O tempo corre e não para.
Recordo que foi por esta altura em 1968, talvez em Setembro que o então Presidente do Conselho, terá dado um trambolhão duma cadeira de repouso e foi o inicio do fim do seu reinado como dono e senhor deste rectangulo à beira mar plantado.
Do trambolhão resultou de imediato que todas as unidades militares ficaram de imediato em prevenção rigorosa. Isto é, um estado de alerta máximo contra qualquer imprevisto que à data poderia acontecer contra aquilo que se designou rotular de Estado Novo, mas que já se encontrava tão degradado e esfarrapado que não havia fundilhos que o melhor alfaiate lhe colocasse que alterasse o misero estado em que se encontravo o tecido nacional.
Esse magnifico trambolhão, à data originou, para quem escreve estas linhas, duas coisas.
A mais imediata foi ter que ficar no quartel onde cumpria o serviço militar então, e não gozar umas pequenas férias, sempre boas para quem estava a cumprir serviço militar por obrigação. Assim, Salazar, mesmo em estado de coma, me prejudicou.
A outra, que no fundo tem a ver com o título desta mensagem, foi que a sua morte, passou completamente despercebida oficialmente nas matas do Norte de Angola no aquartelamento onde me encontrava, por mais estranho que possa parecer.
Salazar, à data da morte, bem como Caetano, para a grande maioria dos militares que passaram pela guerra de Àfrica, jã não contavam. O regresso são e salvo era o único objectivo daqueles que nada tinham a defender por aquelas bandas, a não ser a sua pele, as suas vidas. Todos pensavamos em Salazar ou Caetano, antes de embarcar. Lá fora, era o passar o tempo da melhor maneira e tentando enganar a marcha do tempo, abreviando as horas, os dias e os meses, era o que contava.
Com a alteração doregime, srgiram a eleições livres em Portugal.
Angola desde esses tempo da guerra colonial, passou maus dias, maus tempos. A guerra civil entre as diversas facções e partidos, dilacerou profundamente uma terra que poderia ter começado cedo a ser rica e próspera.
Os Salazares e os Caetanos de África, não deixam que as nações cresçam e floresçam. Sabem com a força das armas e as traiçoes de uns ou outros, transformar o que deveria ser de todas, apenas numa quinta de uns tantos.
Exemplos destes estão amplamente relatados no nosso dia a dia.
Para quem passou por Angola, para muitos dos que já lá tinham chegado antes e por lá foram ficando, dos que foram forçados a regressar ou a voltar, há sempre uma réstia de saudade, uma nostalgia daquelas terras e daquelas gentes, que perdura para sempre.
Que as eleições não sejam uma farça. Que a paz possa aglutinar aquela população tão diferente de Norte para Sul e do Interior para o mar, num esforço comum de reconstrução, dando inicio a uma nova era para Angola.
Se assim for, muitos portugueses ainda lá hão-de voltar.