02 dezembro, 2014

Mar-- há mar e mar



Mario Soares por Clara Ferreira Alves (Expresso)

“Sou um cidadão especial”
Mário Soares faz, no dia 7 de dezembro, 90 anos. Na mesma semana são publicados em livro os escritos do exílio em Paris, de 1970 a 1974, parte dos extensos diários e registos que mantém desde que iniciou a sua vida política aos 14 anos. Tem tudo guardado, tudo o que ele escreveu e lhe escreveram
Esta conversa à mesa foi escrita antes de rebentar o caso das detenção e suspeitas de corrupção de Sócrates e o seu cortejo de pequenos e grandes escândalos. A conversa vinha a propósito dos 90 anos de Mário Soares, no dia 7 de dezembro, e a publicação esta quinta-feira de um livro de escritos políticos do tempo do exílio de Paris, “Cartas e Intervenções Políticas no Exílio”. Posteriormente, pedi-lhe que comentasse o caso de Sócrates, quando não se sabiam ainda as acusações ou outras peças processuais senão as das fugas de informação. Mário Soares respondeu: “Não vou por agora dizer mais nada. Disse o que tinha a dizer no ‘Diário de Notícias’”. Onde escreveu: “O que foi feito a um ex-primeiro-ministro com enorme aparato lesivo do segredo de Justiça, não pode passar em vão”. E, rematando a nossa segunda conversa: “Estou, como calcula, muito maldisposto com tudo isto e extenuado”.
Fica irritado quando as pessoas lhe dizem que tomaram elas chegar aos 90 anos assim e que ele está muito bem. “Pois, mas quem tem 90 anos sou eu e não é fácil. Não gosto nada de ter 90 anos”. Esta a máxima queixa física que se lhe ouve. Pergunto-lhe se não está a ficar pessimista com o estado do país, ele que sempre foi um otimista. “Pessimista? Nada! O estado do país é uma infâmia! Mas há de mudar, os portugueses são ótimos!” Sempre lhe ouvi esta frase, “os portugueses são ótimos”, às vezes transformada em “os nossos jovens são ótimos”. Ouvi-a muitas vezes quando fizemos um programa para a RTP chamado “O Caminho Faz-se Caminhando”, a frase do poeta espanhol Antonio Machado (da geração de 27) que ele tanto gostava de citar na política quando ainda era um político ativo.
Almoçámos num dos seus restaurantes favoritos, um restaurante popular. Bebe um moscatel como aperitivo enquanto espera, porque chega sempre antes de toda a gente, incrivelmente pontual como foi toda a vida. E, dantes, incrivelmente maldisposto quando os outros não respeitavam a pontualidade. Hoje, está mais calmo em matéria de horários. Escolhe uma costeleta com batata frita e grelos salteados, com uma sopa. “A primeira coisa que vou comer é uma sopa”. Há uns anos, lembro-me de um repasto num restaurante fino no Douro, e de outro repasto finíssimo em Espanha, em que a cozinha tendia para o molecular, versão copiada do género inventado por Ferran Adrià. Soares resmungou o tempo todo, suspirando que aquele estilo não era o seu, clamando por um prato vital, cheio, tradicional. Em casa, mandava sempre fazer uns petiscos de que gostava, como pataniscas de bacalhau ou peixinhos da horta.
É por isto que gosta deste restaurante, lá se diz na entrada Comida Tradicional Portuguesa. “A melhor comida do mundo”, na opinião dele. Meia garrafa de vinho branco gelado, alentejano, porque eu vou comer garoupa. “Bebemos o que quiser, eu prefiro branco, mas se gosta mais de tinto...” Mete-se com o empregado, “o baiano”, “um grande amigo meu”, porque os brasileiros lhe lembram um dos seus países queridos, o Brasil. Agarra o braço do “baiano”, que é do interior da Baía e já sabe os gostos dele, adianta serviço. “O senhor doutor costuma comer a sopa, vou trazer. “Sopa de rúcula? O que é isso, rúcula? Sopa de rúcula? Nunca ouvi falar! É bom?” Todos o tratam com respeito e com afeto e de outras mesas chegam pessoas a cumprimentá-lo como se o conhecessem de sempre. “Este não conheço de lado nenhum, mas ele parece que me conhece a mim, é natural”. O baiano convence-o de que a sopa de rúcula é excelente. “Venha a sopa de rúcula, que raio de nome!”

