09 janeiro, 2011

Cavaco Silva, o mesmo homem que…

Por: José Niza
O homem que em 23 de Dezembro afirmou na SIC "Sou um Presidente que nunca entrou em nenhuma jogada politico-partidária", é o mesmo homem que, no Verão de 2009, deu luz verde a um seu assessor para desencadear no jornal Público a "jogada politico-partidária" mais torpe, mais ignóbil, mais reles, mais suja e mais cobarde que alguma vez se viu desde o 25 de Abril. Ao autorizar que um membro do seu gabinete fosse "vender" ao Público a inventona de que o Palácio de Belém e o próprio Presidente estavam a ser escutados pelo Governo – e ao fazer isto em plena campanha eleitoral para as legislativas em que a sua amiga e ex-ministra Manuela Ferreira Leite concorria contra Sócrates – o Presidente lançou um órgão de soberania contra outro órgão de soberania. E até provocou estragos imediatos. Não fora a intervenção do Diário de Notícias que, com documentos, desmontou toda a tramóia, talvez o feitiço não se tivesse virado contra o feiticeiro.
O homem que em todas as ocasiões e entrevistas se auto-elogia como se fosse um Nobel da Economia, é o mesmo homem que – ainda alguém se lembra? – foi ministro das Finanças de Sá Carneiro e da AD. E o que então aconteceu? A sua sapiência e governação financeira foram tais e tantas que, quando a AD, em 1983, perdeu as eleições para o PS, a primeira coisa que Mário Soares e Ernâni Lopes tiveram de fazer foi chamar o FMI.
O homem que, enquanto Primeiro Ministro, negou à viúva e aos filhos de Salgueiro Maia uma pensão de alimentos, é o mesmo homem que, nessa mesma ocasião, atribuíu pensões a dois esbirros da PIDE. E é também o mesmo homem que nunca, num 25 de Abril, alguém viu com um cravo vermelho na lapela.
O homem que, por eleitoralismo, jura defender o Estado Social, o Serviço Nacional de Saúde e o Ensino Público para todos os Portugueses, é o mesmo homem que, há dias, num debate com Manuel Alegre, reduziu o SNS ao universo das Misericórdias e a Educação Pública a pouco mais do que aos colégios privados.
O homem que há anos foi convidado para comprar acções à SLN – Sociedade Lusa de Negócios, dona do BPN – as quais, tempos depois, esta benemérita Sociedade lhe comprou com uma valorização de 140%, é o mesmo homem que não percebeu que, num banco a caminho da falência, não podiam haver rentabilidades tão altas. A não ser que fossem só para alguns. O que foi o caso.
O homem que há dias na televisão condenou com grande violência a actual administração do BPN por não ter conseguido ainda recuperar as finanças do falido banco, é o mesmo homem que, até aos dias de hoje, não teve sequer uma única palavra para condenar os seus amigos do BPN e ex-ministros – a começar por Oliveira Costa, fundador do banco – pela gestão criminosa que levou a um buraco de 5 mil milhões de euros que todos vamos ter de pagar. E é também o mesmo homem que – sabe-se lá porquê – até fez um deles Conselheiro de Estado.
Em países com uma ética democrática mais exigente – como são, por exemplo, os Estados Unidos – o homem de que vos falo não chegaria sequer a candidato à Presidência.
Numa recente intervenção televisiva – e insultando todos aqueles que se permitem criticá-lo, nos quais eu me incluo – proclamou: "Para serem mais honestos do que eu têm de nascer duas vezes!"!
Pois – como "quem não se sente não é filho de boa gente" – eu também lhe digo que, para ser mais honesto do que eu, terá de nascer, pelo menos, umas quatro vezes.

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