17 julho, 2015

O aldrabão

A narrativa aldrabada


• Pedro Silva Pereira, A narrativa aldrabada:

«A entrevista do primeiro-ministro à SIC foi um verdadeiro monumento de mistificação e distorção grosseira dos factos. Começou na Grécia, passou pelos números do desemprego e do défice e acabou com o anúncio do fim da austeridade. Na questão da Grécia, chegou a ser patético. Contra toda a evidência testemunhada pelo Mundo inteiro em dias seguidos de elevada tensão negociai, Passos quis convencer-nos de que "houve sempre unanimidade no Eurogrupo", o qual, vejam lá, até deu provas de uma imensa "generosidade" para com a Grécia. Esqueçam, portanto, as resistências da Finlândia e da Alemanha e a preferência de Schäuble pelo 'Grexit' temporário; esqueçam as iniciativas e pressões de Hollande e o sonoro "basta!" de Renzi - nada disso conta. O nosso excelentíssimo primeiro-ministro, que esteve lá, viu tudo ao contrário de toda a gente: total "unanimidade" e profunda "generosidade", garante ele. E, em boa verdade, já que inventou uma história tão bonita, porque não arranjar-lhe também um final feliz? Se bem o pensou, melhor o fez. Vai daí, escolheu para si o papel principal: por acaso, a ideia para o acordo final até foi dele. Também por acaso, mais ninguém reparou nisso. Mas um criativo talentoso nunca deixa que os factos atrapalhem uma boa história. 

Nos números do desemprego, Passos andou perto da desonestidade intelectual. Começou por comparar a evolução da taxa de desemprego entre 2005 e 2011, durante os governos socialistas, omitindo que em 2011 se operou uma quebra de série por alteração da metodologia estatística do INE, o que transforma qualquer comparação linear numa pura fraude. Depois, atribuiu o aumento do desemprego nesse período ao "modelo de desenvolvimento económico socialista", omitindo a redução do desemprego verificada entre 2005 e meados de 2008 e ignorando, ostensivamente, a crise financeira internacional que a partir de 2008 fez o desemprego aumentar não só aqui mas em toda a Europa; finalmente, descreveu uma imaginária dinâmica de criação de emprego na economia, escamoteando o único balanço que interessa: ao fim de quatro anos de governação PSD/CDS, centenas de milhares de empregos foram destruídos e o desemprego é hoje mais alto do que era quando a direita chegou ao poder. 

Depois, veio a conversa dos défices de 2010 e 2011, numa tentativa esfarrapada de justificar a austeridade "além da troika" com as contas alegadamente "mal feitas" do Memorando inicial (que, aliás, o PSD também negociou). Ora, nem o défice oficial de 2010 era desconhecido ao tempo da negociação do Memorando (salvo quanto à fraude estatística operada pelo Governo do PSD na Madeira, sendo que a revisão posterior, e retroactiva, da metodologia estatística do Eurostat em nada alterou o esforço orçamental pedido para efeitos do Memorando), nem o défice registado no primeiro semestre de 2011 (também inflacionado pela fraude estatística do PSD na Madeira) justifica as medidas de austeridade que o Governo, por sua livre opção, de imediato resolveu tomar (designadamente, o corte de 50% do subsídio de Natal, que o Expresso garantiu na altura já estar decidido pelo Governo muito antes de conhecidos os números do défice) e depois ainda agravou mais em 2012 (cortando salários e pensões) e 2013 (com o enorme aumento de impostos). Ao contrário do que diz Passos, a verdade é que houve nisto tudo uma escolha de política orçamental do Governo, que sempre acreditou nas virtudes redentoras da austeridade e do empobrecimento - e gabou-se disso. Acresce, em todo o caso, que o défice de 2011 acabou por ficar muito abaixo (e não muito acima!) da meta prevista no Memorando e isto porque o país dispunha de uma medida alternativa e extraordinária (a transferência dos fundos de pensões), a que o Governo acabou por recorrer já tarde de mais. Por muito que custe, descontado esse efeito extraordinário registado nas contas do segundo semestre de 2011 e a fraude estatística do PSD na Madeira, o famoso défice do primeiro semestre de 2011, que o primeiro-ministro agora diz estar na origem de todos os sacrifícios destes quatro anos, foi MENOR do que o défice obtido na gestão orçamental do segundo semestre de 2011, já com o Governo de Passos e Portas. É por essas e por outras que estes senhores não podem ficar a falar sozinhos sobre tudo isto, como se fosse deles a verdade histórica e a pudessem manipular a seu belo prazer para efeitos de campanha eleitoral. 