Uma vida cheia
Anda nisto, a viagem da vida, há nove décadas. Com muito gosto. Fundador do Partido Socialista. Fundador, ou um dos pais fundadores, da democracia portuguesa nascida da revolução de abril. Foi sempre um europeísta e um internacionalista. E sempre reclamou o título de patriota. “Como é que se pode não ser patriota quando se gosta de Portugal?” Sempre lhe ouvi estas palavras.
Já não viaja tanto como dantes, desde a doença (uma encefalite, infeção aguda do cérebro) e tem pena. Nunca foi a Timor, o único lugar onde se fala português onde não foi. “E agora já não irei”. A Fundação Mário Soares alberga um arquivo de Timor. Nem vai já a Paris, para onde viajava todos os outonos. Paris sempre foi a sua cidade, a do exílio, das memórias, das amizades políticas, da cultura francesa, das livrarias donde regressava carregado de sacos, dos jornais e revistas de cujos diretores era amigo (como o do “Nouvel Observateur”, Jean Daniel) dos bouquinistes do Sena e dos bons restaurantes e vinhos. De “mon ami Mitterrand”. Depois da doença foi lá “por causa de um livro que lá publiquei em francês. E antes disso, fui porque sou presidente de um prémio que atribuímos ao Presidente da República ainda ele não era Presidente, o Hollande. Ele pediu-me para ir entregar-lhe o prémio e eu fui. Estava melhor do que estou hoje. Correu lindamente”.
Hoje, Portugal não existe. Se for de Bragança ao Algarve a pé NÃO encontra ninguém. Não há terras cultivadas, populações, vida. Estes gajos estão a destruir o nosso país, estão a vender tudo, só falta a TAP
Que avaliação faz do mandato de François Hollande, que é geralmente considerado uma desgraça? “Eu digo o mesmo. Não estou contente com o mandato do Hollande”. Obama é o seu favorito, “uma grande figura, aquele Congresso de direita não o deixa governar, são antidemocratas”. “O Hollande é um socialista, eu conheci-o no tempo do Mitterrand, ele levava a pasta do Mitterrand”. Quando lhe digo que Hollande não foi treinado por Mitterrand, um grande sedutor, para lidar elegantemente com as histórias de mulheres, e que a história de alcova em que se meteu é lamentável e deu cabo dele, Soares acena com a cabeça. “Pode ter dado cabo dele mas também deu cabo dela. Uma mulher furiosa, nada mais”. Haveria gente mais interessante para ter ficado com o trono do Partido Socialista? “Havia, a filha do Delors, Martine Aubry. Ativíssima. Não sei se ela é candidata ao que quer que seja, mas é uma socialista autêntica”. E Manuel Valls, o primeiro-ministro francês, que sugeriu retirar a palavra Socialista de Partido Socialista? “Uma besta! Não podia continuar como primeiro-ministro. Eu escrevi um artigo nessa altura sobre isso em que dizia que aquele tipo devia ir para a rua imediatamente. Um Presidente que é eleito como socialista e que tem um primeiro-ministro que diz que quer deitar o socialismo fora! Eu demitia-o, evidentemente. É infeto que Hollande o mantenha”.

Socialismo de boa saúde

Será o socialismo uma relíquia? A verdade é que existe uma crise grave dos partidos socialistas na Europa. “Nem em todos. O futuro é socialista. Porque este estado de coisas, estes regimes em que os tipos de direita fazem tudo o que querem às pessoas, não se pode manter”. No caso de Espanha, abre uma exceção de carácter para Mariano Rajoy. “Não acho que seja um vigarista. Pode ser um homem pouco inteligente, se quiser, mas tem a vantagem de ser galego e os galegos são amigos de Portugal”. Quando lhe digo que em Espanha o PSOE não tem já um Felipe González, ele responde que não, mas “tem um tipo extraordinário e um grande socialista, o Pedro Sánchez. Tenho a melhor opinião dele”. Não acha nada que o socialismo vá acabar, pelo contrário. “O socialismo é fundamental para que a União Europeia continue. A UE foi feita com dois partidos, o Democrata-Cristão e o Socialista. E a União vai continuar”. A posição alemã e a intransigência quanto ao défice, com os planos de austeridade, são “coisas que será bom discutir à distância, quando o tempo passar e se vir o resultado. Eu não gostaria de calçar os sapatos da sra. Merkel porque a Alemanha está em decadência. O que se passa na Alemanha é o contrário do crescimento económico”. Não estará o capitalismo numa fase diferente, mais avançada, tecnológica, academicamente obscura, do que no tempo em que ele era o chefe do Partido Socialista? O empreendedorismo e a livre iniciativa como inimigos declarados do contrato social? “Não! Você acha que há livre iniciativa num Governo como o português ou o espanhol?” Bom, eu quero dizer com isto iniciativa privada. “Ah! Isso é uma coisa diferente! Ah! Muito diferente! Nada de livre”. 

