A grande diferença entre Socrates e Cavaco tem a ver com as Vacas.
As Gordas, o dinheiro a jorros, aos milhões por dia da UE nos tempos aureos de Cavcaco
As Magras, pouco dinheiro, a herança do déficit, o Estado gordo, anafado e gastador e a crise ( esta crise que toda a gente fala, mas que ainda ninguem explicou bem ao Zé Povinho a razão da sua existência e o porquê de ela ter chegado aqui ao nosso dia a dia), a necessidade de alterar a estrutura do Estado, etc, etc
Nada disto Cavaco apanhou pela frente.
Por muita razão que Cavaco tenha para falar, não creio que se possa esquecer que tem muitos telhados de vidro.
O antigo spot publicitário do Montepio dizia e bem – eles falam, falam, mas não fazem nada.
Cavco vái ter que se limitar aos "vetos", pelos vistos um desporto que gosta muito, ou então quando não veta, acompanha a sua assinatura nas Leis, com umas recomendações paternalistas para os politicos e deputados, bem ao gosto, ainda, de alguma classe política do burgo.
Pedro Santos Guerreiro diz:
"A rentrée de Cavaco na corrida eleitoral de Sócrates
A intervenção de Cavaco Silva a partir da Polónia, pronunciando-se sobre assuntos de governação que não lhe competem, são um sinal claro de que o Presidente da República não vai assistir da bancada à corrida que agora se inicia para uma catadupa de eleições que vai marcar os próximos 15 meses. A cooperação estratégica entre Belém e São Bento é um mito e agora já está desactivado.
Depois do dramatizado discurso sobre os Açores em directo em todas as televisões e da afronta a toda a esquerda com o veto à lei do divórcio, Cavaco Silva escolheu uma conferência de imprensa na Polónia para defender um reforço do orçamento do Ministério dos Negócios Estrangeiros, precisamente na altura em que o ministro das Finanças está na mais árdua das suas tarefas, que é a de "negociar" com os seus colegas a distribuição de verbas do Orçamento do Estado, cuja proposta será apresentada dentro de pouco mais de um mês aos deputados. Mais: já fora noticiado que os Negócios Estrangeiros não terão reforços orçamentais, donde as palavras de Cavaco não são apenas uma expressão, mas uma pressão. Finalmente: o Presidente justificou essa necessidade de aumento de verbas com um investimento na diplomacia económica, pois, disse, sem aumento das exportações, o endividamento externo tornar-se-á insustentável. É o que Manuela Ferreira Leite vem dizendo.
O Presidente não fala de política interna quando está no estrangeiro, mas falou. O presidente não se imiscui nas matérias do Governo, mas imiscuiu-se. O Presidente não participa no combate político-partidário, mas participou. E o calendário não pode ser coincidência. Sê-lo-á o estado do PSD?
Este ano, eleições nos Açores; no próximo ano, europeias, autárquicas e legislativas – e não se sabe por que ordem. Como notava ontem, em texto de opinião, Marina Costa Lobo, é o Presidente da República quem marca as eleições legislativas e o Governo que agenda as autárquicas, e a sequência não é arbitrária para os resultados...
O PSD é, hoje, uma surpresa por revelar. Ou Manuela Ferreira Leite está a fazer "bluff" com o silêncio ou esse silêncio é a prova de que ela mesma é o "bluff". Porque, enquanto o PSD se vai dividindo entre uma oposição difusa ao PS e uma oposição confusa a si mesmo, resta a esquerda para onde olhar. O PP é uma inexistência. Cavaco é a Oposição, e não apenas de espírito: o PSD assumiu "um super cavaquismo sem Cavaco", diz José Adelino Maltez. Talvez o Presidente venha a ser mais do que o alter ego de Manuela Ferreira Leite.
Por estes dias, a conflitualidade política vai centrar-se nas questões da segurança interna, mas rapidamente chegará, com a apresentação do Orçamento do Estado, à economia. As previsões em toda a Europa para 2009 deterioram-se mês após mês, com mais inflação, menos crescimento e mais desemprego, o que desaconselha medidas populares, como a descida de impostos ou os aumentos salariais na função pública. A crise financeira internacional não é, de facto, a única culpada do desempenho económico em Portugal, mas estragou a programação do PS para a legislatura, consumindo parte do trabalho de formiga feito, com a vitória na redução do défice orçamental, que foi grande e foi rápido.
Não é apenas Jean-Claude Trichet quem pede aos governos que se contenham nos orçamentos que estão neste momento a preparar. São os números que revelam que 2009 será um ano económico mau. Gerir para ganhar eleições é sempre a pior das tentações, mas ei-la entre nós."