Jose Niza escreve assim:
Os eleitores portugueses são sábios em coisas tão simples e tão elementares quanto essenciais.
Sabem, por exemplo, que quem tem mais votos é quem ganha as eleições. É como no futebol: quem mete mais golos é que ganha os jogos.
Mas, para confundir as hostes, há por aí umas dúzias de politólogos e sábios comentadores que ainda não aprenderam esta verdade básica: – que, quem ganha, deve governar. Mas governar mesmo! Desde a Grécia Antiga que é esta a verdade matricial da Democracia. Verdade esta que muitos ainda não interiorizaram na sua enciclopédica ignorância.
Pior do que isto – e muito mais perigoso – é o que está a passar-se com a atitude de todos os partidos da oposição em relação ao governo e à governabilidade do País.
Todos eles – iludindo as quadraturas do círculo – apregoam aos quatro ventos as suas quatro grandes vitórias sobre o PS.
Todos eles, confundem a perda de uma maioria com uma derrota eleitoral. Porque, para todos eles, retirar a maioria absoluta a Sócrates foi mais do que uma vitória, foi a suprema consumação de uma vingança ambicionada.
E é isso o que está a acontecer.
Os partidos políticos concorrem às eleições com candidatos e programas eleitorais. E só um pode ganhar. Foi o que aconteceu com o PS.
Ainda houve a esperança – mais ilusão do que esperança – de que o PSD pudesse vencer as eleições. Mas, não só não as ganhou, como ficou a uma enorme distância do PS. E, assim acontecendo, a vitória socialista tornou-se insuportável para toda a oposição. O fim da maioria absoluta, – ultrapassada a fugaz frustração das quatro derrotas à esquerda e à direita – foi celebrado como um histérico festim, como um festival de vinganças a culminar numa perigosa exibição de irresponsabilidade política a cujo início estamos a assistir.
Aquilo que antes separava partidos ideologicamente tão diferentes como o PSD e o PCP, ou o CDS e o BE, transformou-se num sólido bloco anti-governo, anti-Sócrates e anti-governação.
Esta "vendetta" estratégica dos derrotados é tão obsessiva e tão irresponsável que perdeu por completo de vista a noção dos interesses do País e da gravidade dos problemas com que nos confrontamos. É o bota-abaixismo total, puro e duro. É o grande show partidário contra-natura.
Porque, ver Manuela Ferreira Leite de braço dado com Jerónimo de Sousa, ou Francisco Louçã in love político com Portas, é um espectáculo degradante e perigoso para a Democracia.
Portugal não tem hoje saúde financeira, nem económica, nem social, que permita estes jogos de sedução e de vingança contra quem foi constituído na obrigação de governar.
A prosseguir a destruição sistemática das propostas do governo – sejam elas quais forem – cria-se uma situação de total ingovernabilidade e de bloqueio político no País.
E pergunto: qual dos partidos da oposição está neste momento em condições de assegurar a Portugal uma alternativa de governo, seja isoladamente, seja em coligação?
O PSD? – São os seus próprios dirigentes que lhe diagnosticam o estado de coma, mas não sabendo nenhum como tratar o doente.
O CDS? – Paulo Portas festejou os seus 10% como se fossem uma vitória. Se conseguir conservá-los, talvez um dia sirvam para os somar ao PSD. Mas daqui a quantos anos?
O PCP coligado com o BE? – como dizia o outro, "não brinquem comigo…
É este o cenário e o bloqueio: – não há alternativa.
Toda a gente sabe de ciência certa – e de experiência feita – que se o actual governo for derrubado, o povo português dará de novo ao PS uma maioria absoluta.
Em 2009 houve três actos eleitorais. Já basta! Por isso é chegada a altura de deixar o governo começar a trabalhar com um mínimo de sossego.
É também chegada a hora de pôr de lado as vinganças, os ódios, e as cobardes campanhas pessoais, para fazer, "apenas", oposição útil e construtiva, eficaz e democrática.
A roleta russa já matou muita gente. E nunca salvou ninguém (O Ribatejo)