“Pessimista? Nada! O estado do país é uma infâmia! Mas há de mudar, os portugueses são ótimos!”
Os socialistas ou se reformam ou morrem, é a tese da direita, e não só da direita. “Coitada da direita! É preciso acabar com a direita! É isso. Já lhe disse que quem fez a Europa, a União Europeia, foi o socialismo democrático e a democracia cristã. O que existem agora são partidos que historicamente não fazem sentido”.
Quando lhe pergunto qual é que ele acha que é o pior governo da Europa, com exclusão da Hungria, que é um caso que roça a autocracia, ele diz que “o Governo português é muito mau, é péssimo!” Também não modera a crítica ao Presidente da República, que acha irremediavelmente comprometido com o caso BPN. “O Eanes, o Sampaio e eu nunca fomos assim”. O Presidente já disse que não haveria eleições antecipadas, ponto final. Ou seja, mais um ano deste Governo? “Se calhar... ele o disse”.
Digo-lhe que quando ele usa palavras mais violentas ou desbragadas para criticar certos políticos de direita, a reação é acusá-lo de estar muito velho e não saber o que diz. “Bom, a verdade é que eu estou realmente muito velho!” Muita gente está a ser atacada por delito de velhice e não perceber o mundo em que vivemos hoje. “Já reparei nisso. O ataque aos velhos. Estão no seu direito. Um dia também vão ser velhos e não é nada fácil!” 

Orgulho na Fundação
Fica enervado quando lhe digo que é atacado por causa da Fundação Mário Soares, que é acusado de ter atacado o Governo quando lhe retiraram parte do subsídio público da Fundação e diz-me que nunca foi nada disso e que a Fundação não depende disso. “Fiz a Fundação com o dinheiro, as doações que me deram para uma campanha eleitoral, e que não usei. Não gastei. Fui [ter com os doadores] para o devolver, está aqui o vosso dinheiro, mas eles não o quiseram de volta porque já estava nas escritas deles. Ora eu não ia ficar com o dinheiro. Disse que ia criar uma Fundação, desde que eles assim o entendessem e ficassem membros fundadores da Fundação. A Fundação nunca gastou esse dinheiro com que se fundou, nunca tocámos nesse dinheiro. Se tivermos amanhã uma dificuldade de dinheiro, esse dinheiro está lá, faz parte da Fundação. A Fundação não depende de nenhum Governo. Agora se quer falar disso a sério, tem de me deixar contar a história toda, não uma parte dela. Estou muito orgulhoso do trabalho da Fundação”. Anos atrás, lembro-me de o ouvir dizer que todo o dinheiro que recolhia do intenso trabalho quando se retirou da política, nomeadamente livros e programas de televisão que fez, investiu na Fundação a que chamava “uma amante muito cara”. Diz que não se lembra de me dizer isso e que a história da Fundação não pode ser assim contada, num restaurante.

Um Presidente que é eleito como socialista e que tem um primeiro-ministro que diz que quer deitar o socialismo fora! Eu demitia-o, evidentemente. É infeto que Hollande o mantenha” [Sobre Manuel Valls]
O mau feitio não mudou com os anos e o bom feito também não. Nunca foi homem de fundos rancores ou ódios. “Nunca tive mau feitio, sempre considerei os tipos com qualidade, mesmo quando não eram meus amigos ou eram meus inimigos no tempo em que eu tinha funções políticas. Qualidade é o que me interessa. O Eanes é um tipo de qualidade, como o Sá Carneiro era”. Compara a postura deles com a de um membro do Governo sobre o qual conta uma história pouco exemplar que se passou com ele noutro restaurante. Pergunto-lhe se posso publicar a história com nomes e ele diz que não. “Pode mas não deve. Já tenho demasiadas coisas em cima de mim”. Falo-lhe das coisas terríveis que escrevem sobre ele na internet, do falso e difamatório texto com a minha assinatura posto a circular todos os meses (desde há anos) e em que ele é atacado de uma forma soez e canalha. Truques de vingança e propaganda que não existiam no tempo em que ele era político. “A internet? Não leio. Não quero saber. Você quer que eu leia a internet? Nunca me preocupei com o que dizem sobre mim e não vou agora começar. O diz que disse não tem nenhum valor! Todos os dias sou confrontado com senhoras e cavalheiros que me vêm abraçar e dizer ‘livre-nos dessa malandragem!’ Todos os dias!”

