocaram barulho, confusão, tempo perdido, e nada mais.

É que todos os portugueses mais atentos a estas coisas já tinham percebido que a vuvuzela soprada pelo emérito solista e deputado Pacheco da Marmeleira só tinha por intuito único e exclusivo provocar a queda do governo através da aprovação de uma moção de censura, caso ficasse provado que o Primeiro Ministro tinha mentido ao Parlamento. O que não ficou provado, simplesmente porque não aconteceu.

Por causa desta patológica obcessão, o deputado Pacheco acabou por se incompatibilizar política e partidariamente com o seu companheiro Mota Amaral, um homem honesto, de quem sou amigo, que nunca fez fretes a ninguém e muito menos alinhou em golpes de baixa política.

E já agora – para os que tenham a memória mais perto do esquecimento do que da realidade – será que ainda se lembram de que, nos tempos das maiorias absolutas de Cavaco, houve um líder parlamentar do PSD que impôs que os jornalistas fossem proibidos de falar com os deputados nos corredores da Assembleia? E sabem quem ele era? Ora, nem mais nem menos do que o queiroziano deputado da Marmeleira, que agora se travestiu em paladino da defesa da liberdade de informação!

Outra untuosa "vuvuzela" que dá pelo nome de Mário Crespo foi, por unanimidade, arquivada pela ERC (Entidade Reguladora da Comunicação Social). Porquê? Porque o citado jornaleiro se queixara à ERC de que o director do Jornal de Notícias não publicara uma crónica sua onde ele escrevia que uma senhora – que não se sabe quem é, nem sequer se existe – lhe dissera que tinha ouvido Sócrates num restaurante a dizer que ele, Crespo, era "um problema que a SIC tinha de resolver".

Eu concordo, mas com uma pequena nuance: é que o problema Mário Crespo será ele próprio que terá de resolver!

Uma vez "arquivado", o decano jornalista, ou jornalista de cano, lamentou-se ao Diário de Notícias: "Já passaram quatro meses e ninguém me convidou para escrever"! Coitado, ainda não percebeu que nem mesmo os pasquins mais tablóides e sensacionalistas querem ter as suas páginas conspurcadas pelos seus vomitados.

E assim, de vuvuzela em vuvuzela, de alarvidade em alarvidade, cá vamos nós: andando, cantando e rindo (Oribatejo)

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