31 março, 2010

Liberdade de expressão

Por: José Niza em O Ribatejo

No princípio foi a “claustrofobia democrática”.
Depois foi a “asfixia democrática”, uma doença respiratória diagnosticada pelo bordaliano Pacheco.
Mais recentemente foram as “escutas telefónicas” e o socrático plano de controlo e extermínio dos media.
Em toda esta cruzada o que faz correr o PSD é a defesa das liberdades de expressão, de informação e do direito à livre opinião. E, como todos estes valores estão a ser subvertidos por Sócrates, corta-se o mal pela raiz: destruindo Sócrates voltará a existir liberdade de expressão em Portugal.
Aliás, esta cruzada do PSD já vem de longe. Primeiro, foi que o homem era homossexual. Não deu.
Depois, foi o diploma de engenheiro. Também não deu.
A seguir, e em período eleitoral, foi a invenção do envolvimento do Primeiro Ministro no caso Freeport. Ao que já foi afirmado pela magistrada do processo isto também vai dar em nada.
E, porque tudo isto nunca deu nada e Sócrates ganhou ao PSD duas eleições legislativas seguidas, e porque, em recentes sondagens, já está perto da maioria absoluta, o PSD, para além de perder votos, começa também a perder a cabeça.
Com os ventos a favor, isto é, com o Bloco, o CDS e o PCP a ajudar, sentiu que era chegada a hora de arrumar o assunto: Sócrates mentiu? Vamos dar cabo dele!
E assim, com encenação e cenografia do bordaliano Pacheco, o PSD conseguiu levar ao palco da Comissão de Ética uma tragicomédia diária onde têm representado imensas actrizes e actores, desde a escória do jornalismo português a gente séria.
Diz o povo que “o primeiro milho é dos pardais”. E assim foi: nas primeiras sessões deram espectáculo cidadãos e cidadãs do jet-set dos tablóides, como os Monizes, o arquitecto Saraiva, um tal Fernandes (ex-director do Público), a seriíssima jornaleira Felícia Cabrita, o ressabiado Crespo, e porventura mais alguns que não recordo. Com depoimentos de arrasar – embora sem uma única prova apresentada a não ser uma T-shirt – pouco faltou para saírem em ombros. E a coisa até estava a correr tão bem que logo se fez um up-grade para uma Comissão de Inquérito onde Sócrates seria trucidado.
Mas – como também diz o povo – “mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo”. E assim foi. Quando, perante a Comissão, começaram a depor pessoas decentes e conhecedoras dos factos, todas as efabulatórias historietas começaram a cair. E começou também a instalar-se o pânico.
Por exemplo, que José Eduardo Moniz, então director da TVI, recebeu ordens da administração, esta por sua vez intimada por governantes social-democratas como Durão Barroso, Santana Lopes e Morais Sarmento, para que corresse com Marcelo Rebelo de Sousa do seu programa semanal. Cobardemente, e sem se demitir, o grande defensor das liberdades não fez ondas, despediu Marcelo e continuou na maior.
Ficou também a saber-se que Henrique Granadeiro, então presidente da PT-Lusomundo e hoje presidente da Portugal Telecom, foi pressionado pelo ex-ministro Morais Sarmento para que decapitasse os directores dos jornais JN, 24Horas e julgo que do DN. Como não aceitou o ultimato, demitiu-se.
Para quem tenha memória curta, também convém relembrar que o bordaliano Pacheco, quando foi líder parlamentar da maioria cavaquista, proibiu os jornalistas de falarem com os deputados nos corredores do Parlamento.
E, para aqueles que tenham ainda mais curtíssima a memória, foi também a bordaliana criatura que teve a ideia do tribunal da Comissão de Ética. E, porque as coisas lhe estavam de início a correr bem, logo avançou com a Comissão de Inquérito.
Mas – como também diz o povo – “virou-se o feitiço contra o feiticeiro” e o tiro está a sair pela culatra, ao PSD e aos outros partidos da oposição.
Como se tudo isto ainda não bastasse, o PSD acabou de aprovar – e por aclamação! – a estalinista expulsão dos militantes que criticarem o presidente ou a direcção do partido… A proposta foi de Santana Lopes e mereceu de imediato elogios da srª dona Manuela. O curioso foi que nem Passos Coelho, nem Paulo Rangel, nem Aguiar Branco “botaram” palavra no debate que precedeu a votação. Mas, quando cá fora os jornalistas os apertaram com a dita “lei da rolha”, perceberam a argolada em que se tinham metido e prometeram que, se ganhassem…
E aqui termina esta breve reflexão sobre a patriótica forma como o PSD luta pela Liberdade de Expressão. Disse.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caríssimo Niza
Aproveitas tanto os "ditos do povo", mas esqueces-te de que também é o povo que diz que "onde há fumo há fogo".
UM TEU LEITOR