A ENCEFALITE

“Estou numa fase da minha vida que é a última. Vou fazer 90 anos. Tive uma encefalite que me enfraqueceu”. Uma infeção geralmente viral a que poucos sobrevivem e muitos menos na idade dele. O que assinala a sua robustez. “Tenho um bom coração, tudo aqui dentro do peito está em ótimas condições, impecável. Agora as pernas... as pernas chateiam-me. Fora as outras coisas”. Cada dia é um ato de heroísmo naquela idade? “Não! Felizmente não. Os médicos sabem tomar conta de um tipo, sabem o que fazem. Quem me salvou foi o António Damásio, sou muito amigo dele. Houve duas pessoas que me salvaram, a primeira foi a Maria de Sousa, a que eu chamo ‘a sábia’ e que por acaso foi a minha casa naquele dia tomar o pequeno-almoço, vinda do Porto. Ela é como se fosse família. Disseram-lhe que eu tinha ido para o hospital e ela foi lá ter a correr. Eu estava em coma e ela entrou em contacto com o Damásio”. 
Digo-lhe que a família dele, a mulher e os filhos, praticamente acamparam nos cuidados intensivos e nunca o deixaram sozinho, quase me fazendo lembrar as famílias de ciganos que acampam no hospital para nunca abandonarem um dos seus. A lealdade da tribo. “A minha família, claro. Reconciliei-me agora com a minha filha”. Os rumores diziam que ele estava zangado com o filho, João, por causa dos apoios a Seguro e Costa e ele diz: “Fiz as pazes com a minha filha, com quem me tinha zangado por causa de certos cuidados médicos que tenho de ter e o meu filho foi o intermediário. Não estávamos zangados, nunca estive zangado com o João! A relação com a família é ótima, como sempre foi. É a família, e podem dizer de nós o que quiserem”.
Sempre considerei os tipos com qualidade, mesmo quando eram meus Inimigos. Qualidade é o que me interessa. O Eanes é um tipo de qualidade, como o Sá Carneiro era


É extraordinário, dada a intriga e críticas violentas que correm à simples menção do nome Mário Soares, que nesta idade ele ainda seja considerado um inimigo político. “Sou o gajo que lhes atira mais às trombas, que quer você? E não digo mais nada, não quero falar mais de política. Porque sou um cidadão especial”. Especial porquê? “Pelos cargos que desempenhei e pelas coisas que fiz. Sou um cidadão livre mas especial. Primeiro, desde os 14 anos que sou político. Segundo, desde sempre escrevi o que quis. E registei tudo aquilo que me disseram. Registei tudo. Tenho tudo escrito desde os meus 14 anos. Se quiser dar-me a honra de visitar a minha biblioteca para ver o que está guardado verá que está lá tudo o que escrevi desde os 14 anos, o que publiquei e não publiquei e tudo o que me responderam e disseram”. A biblioteca, que ele arrumou há poucos anos no andar de cima da casa do Campo Grande, comprado para o efeito, é um verdadeiro arquivo da História de Portugal. Visitei-a quando Mário Soares andava a arrumá-la, empoleirado, ordenando temas e datas e mostrando os livros, as primeiras edições, com orgulho. Tem lá o seu escritório com vista para terraço arranjado com plantas pelo amigo Gonçalo Ribeiro Telles. Nunca vi estes registos, estes diários, e pergunto-lhe se não deveriam estar na Fundação Mário Soares ou mesmo, um dia, na Biblioteca Nacional. “Não estão, não estão nem num lado nem noutro. Estão na biblioteca da minha casa. E saiu na quinta-feira, como sabe, um livro meu com tudo o que escrevi entre 1970 e 1974, esses registos”. “Cartas e Intervenções Políticas no Exílio”, editado na Temas e Debates pela sua velha amiga e editora Guilhermina Gomes, a diretora editorial. Estes são os anos em que estava em Paris. “Está lá tudo, nestes escritos, porque eu falei com toda a gente. É História. E tenho livros de toda a gente. Tudo o que me escreveram e disseram e tudo o que lhes disse e escrevi está lá”. Estas são as verdadeiras ‘Memórias’, as que se pensava que nunca tinha tido tempo para escrever.