Finalmente, o primeiro-ministro acabou a sua entrevista à SIC com chave de ouro, prometendo acabar com as medidas de austeridade e até esboçando uma vaga intenção de "combater as desigualdades". Mas não é nada urgente: fica para a próxima legislatura. Foi aqui que a jornalista Clara de Sousa terá achado que a coisa estava a ir um bocado longe de mais e perguntou como é que o primeiro-ministro conciliava isso com a decisão já anunciada pelo Governo de cortar ainda mais 600 milhões de euros nas pensões de reforma. Infelizmente, não se percebeu nada da resposta.»

 

Justiça - mas que atrazo

Ponha-se de lado a linguagem e atente-se apenas nas datas para se saber da celeridade da nossa Justiça..

 

“Esta quinta-feira (Julho de 2015) ficou a saber-se que o Supremo Tribunal Administrativo confirmou a pena disciplinar de advertência aplicada a um procurador que insultou um agente da PSP, após ter sido apanhado a conduzir e a falar ao telemóvel. O episódio aconteceu em 2009, no Seixal.

“Não pago nada, apreenda-me tudo, caralho. Estou a divorciar-me, já tenho problemas que cheguem. Não gosto nada de me identificar com este cartão, mas sou procurador. Não pago e não assino. Ai você quer vingança, então ainda vai ouvir falar de mim. Quero a sua identificação e o seu local de trabalho”, disse ao polícia.

Apesar da advertência disciplinar, o Ministério Público considerou não haver aqui nenhum crime de injúrias ou ameaças: “Não obstante integrar um termo português de calão grosseiro, foi proferido como desabafo e não como injúria.

O autor da expressão desabafou sem que tenha dirigido ao autuante o epíteto, chamando-o ou sequer tratando-o por ‘caralho’. Tal expressão equivale a dizer-se, desabafando ‘Caralho, estou lixado’. Admite-se que houve falta de correcção na linguagem, mas não de molde a beliscar a honorabilidade pessoal e funcional do agente”.”

In – “VAI e VEM

 

15 julho, 2015

Passos Coelho, só agora?

Estátua de Sal - uma maravilha

In “estátua de Sal”

 

