Há vinte anos que o país em vez de apostar em infra-estruturas de transportes (rodoviárias, ferroviárias e portuárias) para tornar mais céleres e baratas as nossas exportações apostou-se em infra-estruturas vocacionadas para o lazer. Como se isso não bastasse tornamos as auto-estradas gratuitas enquanto os portos são ineficazes e caros.
Os governos e, principalmente, os autarcas desdobram-se em iniciativas para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar dos nossos reformados, os lares são modernos e confortáveis enquanto há escolas primárias onde se bate o dente, os centros de dia têm excelentes salas de computadores, tão boas ou melhores do que as de muitas universidades, os idosos são levados a passear enquanto as escolas não têm dinheiro para visitas de estudo.
Os governos desdobraram-se em iniciativas para facilitar e maximizar os níveis das reformas transformando-as em direitos adquiridos por quem trabalhou uma vida. Em contrapartida os mais jovens são obrigados a trabalhar sem direitos, em condições precárias e, não raras vezes, a emigrar porque os que têm muitos direitos adquiridos lhes deixam um país onde a palavra direitos está cada vez mais em desuso.
Os bancos enriqueceram a vender crédito ao consumo e a cobrar taxas e comissões aos clientes levando o endividamento externo a níveis absurdos. Agora ouço alguns grandes banqueiros defenderem a perda de rendimentos e de direitos daqueles que foram os seus clientes e o fim dos grandes projectos públicos para que possam continuar a ter lucros elevados orientando o crédito para o consumo.
Os nossos empresários desdobram-se em discursos de preocupação com as fracas expectativas de crescimento económico ao mesmo tempo que fazem múltiplas promessas de criação de emprego, mas com uma condição, a de poderem despedir.
O país precisa de exportar mas aposta-se no consumo, precisa de poupar mas aposta-se na despesa pública, precisa de aumentar a produtividade mas aposta-se em políticas de estímulo à preguiça, precisa de trabalhadores qualificados mas aposta-se em procedimentos de facilitação na avaliação escolar, precisa de técnicos qualificados mas aposta em cursos de direito, precisa de empresas mas cria mecanismos de enriquecimento na prestação de serviços.
O país carece de uma reflexão profunda em torno do problema de desenvolvimento, tarefa quase impossível pois os políticos confundem desenvolvimento com resultados eleitorais, os grupos corporativos que dominam o debate público estão mais apostados no enriquecimento próprio do que nos interesses do país e os eleitores cada vez mais idosos usam o voto para assegurar a manutenção dos direitos adquiridos. O resultado é um país que entra num beco sem saída e que recusa o futuro aos mais jovens aquilo e, ainda por cima, lhes exige e obriga a pagar os excessos e oportunismo dos que os antecederam.