“Estou, como calcula, muito maldisposto com tudo isto e extenuado” [Sobre o Caso Sócrates]

Uma das grandes influências na sua formação política e republicana foi do pai, João Soares. Mas houve outros: “O Mário de Azevedo Gomes, o Hélder Ribeiro, o António Sérgio, talvez tivessem ainda mais importância do que o meu pai. Todos contribuíram”. E Álvaro Cunhal? “Numa certa altura, sim, depois deixou de ter e depois tive de o combater. Sou muito diferente do Cunhal”. Cunhal era ou não uma grande figura? “Não tão grande como dizem, era um leninista”. Entre a gente que conheceu nos verdes anos, e nos maduros, os políticos nacionais e internacionais com quem privou, do amigo Mitterrand ao amigo Willy Brandt, e a gente que vê hoje deslizar pela política, nota uma grande diferença. Tem saudades desse tempo? “Não”. Soares nunca quer falar do passado e detesta a nostalgia. O futuro sempre lhe interessou mais. “E assim continuo, o que me importa e interessa é o futuro”. Na idade dele, seria de esperar que o futuro lhe importasse menos do que a memória. É uma forma de altruísmo pensar o futuro onde não se vai estar. Soares foi dos primeiros a interessar-se pelo estado do planeta, a sua preservação, e a preservação dos mares como património da Humanidade. No que foi ajudado pelo seu grande amigo, o cientista Mário Ruivo, uma autoridade em oceanos. Foi um ecologista quando ainda não se falava em alterações climáticas ou a ecologia era confundida com manobras comunistas de distração e manipulação. Verde por fora vermelho por dentro era o grito contra a ecologia. “Sempre me preocupei com o planeta, você não imagina o estado em que está este planeta! É fundamental salvar os oceanos e não estamos a fazê-lo, fartei-me de organizar coisas para isso. E o ano passado, com as marés de inverno, o litoral português desapareceu. A areia foi-se e este ano vai ser pior. É preciso impedir esta catástrofe”.
E está confiante no futuro? Ou numa mudança política em Portugal? “Dentro de um ano este Presidente deixa de ser importante, o que não é pouco”.


Uma das libertações da idade é que ele, que nunca foi paciente, pode dar inteira liberdade à sua impaciência. “Cada vez tenho menos paciência para certas coisas”.

Admiração por Obama
Nesta altura da refeição ele mandaria vir, in illo tempore, um charuto. Ou fumaria, uns anos antes disso, um cigarro. O cigarro nunca pareceu nele um adereço natural. “Nem cigarro nem charuto, agora, e nunca engoli o fumo”. Digo que está como o Presidente Bill Clinton, que diz que experimentou marijuana mas nunca engoliu. Mário Soares gosta de Bill Clinton, que conheceu, e da “madame Clinton”. “Mas Obama é o meu favorito, sem dúvida. Um tipo de uma categoria excecional”. A Administração Obama perdeu esta eleição intercalar. “Ele não perdeu as eleições, foram os democratas que perderam as eleições, o que é um bocado diferente”. Regresso às derrotas dos partidos socialistas e sociais-democratas, que parecem nunca se terem recomposto da queda do Muro. “Não existem, ou melhor, não têm existido durante este período, mas vão ter de existir ou a União Europeia vai para o charco”. Acha que existe uma hipótese de Marine Le Pen ganhar as presidenciais em França? “Existe, mas espero que não ganhe”. Não acha que seja o fim da União Europeia se Le Pen ganhar, e aprecia Jean-Claude Juncker, está convicto de que ele segurará. “Conheço o Juncker muito bem, acho que ele impedirá a União Europeia de se partir”. E se o Reino Unido quiser sair? “Oxalá, não tem para onde ir”. E a ligação com a América, não será tudo o que precisam? “Os ingleses nunca deixaram que os americanos fizessem parte da Commonwealth, nunca criaram esse espaço como nós fizemos como espaço da lusofonia incluindo o Brasil. E nunca deixaram porque têm medo dos americanos”.