“O Primeiro-Ministro, Passos Coelho, esse desbloqueador de casos difíceis, esse facilitador de imbróglios (talvez devido à sua irmandade quase de sangue, com o seu amigo Relvas, o rei dos “facilitadores”), deu hoje uma entrevista à SIC, que segui com atenção.
Nada disse de importante que tivesse a ver com o País. Foi uma sessão de propaganda em que tentou apenas contrariar os “mitos urbanos” que circulam sobre a sua pessoa. Foi apenas um puro exercício de narcisismo. Uma tentativa de contrariar os efeitos negativos que a sua postura e políticas, durante quatro anos, geraram na opinião pública. De tal forma que, interrompeu as perguntas da entrevistadora, várias vezes, sempre que as perguntas lhe vinham contrariar a narrativa e obriga-lo quebrar o guião. Clara de Sousa bem tentou, mas não teve coragem para lhe bater o pé de forma consequente, pelo que, Coelho lá foi discorrendo numa espécie de monólogo presunçoso.
Dizem que eu minto? Não, eu não menti. Fiz promessas, sempre de boa fé, mas os números que me deram é que estavam errados.
Dizem que eu quis dificultar as negociações com a Grécia, e alinhei sempre com a Alemanha? Não, eu sempre apoiei o povo grego, e até desbloqueei o acordo final.
Dizem que eu quero cortar 600 milhões de euros nas pensões?
Não, eu não quero nada, apenas temos que encontrar uma solução conjuntamente com o partido socialista.
Ou seja, Passos continua no seu mundo autista e esquizofrénico. Continua igual a si próprio, mentiroso, e desprezando a inteligência dos portugueses, e nesse sentido, eu até concordo, que ele é obstinadamente previsível.
Mas, que Passos faça propaganda é legítimo, e expetável.
Contudo, o mais risível, foi a análise da entrevista feita nas televisões pelos comentadores de serviço.
Na SIC, o painel estava montado para que eventuais farpas a Coelho viessem embrulhadas em papel celofane: José Miguel Júdice, Joaquim Aguiar, e Ricardo Costa. Júdice, dos três o único com capacidade para pensar fora dos guiões, foi o único que terá merecido alguma atenção. O Ricardo está cada vez mais a voz do patrão e o Aguiar é tão erudito que diz coisas que nem ele deve entender. Contudo, todos eles deram a tática. O PSD não pode jogar apenas na campanha do medo. Dizer que Portugal não é a Grécia não chega. O mano Costa anda preocupado. O Coelho tem que fazer propostas políticas para o futuro, e estas nunca mais chegam. Ou o programa do PSD sai, e depressa, com propostas, ou o mano de meio sangue, o António, ganha as eleições, para grande desgosto dele, já que lhe é conhecido um enorme e fraternal ciúme. Coisas mal resolvidas de um infante tardio.
Na RTP Informação foi o delírio. André Macedo e José Manuel Fernandes fizeram um trabalho digno de grandes propagandistas: Coelho muito bem. O País deve-lhe muito. Vejam a Grécia. Cá não há filas no Multibanco. Coelho não mente, é firme como a espada do D. Afonso Henriques, O Costa, não. Está aflito com o Sócrates preso. E era apoiante do Syriza, não se lembram? Pois é, o Costa é um syrizista disfarçado de Hollande à moda do Terreiro do Paço. Contudo, também eles deram o recado: são precisas mais propostas porque ainda não dá para ganhar.
Na TVI24, salvou-se, ainda assim a noite. Ângelo Correia e João Cravinho. A entrevista de Coelho foi o mote inicial apenas. Falaram do País, da Grécia, da Europa, do Euro, do presente e do futuro. E aqui, não houve propaganda mas apenas a opinião de dois homens inteligentes que confrontaram ideias, e que, curiosamente, estiveram de acordo em muitos tópicos. Ângelo mais alinhado à narrativa do governo mas sem a poupar nas críticas, sem lhe tornear as fraquezas e contradições, com o provável objetivo de ser ouvido e tal levar a mudanças de rumo. Cravinho, sagaz e contundente, quer na crítica à narrativa do governo, quer e sobretudo, às soluções que a UE está a impor aos países em termos de políticas económicas.
Resumo final. O discurso de Passos não passa de um conjunto de soundbites, que vão ser repetidos atá à exaustão para ver se os portugueses os decoram, porque ele acha que os portugueses não passam de uma manada de bois estúpidos e assim devem ser tratados. É como se tivéssemos que aprender a tabuada, de novo, e tivéssemos que repetir em voz alta: dois vezes um dois, dois vezes três, seis, dois vezes quatro, oito…etc.
Os comentadores, ao serviço da maioria, estão preocupados. Já estão fartos de repetir a história do Coelho que salvou a coelheira e estão a sentir-se ridículos, porque estão a ficar sem assunto. Querem propostas políticas, obras, inaugurações, promessas, para poderem ocupar o tempo de antena com eruditos e sábios comentários, loas ao futuro da governação PAF.
E mais que isso: quais treinadores de bancada, já dão a derrota como certa, se a tática é só esta, assim tão raquítica e pobrezinha.
Cá para mim, bem podem esperar sentados. Passos e esta maioria nada mais tem para apresentar. Limitaram-se pôr em prática o programa que a troika lhes deu para executar.
A troika saiu, pelo menos oficialmente, e deu-lhes um ano de folga na austeridade, para poderem continuar a levar por diante o capítulo seguinte do programa e que é tentarem ganhar as eleições. É por isso que não tem propostas para apresentar.

Se ganharem as eleições, a troika é que lhes vai dar o programa outra vez. E o programa só pode ser mais do mesmo: austeridade, miséria, e venda do país em saldos aos chineses.
É que eu dou-lhes razão: nós não somos, de facto, a Grécia. Ainda temos muito para vender, e ainda não nos mandaram colocar os Jerónimos e a Torre de Belém num fundo com sede no Luxemburgo administrado pelo (m)sinistro Schauble.

