26 maio, 2010

"Por: José Niza

1.Enquanto umas dúzias de deputados – alguns dos quais que nos tempos da Velha Senhora teriam dado competentíssimos inquisidores policiais – se ocupam e preocupam há meses com questões totalmente irrelevantes para o País, como o drama existencial de apurar se em Portugal existe ou não liberdade de informação, ou se o Primeiro Ministro mentiu ao Parlamento ao afirmar não ter tido conhecimento oficial do frustrado negócio PT-TVI, Portugal foi acossado por uma conjuntura financeira internacional que pôs em causa o cimento que cola a União Europeia, que é o euro, e esteve à beira de um colapso de dimensões incalculáveis.
A sanha persecutória contra Sócrates e contra o governo – da qual o actual líder da oposição Pedro Passos Coelho, com inteligência e dignidade sempre se demarcou – poderá satisfazer e alimentar os egos politicamente paranóides de deputados como Pacheco Pereira, Pedro Duarte, João Semedo e outros, mas em nada contribui, nem para a dignificação do Parlamento, nem para resolver os problemas da vida dos portugueses.
Não quero, pretenciosa ou saudosisticamente, invocar a estafada frase de que “no meu tempo é que era bom”. Mas a verdade é que, nos 15 anos em que fui deputado, não ocorreram coisas destas na Assembleia.
Nunca – nem nos momentos mais conturbados do pós-25 de Abril – aconteceram encenações como a do Parlamento funcionar num domingo, não por qualquer urgência de relevante interesse nacional, mas para ouvir o presidente da Comissão Executiva da PT sobre o não-negócio com a TVI.

2.A rápida evolução da recente e actual crise dos mercados financeiros lembra-me a pandemia da gripe A, que começou num país e rapidamente se propagou a outros. Esta “gripe financeira” começou na Grécia, por lá andou uns tempos, mas de um dia para o outro, como o vulcão da Islândia, começou a atacar Portugal sem apelo nem agravo. A seguir seriam a Espanha, a Itália e o próprio Reino Unido. O que é o mesmo que dizer que não seria só Portugal a afundar-se, seria a Europa toda.
“Para grandes males, grandes remédios”. Tocou a rebate e, de imediato, a hora da verdade chegou a Bruxelas. E de lá saíram imposições draconianas, mas necessárias. Mesmo assim, as medidas que em Portugal vão ser postas em prática – se comparadas com as que foram adoptadas pela Grécia, Espanha ou Reino Unido – são muito menos dolorosas.
Mas será uma ilusão pensar que serão suficientes ou transitórias. Não são: isto vai doer e vai durar.

3.Muitos portugueses – e com toda a razão – perguntarão: “Mas como é que isto foi possível” “Como é que deixaram chegar as coisas a este ponto?”
A resposta, para Portugal e para a Europa, é a mesma e espantosamente simples: “Isto aconteceu porque todos gastaram mais do que podiam”!
Mas uma coisa é a gente entender as razões. E outra é saber tirar consequências dos desvarios e dar algum repouso aos cartões de crédito. Isto, claro, para aqueles que os têm. Porque, os outros – e são muitos – terão de ser ajudados na pobreza, no desemprego, na doença. Estes terão de ser a prioridade das preocupações e os destinatários da SOLIDARIEDADE, se é que esta palavra politicamente ainda existe.

4.Como é que se sai disto? Quais os caminhos?
Não sou especialista na matéria. O que até talvez seja bom, porque em situações destas mais vale uma boa dose de bom senso, feito de experiência vivida, do que brilhantes elucubrações de cátedra.

Por exemplo:
Se cada português, ao comprar qualquer coisa – uma laranja, uns sapatos, um electrodoméstico, um vestido, uma T-shirt – optar por um “made in Portugal”, talvez dê trabalho a muita gente.
Se os bancos pagarem o IRC a 25%, como as outras empresas, em vez de apresentarem gananciosos lucros de 5 milhões por dia, talvez isto ande melhor e mais depressa.

Só que há uma pequena diferença:
No caso da T-shirt, quem decide é você.
E no caso dos bancos, é o governo.
E aqui é que “a porca torce o rabo” "

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro Dr. José Niza
Ao ler este seu "artigo" acabo por concordar com alguns dos seus parágrafos, mas permita-me que em relação a outros pontos desta sua abordagem discorde de si.
Não sou deputado nem afecto a qualquer partido nem me considero paranóico. Por isso tenha-me como descomprometido em relação a tudo e a todos quantos vêm dando cabo deste desgraçado país.
Pegando na frase com que iniciou o seu 2º parágrafo - «a sanha persecutória contra Sócrates...» - só tem razão porque, em boa verdade, ao Primeiro Ministro nunca forneceram pistas suficientemente capazes de o acordar do lertargo infantil em que se mantém.
Não basta dizer que toda a gente gastou demais. Aliás, isso é consequência de algo bem mais grave que espelha, em 1º lugar, a criancice (no pior sentido) deste povo e, em 2º lugar, do próprio Primeiro Ministro, que deste povo saiu.
Um povo que não pensa, que não sabe fazer contas, que se deixa levar pela facilidade aparente que é inculcada na sua mente desprevenida não chega a lado algum que mereça elogio, pois o seu caminhar é por veredas alagadiças onde a lentidão dos passos só é contrariada pelo escorregar desamparado, sempre provável em tais percursos.
Os governantes, estragados por pseudo-ideais e políticas de fazer de conta, quando aceleram esses passos, mais não fazem do que encaminhar o povo para o precipício...
Sócrates, na vez que lhe coube, apenas encabeçou a "romaria" que culminará, não num qualquer arraial à Srª disto ou daquilo, no cimo de um pitoresco monte da nossa província, com farturas e vinho verde para animar a malta, mas num monte calvário onde ele próprio acabará crucificado como um dos maus ladrões.
É pena, porque uma criança, por mais terrível que seja, não merece tal condenação.
O "gólgota" começou a ser escalado. Mas o Primeiro Ministro não muda.
Faz-me lembrar os meus filhos (salvos sejam) quando tinham 5 ou 6 anos de idade.
- Pai, quero isto. - Não, meu filho, não pode ser; o pai não tem dinheiro para comprar essas coisas.
- Mas eu quero! - retorquiam.
Um dia dei-lhes o que me pediam. Mas o dinheiro desses gastos faltou para o que era essencial.
Só quando se deram conta da situação compreenderam a parcimónia dos meus gastos. Mas aprenderam que não basta querer; é preciso que se possa.
Socrates nunca aprendeu. E continuamos a vê-lo com desejos megalómanos impossíveis de serem satisfeitos sem prejuizo do povo.
Pensará que alguma ponte, TGV ou mesmo Magalhães trarão algum dia, às gerações futuras, saudosas recordações de si?
Coitado de Sócrates!
SEU LEITOR

Anónimo disse...

Para lém dos Xicos Espertos, surgem os Xicos Moralistas. Que bem.
Os meninos com 5 anos já sabem o que lhes faz falta pela diferente de terem adquirido o que não lhes fazia falta nenhuma. Maravilhoso!

Anónimo disse...

Este não entendeu nada do que disse o anterior comentador. Deve ser algum Cirineu que se apronta para ajudar o P.M.
O pior é se, no final, é ele que fica crucificado, como o outro.
CIDADÃO ATENTO

Anónimo disse...

Este, além de não ter entendido nada do que escreveu o anterior comentador, parece que se apronta para defender o P. M.
Deve ser algum Cirineu... O pior é se, no final, é ele que fica na cruz, como o outro.
CIDADÃO ATENTO