Por: José Niza
1.Angela Merkel – a senhora que hoje manda na Alemanha e, de certa forma, na Europa – propôs há dias que os países mais poderosos do mundo deliberem aplicar uma taxa sobre os escandalosos lucros dos bancos. Esta é uma das formas mais justas de combater a crise mundial que, aliás, foi despoletada pela imparável e incontrolável ganância dos mercados financeiros.
Angela Merkel – ao contrário de José Sócrates – é uma líder de direita. E não é, ao contrário do que possa parecer, nem um Francisco Louçã, nem um Jerónimo de Sousa, de saias.
Só que Angela Merkel governa a Alemanha. E José Sócrates governa um país onde – não muitos anos depois do 25 de Abril – os poderes económico e financeiro são quem mais ordena.
Se a nacionalização da banca, em 1975, foi um erro que se pagou caro, a situação que hoje se vive, com o poder político condicionado ao (e pelo) poder económico, não é melhor. E, muito menos, democrática.
Por paradoxal ironia dos tempos que correm, quando há dois anos o sistema financeiro tremeu, e quase faliu, foi o poder político que nos Estados Unidos, em Portugal, ou onde quer que fosse, lhe deu a mão e os biliões de euros que isso acarretou. Uma mão solidária e salvadora na qual, mal se começaram a vislumbrar sinais de bonança, o poder financeiro mordeu com toda a força das suas maxilas.
Por causa dos seus desvarios, o sr. Madoff – um dos principais arquitectos do descalabro mundial – apanhou 150 anos de cadeia e lá está como qualquer outro presidiário a cumprir uma pena que o mandará para a sepultura antes de chegar ao fim.
Por cá, o Madoff português – chamado João Rendeiro, mais pequeno, mas não menos “imaginativo” – estoirou com o BPP e arejou o dinheiro dos seus depositantes. Menos o dele, é claro. E, em vez de estar na choldra, continua a viver faustosamente na sua mansão da Quinta Patiño, participa em debates públicos sobre economia e até já moveu acções judiciais contra o Estado Português!!!
Esta é a diferença:
- O crime, compensa!
2. Há poucos dias atrás os presidentes dos cinco maiores bancos
portugueses – a Caixa, o BES, o BCP, o Santander Totta e o BPI –
reuniram-se sob os holofotes das televisões para “reflectirem” em
conjunto sobre os malefícios da crise. Dessa “reflexão” saíram críticas ao
governo, palpites, condenações e diagnósticos.
O que não saíu deste conclave foi qualquer declaração de autocrítica, ou
mesmo um pedido de desculpas ao País pela ganância e pelos excessos e
abusos cometidos ao longo dos anos: à medida que Portugal se ia
afundando, eles iam enchendo os cofres com os biliões de euros que
foram sugando aos portugueses.
São estes bancos e são estes senhores que – ao mesmo tempo que vão
“comprar” euros aos bancos estrangeiros pagando juros de 5, 6 ou 7 por
cento – oferecem aos portugueses dez vezes menos, isto é, 0,5% ao ano
por um depósito a prazo.
É assim que se estimula a poupança tão necessária à recuperação, e tão
apregoada pelo governo?
Será que os euros dos portugueses valem menos do que os do Deutche
Bank?
Ou não será que isto é um roubo consentido pelo poder político do qual
curiosamente – ou talvez não – os nossos analistas financeiros, ou os
nossos ex-ministros das finanças – a maioria dos quais a comer na
mesma gamela – não falam e, muito menos, denunciam?
Ainda há pouco tempo era frequente eu receber pelo correio – e sem os
pedir – cartões de crédito de tudo o que eram bancos. O assédio era
forte e descarado: ofereciam-me cartões e créditos para comprar casas,
automóveis, viagens, sei lá mais o quê. Até ao meu filho – nessa altura
com uns 13 ou 14 anos – mandaram um cartão de crédito de milhares de
euros para o “menino” esbanjar. E, obviamente, para o “paizinho” depois
pagar!
Será que isto, para além de imoral, não é um acto crimioso? Será que isto
não é equivalente ao “dealer” que oferece de borla cocaína a um jovem ,
até que ele fique dependente, para depois o explorar?
O que me desencanta e indigna é que o governo do meu partido
socialista claudique e ajoelhe com temor reverencial perante o poder do
dinheiro e o dos seus senhores.
Como pode alguém pretender que os portugueses compreendam e
aceitem os sacrifícios que lhes estão a impôr quando, ao lado disto, se
contemporiza com as orgias dos bancos e cada vez mais aumenta o
fosso entre os cada vez mais ricos e os cada vez mais pobres?