 

Passos Coelho - a camuflagem da mentira

A teoria do demagogo mentiroso que, com a ideia de  imputar só ao PS o Memorando de Maio de 1911 com a troika (ver titulo do Jornal de Negócios de hoje) é uma mentira.

A intervenção da troika foi querida, desejada não só  pelo PSD e CDS as  oposições habituais do PCP e BE, unidas na rejeição do PEC IV, a fim de derrotar e fazer cair o governo Sócrates, (o que conseguiram).

Depois, o memorando foi negociado e assinado não só pelo PS, nessa altura já demitido, mas também  pelo PSD (de Passos e Catroga) e pelo CDS.
Então porque razão Passos Coelho pretendeu branquear a responsabilidade do PSD nas “contas do Memorando”

Mentindo, para camuflar o que fez para alem do pedido pela troika no acordo e não querer assumir as responsabilidades dele e do PSD, para justificar as mentiras das promessas eleitorais não cumpridas.

Não se pode chamar a este homem nome diferente que - mentiroso

 

Passos Coelho mente ou não?

Porque não perguntam, hoje,  ao mentiroso do Passos Coelho a razão destas declarações em 2011?

“O economista Eduardo Catroga afirmou esta terça-feira que a negociação do programa de ajuda externa a Portugal "foi essencialmente influenciada" pelo PSD e resultou em medidas melhores e que vão mais fundo do que o chamado PEC IV.

Numa declaração aos jornalistas, em nome do PSD, na sede nacional dos sociais-democratas, em Lisboa, Eduardo Catroga considerou que a revisão da trajectória do défice foi uma "grande vitória" dos sociais-democratas. 
E congratulou-se também com o facto de o programa de ajuda externa a Portugal não afectar as "pensões de sobrevivência e de invalidez de cerca de um milhão de pensionistas com menos de 200 euros mensais" que, disse, eram "atacadas" pelo Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) chumbado em Março pela oposição no Parlamento.
"Portanto, as medidas que agora aparecem são medidas melhores para os portugueses", considerou o economista que tem representado o PSD nas conversações sobre a ajuda externa a Portugal.”

 

Passos Coelho

E o Catroga não conferiu as contas?

14 julho, 2015

Mota Soares mente

Mota Soares não está enganado, mente, mente!

 

"O ministro Mota Soares deve estar desorientado com a não retoma do emprego em Portugal, como demonstraram os mais recentes indicadores do Instituto Nacional de Estatística [em maio], efabulou e inventou números sem qualquer credibilidade. Cada vez que um membro do Governo faltar à verdade, o PS irá repô-la, fazendo os desmentidos que se impõem", advertiu o dirigente socialista.

Segundo João Galamba, "é falsa" a ideia do dirigente do CDS-PP de que Portugal criou 175 mil empregos desde o início de 2013, referindo que os dados demonstram antes que "foram apenas 120 mil, dos quais cerca de 75% são contratos de emprego e inserção".

"Estes números apontados não incluem estágios e são empregos precários criados no Estado e nas Instituições Privadas de Solidariedade Social (IPSS). Não há, portanto, qualquer dinamismo criador de emprego no setor privado", sustentou o deputado socialista.

João Galamba acusou também o ministro da Solidariedade e do Emprego de pretender "esconder" que o mandato do atual Governo começou em junho de 2011 e não apenas em 2013.

"Em quatro anos verifica-se uma destruição líquida de emprego na ordem dos 320 mil. Assim, mesmo com todo o arsenal de políticas ativas de emprego, nestes últimos dois anos e meio, o Governo criou muito menos empregos do que destruiu. Só no segundo semestre de 2012 foram destruídos 181 mil empregos", contrapôs o membro do Secretariado Nacional do PS.

João Galamba contestou ainda a afirmação de Pedro Mota Soares, segundo a qual por cada emprego precário são criados três postos de trabalho permanentes.

"Isso é também falso, porque 90% dos novos contratos são precários e não permanentes", advogou o dirigente socialista.

