05 maio, 2010

Bancos, banqueiros e bancários

Por: José Niza


Uma coisa que devia ser de ensino obrigatório a todas as crianças e em todas as escolas do País é a forma como os bancos enganam as pessoas.
Os bancos até parecem instituições beneméritas e filantrópicas – como a Caritas, ou o Banco Alimentar – e ajudam os pobrezinhos no Natal, embora no resto do ano nos arranquem o couro e o cabelo. (Quem anda por aí com estas atoardas são o Jerónimo e o Louçã, mas já toda a gente percebeu o que eles querem).
Como ia dizendo, a verdade é que os bancos são organizações exemplares e as pessoas que lá trabalham muito bem educadas e sempre sorridentes, atentas e obrigadas.
Nos bancos há os banqueiros e os bancários. E todos usam gravata. Só que os primeiros gastam do Giorgio Armani e os segundos, da feira de Carcavelos. Para além das gravatas, os banqueiros também se distinguem dos bancários porque ganham um bocadinho mais. Ouvi dizer – mas devem ser invenções do Louçã – que para ganhar o que um banqueiro ganha por mês, um bancário terá de trabalhar alguns anos. O que, aliás, é de inteira justiça, porque são os banqueiros que pensam as coisas e que dão as ordens. Quando as coisas correm bem, eles recebem milhões em ordenados, bónus e prémios. Mas quando as coisas correm mal, também recebem o mesmo.
À excepção dos que vão à falência por excesso de roubalheira, como o BPN ou o BPP, nunca ouvi falar de um banco que tivesse “prejuízos”. Já alguém ouviu? O que às vezes acontece é que eles têm trágicas quebras de lucros. Por exemplo, em vez de ganharem 100 milhões, ganham só 99.
Os bancos vivem de uma coisa chamada “juros”. Quando um infeliz vai a um banco depositar umas poupanças, dão-lhe 1% de juros. E os funcionários – com caras de gatos-pingados muito tristes e de lágrimas ao canto do olho – esvaiem-se em prantos dizendo ao cidadão que não podem dar mais e que a culpa é do Euribor, dos “spreads”, dos “rankings”, dos “cash-flows” e de outras coisas em inglês.
Mas, se o mesmo infeliz for ao mesmo banco, não para fazer um depósito, mas para pedir um empréstimo, não lhe cobram menos de vinte e tal por cento. E os mesmos funcionários – com caras de gatos-pingados muito tristes e debulhados em lágrimas – dizem ao infeliz que o dinheiro está muito caro, que anda por aí uma grande crise, que têm de ir lá fora comprar euros, que 20% de juros até é uma pechincha e que é tudo por causa da Grécia.
A caridade dos bancos também não tem limites: eles até dão milhões aos clubes de futebol só para verem o seu nome nas camisolas. E, como são muito bonzinhos, o Estado até só lhes cobra metade dos impostos que a sapataria ou o café da esquina pagam.
Talvez não seja por acaso que, em Santarém e junto ao hospital, os bancos são porta-sim, porta-não. A razão é simples: quando lhes pagam 1% de juros nos depósitos, ou lhes cobram mais de 20% nos empréstimos, as pessoas desatam a ter enfartes de miocárdio, ataques de fúria, crises de apoplexia. E, por isso, dá imenso jeito ter as urgências mesmo ali ao lado.
Outra coisa que deviam ensinar às crianças é que, se um encapuçado assaltar um banco com uma pistola de carnaval, e gamar uns cem ou duzentos euros, é logo preso, julgado e condenado. O malandro!
Mas, se os assaltantes forem peixe graúdo de colarinho branco – e, em vez de sacarem umas centenas de euros, roubarem milhões – nem sequer precisam de pistolas de plástico. Do que precisam é de bons advogados que vão arrastando os processos até que prescrevam. E eles, inocentados, possam de novo regressar ao jet-set, às missas dos domingos, ou a escrever livros contando os seus sucessos financeiros.
Em 2009 – no meio da crise que varreu Portugal e o Mundo – quatro dos maiores bancos portugueses (BES, BPI, BCP e Santander-Totta) tiveram um lucro diário – repito, diário! – de 5milhões de contos.
E, num recentíssimo inquérito do Expresso sobre as pessoas com mais poder em Portugal, os resultados foram concludentes: 1º- Ricardo Salgado (presidente do Banco Espírito Santo); 2º-Belmiro de Azevedo (Sonae); 3º- José Sócrates (Primeiro Ministro); e 6º- Cavaco Silva (Presidente da República)!
Mais palavras para quê?
Acho que estamos conversados

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu, ex-bancário, recebia tanto em 10 anos como um Administrador num mês! Não sabiam?! Pois era exactamente isso! Acham muita a diferença? E sem falar da suite em hotel de 5 estrelas, sempre à disposição quer fosse utilizada ou não!
Também não tenho culpa de não ter capacidade para administrar!...