O Brasil tem recursos económicos que não temos, e no caso da PT não demonstrou grande solidariedade lusófona. “Os brasileiros têm grandes problemas, estão aflitíssimos. Isso da PT foi tudo uma estupidez. O modo como o Governo resolveu destruir o aparelho do BES prejudicou tudo o resto, não perceberam como o grupo era importante para a economia e deram cabo de tudo. E hoje toda a gente ficou danada, foi tudo mal resolvido. Atiraram tudo abaixo sem nenhuma vantagem para Portugal”. Mas os administradores do BES não cometeram demasiados erros e trafulhices? “Claro que cometeram, e toda a gente parece que sabia disso e não se importava”.


A situação de Portugal incomoda-o. A venda de ativos e centros de decisão nacionais, a alienação de bens a preços de saldo. “Hoje, Portugal não existe. Se for de Bragança ao Algarve a pé não encontra ninguém. Não há terras cultivadas, populações, vida. Estes gajos estão a destruir o nosso país, estão a vender tudo, só falta a TAP”. Inconsciência do Governo? Aperto? Ideologia? “É também inconsciência. Falta de experiência”. Atravessamos um momento de algum desespero? “Algum é favor. Desespero mesmo”. Há um certo medo que faz recordar o marcelismo, o fim do regime. “O Caetano? O Caetano era outra coisa, não era como estes tipos, pode crer”.
Não tenho amargura. O que me interessa é o futuro e no futuro o socialismo vai regressar, não tenho nenhuma dúvida. Acha que os bandidos e os mercados NÃO vão mandar nisto para sempre?
Nesta altura, Bagão Félix, que estava a almoçar numa mesa do mesmo restaurante, aproxima-se para cumprimentar “o senhor doutor”. E cumprimenta-o pela excelente forma. “Na minha idade nunca se está em grande forma. Tive uma encefalite que me dá grandes lapsos de memória mas o que é interessante é que resisti quando toda a gente dizia que eu ia morrer!” Bagão Félix diz que o pai, com 94 anos, acaba de renovar a carta de condução. “Eu isso não faço, a partir dos 80 anos deixei de beber whisky e bebidas assim, deixei de fumar, deixei de guiar”. Mário Soares era um péssimo condutor, há que dizê-lo, e um passageiro apressado e apreciador de velocidade. A mecânica nunca foi o seu forte.

Sem rancores

Estamos no fim do repasto, sem doces nem café. Pergunto-lhe se está um bocado amargurado com a pátria, se estas crises lhe roem os anos que lhe restam. “Nada! Não tenho amargura. O que me interessa é o futuro e no futuro o socialismo vai regressar, não tenho nenhuma dúvida. Acha que os bandidos e os mercados não vão mandar nisto para sempre?” Respondo que não me parece tão certo o triunfo do socialismo. Ou dos ecologistas. A China e os EUA, os dois maiores poluidores reunidos em cimeira recente, não vão deixar de poluir o planeta, e a Índia recusa-se a deixar de usar o carvão. Ou seja, o capitalismo nascente e o velho capitalismo americano não estão dispostos a deixar de ganhar dinheiro, como compete ao capitalismo. E a Rússia? “O Putin, ex-KGB, é um filho da mãe, muito diferente de Gorbatchov”. E no Médio Oriente “nunca houve tantas guerras como há hoje”. Das personagens políticas com as quais se correspondeu e conheceu e de quem foi amigo, destaca François Mitterrand, “um grande intelectual e amigo”, Willy Brandt e Helmut Schmidt. “Estes, sim, eram grandes políticos alemães”.
Vai continuar a escrever no “Diário de Notícias”, mas decidiu que não se mete mais em política. “Já tenho chatices que me cheguem, tenho de cuidar dos livros”. Mas que é que lhe podem fazer? Que “chatices” pode vir a ter com os seus inimigos? Digo-lhe, a brincar, que não o podem deportar para São Tomé ou exilar em Paris. “Não, não podem, mas se pudessem neste momento não me dava jeito. Tenho de estar cá, em Portugal”.