 

Pedro - O caniche

O novo caniche de Merkel

 

 

 

Não há razão para suspeitar de que, desta vez, Passos Coelho esteja a mentir: «por acaso foi uma ideia minha» que desbloqueou o acordo com a Grécia. Segundo o próprio, é da sua autoria o destino a dar ao fundo de 50 mil milhões de euros que Schäuble exige que seja constituído com o recheio das privatizações na Grécia. 
No entusiasmo juvenil de se pôr em bicos de pés, Passos Coelho perdeu uma oportunidade única de se fazer passar por estadista. Bastaria ter questionado, em lugar do palpite avulso, como é que a Grécia vai arranjar 50 mil milhões de euros. Vendendo as seis mil ilhas? Leiloando o Partenon? 
Mas Passos Coelho é um homem que se deslumbra com pouco, porque não discute o que julga ser a ordem natural das coisas: «Foi justamente uma ideia que eu sugeri e que acabou por ser utilizada pelos negociadores com o primeiro-ministro grego». Ao reclamar a autoria do palpite, nem passou pela cabeça ao (alegado) primeiro-ministro português que a circunstância de ter estado 17 horas numa sala à espera que os «negociadores» chegassem, no compartimento ao lado, a um entendimento com Tsipras não o prestigia. Aproveitar uma ida de Merkel à casa de banho para se mostrar um aluno aplicado só reforça a posição subalterna a que é votado nos corredores do poder. 

Com a aposentação de Barroso, o novo caniche de Angela Merkel dá pelo nome de Pedro.

In “Camara Corporativa”

 

Grécia

O problema da Grécia não é só uma tragédia. É uma mentira.

(John Pilger, in Global Research, Centre for Research on Globalization, 13/07/2015)

(Nota: Este texto será polémico para muitos que o lerão, mas pode, de alguma forma ajudar a perceber o percurso que o Governo grego tem vindo a seguir, até ao momento, desde que foi eleito, e a elucidar algumas das contradições que tal percurso tem evidenciado. É que pode não ser só a pressão e a chantagem da UE a explicar as contradições. Algumas chaves explicativas são aqui avançadas.  De notar que o texto, não incorpora ainda o último acordo fechado pela Grécia com a UE, mas os termos de tal  acordo só reforçam algumas das ideias apresentadas. Tradução do texto, por  Estátua de Sal).


Uma traição histórica foi consumada na Grécia. Ignorando o mandato do eleitorado grego, o governo do Syriza  ignorou voluntariamente a avalanche do voto no “não” que ocorreu na semana passada,  e secretamente deu o seu aval a uma série de medidas repressivas e empobrecedoras, aceitando um resgate que representa um sinistro controlo estrangeiro e, ao mesmo tempo, um aviso para o mundo.

O Primeiro-ministro, Alexis Tsipras, levou ao parlamento uma proposta  para cortar, pelo menos, 13 mil milhões de euros do erário público – 4 mil milhões de euros a mais que a “austeridade”, rejeitada esmagadoramente pela maioria da população grega no referendo do dia 5 de Julho.

Estes cortes incluem 50 por cento de aumento no custo do sistema de saúde para os pensionistas, cerca de 40 por cento dos quais vivem na pobreza; cortes profundos nos salários do sector público; a privatização total dos serviços públicos, como aeroportos e portos; um aumento no imposto sobre o valor acrescentado para 23 por cento, a ser aplicado também nas ilhas gregas, onde as pessoas lutam para sobreviver. E mais haverá para vir.

“Partido Anti austeridade tem impressionante vitória”, declarou o Guardian na sua manchete do dia 25 de Janeiro . “Esquerdistas radicais”, chamava o jornal a Tsipras e aos seus bem-educados companheiros. Eles usavam camisetas de gola aberta, e o ministro das finanças surgiu de moto e foi descrito como um “rock star da economia”. Era apenas fachada. Eles não eram radicais em sentido algum, ou apenas o eram no cliché com que eram etiquetados, e nem eram “anti austeridade”.

Durante seis meses Tsipras e o recentemente afastado ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, passearam-se entre Atenas e Bruxelas, Berlim e outros centros de dinheiro europeu. Em vez de justiça social para a Grécia, apenas conseguiram obter mais endividamento, ou seja um empobrecimento profundo que simplesmente irá substituir uma podridão sistémica baseada no roubo das receitas fiscais pelos gregos super-ricos  – bem em conformidade com os valores  “neoliberais” -, por empréstimos baratos mas altamente rentáveis para aqueles que exigem o escalpe da Grécia.

A dívida da Grécia, segundo um relatório de auditoria feito pelo Parlamento grego, “é ilegal, ilegítima e odienta”. Contudo, em comparação, é menos do que 30 por cento da dívida da Alemanha, seu principal credor. É menos do que a dívida dos bancos europeus cujo “resgate” em 2007-8 foi altamente controverso e que ficaram impunes.

Para um pequeno país, como a Grécia , o euro é uma moeda colonial: um garrote ao serviço de uma ideologia capitalista, tão extremo e rigoroso, que até o Papa o qualifica como “intolerável” e “o excremento do diabo”. O euro é, para a Grécia, o que o dólar norte-americano é nas terras longínquas do Pacífico , cuja miséria e servilismo é garantida através da sua dependência monetária.

Nas suas visitas ao antro dos poderosos em Bruxelas e Berlim, Tsipras e Varoufakis apresentaram-se não como radicais, nem como “esquerdistas” nem mesmo como honestos sociais-democratas, mas como dois neófitos, suplicantes nas suas fundamentações e exigências. Sem subestimar a hostilidade que enfrentaram, é justo que se diga que não mostraram coragem política. Mais do que uma vez, o povo grego teve conhecimento dos seus ” planos secretos para a austeridade”, através de fugas de informação para osmedia: como em 30 de Junho na carta publicada no Financial Times, na qual Tsipras prometeu aos chefes da União Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI que iria aceitar as suas básicas mas cruéis exigências  – que como se vê,  já aceitou.

Quando o eleitorado grego votou “não”, em  5º de julho, contra esta espécie de negociação de tipo subterrâneo, Tsipras disse, “Na próxima segunda-feira, após o referendo, o governo grego estará na mesa das negociações com melhores condições para defender o povo grego”. Mas os gregos não tinham votado apenas por “melhores condições”. Eles tinham votado  pela justiça e pela soberania, tal como haviam feito no dia 25 de Janeiro .

No dia seguinte à eleição do mês de Janeiro, um governo  verdadeiramente democrático e, sim, um governo radical, teria evitado a saída de cada euro do país, teria repudiado a “ilegal e abominável” dívida – como a Argentina fez com êxito – e acelerado um plano para deixar a tão paralisante zona Euro. Mas não havia nenhum plano. Havia apenas a vontade de estar  “à mesa”, procurando “melhores condições”.

A verdadeira natureza do Syriza raramente tem sido analisada e explicada. Para os media estrangeiros não são mais do que “esquerdistas”, ou  “extrema-esquerda”, ou “linha dura” – o habitual cliché. Alguns dos apoiantes internacionais do Syriza tem atingido, por vezes, níveis de ânimo elevados, uma reminiscência da ascensão de Barack Obama. Alguns têm perguntado: Quem são esses  “radicais”? Em que é que eles acreditam?

Em 2013, Yanis Varoufakis escreveu:

“Devemos acolher esta crise do capitalismo europeu como uma oportunidade de o substituir por um sistema melhor? Ou será que devemos apenas encetar uma campanha para estabilizar o capitalismo? Para mim, a resposta é clara. É muito pouco provável que a crise da Europa dê origem a uma melhor alternativa para o capitalismo…

“Inclino-me para a crítica que tenho defendido, que uma agenda fundada no pressuposto de que a esquerda foi, e continua a ser, inteiramente derrotada… Sim, eu gostaria de apresentar [uma] agenda radical. Mas, não, não estou disposto a cometer o  [erro do Partido Trabalhista britânico, na sequência da vitória de Thatcher].

“O que é que de bom foi conseguido, na Grã-Bretanha, no início da década de 1980, promovendo uma agenda de mudança socialista que sociedade britânica desprezou, precipitando-se para a viagem neoliberal de Thatcher? Precisamente nada. O que é que de bom virá de lutar pelo desmantelamento da zona euro e da União Europeia propriamente dita…?”.