(by Clara Ferreira Alves in Expresso)

Anónimos

São milhares os comentários.
Dos poasts das redes sociais aos escritos de opinião, pelo vários jornais e revistas.
Não há anónimo que se preze de não emitir opinião sobre um qualquer tema, tenha dele conhecimento ou não. Verificam-se respostas, comentários e críticas as mais dispares em qualquer local de Internet.
Claro que o anonimato serve e bem para se dizerem as maiores barbaridades sorte um qualquer tema ou sobre a idoneidade moral e cívica de um qualquer cidadão.
A impunidade intelectual grassa aos milhões de letras por toda a Internet.
Alguma dessa impunidade, cheira a ser paga e escrita com interesses bem endereçados.
Não há quem lhe ponha cobro ou queira por cobro. Interessa para a venda do "produto", um e outro

Portas - O Mestre da demagogia

Agora... não.  Portas só engana quem quer e gosta de ser enganado

O presidente do CDS-PP, Paulo Portas, irá apresentar uma proposta no próximo Conselho Nacional para a restauração do feriado de 1 de Dezembro, que foi suspenso há dois anos, confirmou hoje à Lusa o líder parlamentar centrista, Nuno Magalhães.

Francisco Assis - assim não

No Congresso não falaram contra, quando podiam ter feito e agora é que falam em cada esquina?

Sócrates

A RTP teve medo de disponibilizar o teor completo da carta que recebeu?

Palavras da carta:  “É certo que é difícil eu falar. Estou preso. Mas não lhes faço o favor de ficar calado”,

Tomás Vasques - explica e bem

O segredo de justiça é um instrumento concebido para proteger os arguidos que se transformou numa arma mortífera contra os direitos de quem devia proteger
Não sei - ninguém sabe, neste momento - se o ex-secretário geral do Partido Socialista e ex-primeiro-ministro é culpado ou inocente dos crimes que o juiz Carlos Alexandre lhe imputou, ainda sob a forma de indícios. Nem a própria prisão preventiva em que se encontra José Sócrates está consolidada. Nos termos da lei, essa medida de coação é ainda questionável em instâncias superiores. Ou seja, para abreviar, neste caso (como em relação a qualquer outro caso de qualquer cidadão, na mesma situação), a justiça ainda não cumpriu na plenitude a sua missão: investigar, acusar e julgar até à última instância. Até que isso aconteça muita água vai correr debaixo das pontes.
O que este caso trouxe à tona de água, tanto ou mais que qualquer outro anterior, sobretudo pela particular contaminação política que o envolve, foi, em primeiro lugar, que o "segredo de justiça", consagrado na lei, é um instrumento que, concebido para proteger os arguidos, se transformou no seu contrário: é uma arma mortífera contra os direitos de quem devia proteger. Em segundo lugar, constatado que o "segredo de justiça" já não existe, e é usado através da comunicação social selectivamente, de modo a produzir uma acusação e uma condenação antecipadas na opinião pública, a presunção de inocência passa a ser letra morta e substituída pelo seu inverso: a presunção de culpa até prova em contrário. Finalmente, em terceiro lugar, a condenação antecipada, no tempo mediático e não no tempo e nos trâmites judiciais, sem contraditório, provoca, inevitavelmente, uma inversão do ónus da prova: passa a caber ao arguido, já publicamente acusado e condenado, demonstrar que está inocente, libertando a justiça da tarefa de provar a sua culpa. Ao contrário do que muita gente por aí diz, a perversão de princípios basilares de um Estado de direito não fortalece a democracia. Esta empobrece sempre que deita pela borda fora as traves mestras que lhe conferiram o estatuto de "ser o pior regime com excepção de todos os outros".
Há quem defenda este desregulamento das regras basilares das sociedades democráticas argumentando que, em primeiro lugar, na sociedade da informação e do espectáculo dos nossos dias, é impossível manter-se o "segredo de justiça" e, em segundo lugar, este julgamento e condenação antecipados não são judiciais mas políticos. Fracos argumentos para a destruição de bens democráticos tão preciosos.
Quanto ao "segredo de justiça" basta lembrar, neste caso mais recente, que na noite de sexta-feira, 21 de Novembro, não havia a mais insignificante notícia jornalística sobre a detenção, no dia anterior, de três indivíduos, um empresário, um motorista e um advogado (todos relacionados com José Sócrates), por suspeitas de crimes de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal, bem como a visita policial a casa do filho e da ex- -mulher do ex-primeiro-ministro. Como acredito que a comunicação social teria divulgado essa notícia, no caso de ela ter chegado ao conhecimento das redacções, presumo naturalmente que as "gargantas fundas" não quiseram abrir a torneira, o que significa que a torneira, se se quiser, no respeito pela lei, pode ficar fechada.
Quanto aos julgamentos políticos, é melhor avisar essa gente que não decorrem da sua vontade e são feitos em eleições. José Sócrates, e o governo do Partido Socialista, foram julgados politicamente nas eleições de Junho de 2011. Pretender um "julgamento político" fora de eleições, a partir de uma condenação mediática, assenta em sucessivas violações do segredo de justiça, do princípio da presunção de inocência, da inversão do ónus da prova, do contraditório e à margem da pirâmide da justiça, conduz-nos a uma democracia apodrecida, sem substância. Uma democracia à mercê de todos os apetites antidemocráticos

01 dezembro, 2014

Ribeira de Ilhas - Ericeira




Centro Português para a Cooperação

Nada de estranho!

"Não há rasto dos documentos relacionados com o Centro Português para a Cooperação – Organização Não-Governamental criada por Passos Coelho – no Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social. A notícia é avançada  pelo jornal Público, após um esclarecimento daquele Ministério"

Marcelo Rebelo de Sousa não se cala

Haverá sempre quem goste de ouvir um fala barato.

Não passa de um pretendente a Presidência da República, frustrado. Nem a Camara Municipal de Lisboa conseguiu vencer, mesmo tomando banho nas águas dos esgotos da capital.
Nos dia de hoje, com um dos seus adversários preso e sem lhe poder dar troco, mostra a sua cobardia e a sua falta de dignidade como comentador e como pessoa.
Estas consideração são inadmissíveis em alguém que pretende chegar a Belém.

"Ele é como é. Gosta de se definir como animal feroz e só morto é que se cala", começou por dizer Marcelo Rebelo de Sousa, no seu espaço de comentário semanal na TVI, acrescentando ainda que "ele não é o comum dos presos preventivos", pois quem não o deixar falar "ele vai vitimizar-se. Era previsível que isto acontecesse".
"Só está a pensar nele, como sempre o fez", continua o social-democrata, que compara o antigo primeiro-ministro a Berlusconi, por ter a certeza de que vão haver dois processos, "o jurídico e outro na praça pública".

António Costa - uma análise

“António Costa  tem sido capaz de se manter fiel à estratégia que definiu desde o momento em que anunciou a sua candidatura à liderança do PS, não cedendo à crítica sistemática daqueles – jornalistas, comentadores e partidos da oposição – que tentam impôr-lhe as suas  agendas tentando forçá-lo a dizer já qual é o seu programa de governo, o que fará com a dívida, o défice, as pensões e os salários, e emprego, o IRS, o IVA, a saúde, a educação e tudo o mais que só um irresponsável podia prometer já.” ( Vai e vem)

Passos Coelho não cumpriu o que prometeu

 

Como Passos Coelho mentindo não cumpriu

D. manuel martins - critica o modo como Sócrates foi detido

Nuno Melo, Ana Gomes Fernanada Palma e Sousa Tavares - Frases soltas

Nuno Melo - Nuno Melo esqueceu-se que estava num congresso do PS a convite deste partido e que não era o local adequado para fazer um comício.
Enfim, um palerma de um partido desesperado e de gente sem grandes princípios.

Ana Gomes - Vivemos tempos em que os valores da ética republicana e democrática parecem já não ser respeitados e muitas instituições parecem infiltradas por oportunistas e criminosos,  ao serviço de interesses particulares, contra o interesse público e nacional.

Fernanda Palma - No caso de José Sócrates, a ignorância dos fundamentos materiais das decisões de detenção e de prisão preventiva impede qualquer juízo.  Ora, tendo a defesa proclamado a ilegalidade da prisão preventiva, é urgente que as autoridades competentes nos informem dos seus fundamentos.  Só assim conheceremos o Direito que nos rege, na sua interpretação viva.

Miguel SousaTavares - Acima de tudo, porém, aquilo que não é possível aceitar, sob pena de total capitulação perante o abuso, é a habitual, mas desta vez absolutamente escabrosa, 
violação do segredo de justiça. E não me refiro aos jornais de estimação do Ministério Público ou ao 'jornalismo do botox', mas sim a um jornal como o "Público", que, citando "fonte próxima do processo", pespega com toda a acusação do MP no jornal, tratando-a como verdade definitiva e sem ter ao menos o cuidado de perguntar à fonte quais os elementos de prova concretos em que se fundava tal verdade.