Varoufakis omite qualquer referência ao Partido social-democrata que, ao dividir o eleitorado de esquerda, levou ao surgimento do “blairismo”. Sugerindo que as pessoas na Grã-Bretanha  “espezinharam as mudanças socialistas” – quando não tiveram qualquer possibilidade real de fazer tais mudanças – ele repete Blair.

Os dirigentes do Syriza são revolucionários, de um certo tipo – mas sua revolução é a perversa e usual apropriação da social-democracia e das suas representações parlamentares pelos liberais,    formados para cumprir a vulgata neoliberal, ao serviço da engenharia social estabelecida, cujo rosto autêntico é o de Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças da Alemanha, um bandido imperial. Como o Partido Trabalhista na Grã-Bretanha, e seus equivalentes entre os antigos partidos social-democratas, considerando-se ainda “liberais” ou até mesmo “de esquerda”, o Syriza é o produto de uma afluente, altamente privilegiada e educada classe média, “escolarizada no pós-modernismo”, como Alex Lantier escreveu.

Para eles, classe é o impronunciável, quanto mais uma persistente luta, apesar da dura realidade da vida da maioria dos seres humanos. Os vultos do Syriza são bem comportados; eles não irão liderar a resistência que os cidadãos almejam, e que o eleitorado grego com tanta coragem demonstrou, mas apenas lutar por “melhores condições” venais dentro do status quo que encurrala e castiga os pobres. Quando se funde com “políticas de identidade” e com as suas insidiosas distrações, a conseqüência não é resistência, mas subserviência. A vida política na Grã-Bretanha exemplifica isso mesmo.

Mas este cenário não tem que ser uma fatalidade, um capítulo encerrado, se despertarmos do longo coma da pós-modernidade e rejeitarmos os mitos e enganos, daqueles que dizem que nos representam, e lutar.

 

Europa assim... não

A Grécia foi duramente punida pelos chamados parceiros porque o seu governo ousou quebrar a obediência  e a vassalagem prestada ao ministro alemão das finanças e àqueles que o seguem por medo ou por convicção. Portugal nunca ousou levantar a voz nem no Eurogrupo nem no Conselho Europeu. A Europa é, aliás, cada vez mais o Eurogrupo que, por sua vez, é comandado pelo ministro das Finanças da Alemanha, o tenebroso  Wolfgang Schauble

Esta entrevista de Yanis Varoufakis é um documento demolidor sobre o funcionamento do Eurogrupo e sobre o comportamento de alguns dos seus membros. Ninguém desmentiu até agora as palavras do ex-ministro grego das Finanças e, no entanto, as revelações que ele faz são demasiado graves para serem caladas.

Pasma-se como é que nem a actual ministra nem os anteriores ministros das Finanças portugueses que integraram esse poderoso grupo que decide os destino dos europeus, não falaram nunca do funcionamento dessa poderosa instituição que não só não tem existência  legal nos tratados europeus como ignora as regras de funcionamento da democracia.

Nesse lugar onde não há leis nem regras mandam dois ou três e obedecem todos os outros. E quando algum deles se recusa a obedecer à lei dos mais fortes e exige conhecer as regras que inexistem, é convidado a sair. Eis o que Varoufakis disse sobre o Eurogrupo:

“(…) a situação é muito pior do que se imagina (…)  há uma ausência completa de escrúpulos democráticos por parte  dos supostos defensores da democracia europeia (…)  pessoas poderosas olhando-[o] nos olhos,  dizerem: “tens razão no que dizes, mas vamos trucidar-te de qualquer maneira” (…). (…) Se alguém invoca argumentos económicos para sustentar a sua posição, depara-se com olhares vagos e é como se não tivesse falado, ninguém  responde. (…) Ou assinas na linha marcada ou a Grécia está fora” (estas últimas são palavras do ministro  alemão das Finanças perante o argumento de Varoufakis de o Syriza ter sido eleito para mudar a Grécia).

Nessa entrevista, Varoufakis relata com pormenor o andamento das negociações, referindo como o Eurogrupo saltava de tema para tema, querendo mexer em tudo. Sempre que a Grécia apresentava uma proposta, o Eurogrupo saltava para outra, sempre querendo mais, pedindo sucessivamente documentos e dados que nunca bastavam.

À pergunta sobre se a Grécia tentou trabalhar em conjunto com outros países endividados,  a resposta de Varoufakis foi um “Não”  porque “desde início esses países mostraram claramente que eram os principais inimigos do governo [grego] e a razão era o pesadelo que representaria para eles nós conseguirmos uma boa negociação para a Grécia. Isso seria politicamente esmagador para eles porque teriam de explicar aos seus povos porque não tinham negociado como nós.

Quando questionado sobre o funcionamento do Eurogrupo, Varoufakis recordou a reunião em que  o presidente disse que a Grécia devia fazer o seu caminho fora da zona euro: Eis o relato de Varoufakis: “(…) há uma acordo de que os comunicados do Eurogrupo devem ser aprovados por unanimidade e o presidente não pode convocar uma reunião e excluir um estado-membro da zona euro. O presidente disse que sim, que podia. Então eu pedi um parecer jurídico. Foi um reboliço! Durante 5 a 10 minutos a reunião parou funcionários falavam uns com os outros e ao telefone e um deles dirigiu-se a mim e disse: “Bem, o Eurogrupo não exiete na lei, não há nenhum tratado que regule este grupo.” 

O destino dos cidadãos europeus está assim entregue a um grupo fora da lei

  In “Vai e Vem”

 

TROIKA - para além dela

 

 

 

Passos Coelho ajudou a Grécia... ficou ainda mais enterrada

 

Vaidoso, prepotente, mentiroso e vulgar demagogo

13 julho, 2015

Convite Parque dos Poetas - 18 de julho pelas 18 horas

 

 

 

 

 

Grécia capitula pernate o "Capital"

Não há democracia, por mais directa e  participativa que vença o “capital”.

A grécia capituloui, o Cirisa capitulou.

Todas as razões e argumentos da sua victória eleitoral foram deitadas ao lixo.

A força do dinheiro venceu a força dos votos.

Não há ilusões sobre este tema.

Os abraço, os sorrisos e as palmas do dia das eleições, vão perdurar para o futuro como uma das victórias eleitorais mais amargas dos gregos.

E agora?

Estão “a ver-se gregos”, para hoje pagarem o que devem... amnhã será muito pior.

Quando é que os gregos, o Povo Grego vai conseguir pagar o que devia, o que deve e o que vai passar a dever?

12 julho, 2015

Justiça?

Hoje ninguém tem dúvida que há agentes das polícias e da Justiça que se não usam a mesma cama, pelo menos vivem no mesmo apartamento com jornalistas.

Sócrates varado

No princípio o enredo era mais simples. O Sócrates primeiro-ministro vigarizou um PROTAL para viabilizar o projecto do Vale de Lobo, e arrecadou as luvas respectivas. Só que era tudo mentira, quer dizer, era ficção duns investigadores e o barro não pegou.
Afinal foi o traste do Vara que facilitou, na Caixa, o empréstimo ao Batalha, para investir no Vale de Lobo. Por isso lhe cobrou uma comissão de doze milhões, que logo fez chegar à mão do Barroca (o tal do grupo Lena, e da Venezuela, e da Parque Escolar, e do TGV, e do novo aeroporto, e coisa e tal). O qual Barroca os despachou para a Suíça, os milhões, para uma conta em nome do Santos Silva, que era afinal desse traste do Sócrates, o culpado do pecado original. 
De formas que o melhor, a bem da senhora Justiça, era agasalhar rapidamente o Vara (que já andara a receber umas caixas de robalos), e pôr-lhe uma pulseira ao tornozelo. Por que razões ninguém sabe muito bem, mas isso agora não interessa nada. É que se a coisa não colou ao Sócrates, naquele caso do sucateiro da operação Face Oculta, algum dia há-se pegar. Nem que seja na mais pura das ficções. E água mole em pedra dura, desde que a imprensa não falhe, tanto dá até que fura! De modos que vai tudo pelo melhor até às eleições, e depois disso haveremos de falar

Passos Coelho - uns dias sim outros não

 

 

 

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