01 outubro, 2011

JOSE NIZA - a sua última crónica

Um – Se Alberto João Jardim tivesse alguma dignidade e vergonha na cara pediria desculpa aos portugueses e ao PSD, o seu partido. E depois ia para casa.
Foi pena que os deputados que fizeram a Constituição – entre os quais eu me incluo – não tivessem tido a prudência de evitar que irresponsáveis como Alberto João Jardim pudessem ocupar cargos políticos. Se, ao longo de trinta anos, todos os líderes do PSD – sem excepção – não tivessem andado a correr para a Madeira a beijar-lhe a mão, talvez a história fosse outra. Se Pedro Passos Coelho – vítima política do cacique insular – tivesse um grama de coragem política para dar um murro na mesa em vez de assobiar para o lado dizendo que aquilo é uma questão interna do PSD Madeira, talvez a história fosse outra.
Não gosto daquela abominável expressão "a culpa vai morrer solteira". Mas é isso que vai acontecer. Nas próximas eleições, poderá perder a maioria absoluta, mas não perderá o seu estatuto de alarvidade habitual. E, se o chamarem à ordem, ameaçará com a independência da Madeira.
A democracia não se fez para proteger políticos que, em vez de viverem em palácios, deveriam ser levados para manicómios.

Dois – A mesma RTP que anunciou no telejornal que, em Portugal, o consumo interno baixou para níveis de 1971, apresentou a seguir um concurso de culinária com o título retintamente português de Master Chef.
Ao longo de meia hora assistiu-se a um festival de lavagante, inqualificável provocação a milhares de portugueses que nem sequer têm dinheiro para comprar um carapau.
Para uma estação de televisão que se pretende de serviço público, este sórdido episódio revela várias coisas.
Insensibilidade provocatória para com portugueses que recebem por mês o equivalente ao preço de dois ou três lavagantes.
Incompetência porque nenhum director de programas a sério aceitaria um programa na televisão de serviço público com título em inglês. Chama-se, a isto, novo-riquismo parolo.
Acto criminoso contra os direitos dos animais porque, durante meia hora, os cozinheiros concorrentes estiveram a partir à mão lavagantes vivos à frente das câmaras.
Em face disto – e no que respeita à privatização da RTP anunciada – o que deve ser privatizado não é a empresa, mas sim as pessoas que produzem e põem no ar programas como este.

Três – "O Serviço Nacional de Saúde nunca existiu e é uma mentira desde o início".
Estas são palavras do Prof. Gentil Martins numa entrevista ao Diário de Notícias, publicada no dia 15 de Setembro, dia em que o SNS completou 32  anos. Quando o SNS foi aprovado na Assembleia da República, Gentil Martins era Bastonário da Ordem dos Médicos e um dos maiores inimigos desta lei. Ele odeia o SNS.
Em 1974, a taxa de mortalidade infantil era de 37,9 por mil. Em 2008 era de 3,3. Mais de dez vezes menos.
Desde 1974 a esperança média de vida nos homens passou de 64 para 75,8 anos. E, nas mulheres, de 71,4 para 81,8 anos.
Portugal é um dos países mais avançados do mundo em matéria de transplantações.
"O Serviço Nacional de Saúde nunca existiu". E o dr.Gentil Martins, existe?

Quatro – A genialidade política do magnífico e inefável ministro Relvas não cessa de entusiasmar e surpreender os portugueses.
Chegado ao governo – e como um bulldozer – começou de imediato a demolir coisas e a proclamar privatizações. Proclamadas estas históricas decisões, avançou furiosamente para a criação de grupos de trabalho – pelo menos seis – para que estudassem as matérias sobre as quais ele já tinha decidido antes. Extenuado com a criação de tantos grupos de trabalho, criou também um grupo de descanso. Onde? No Brasil, onde se deslocou em viagem de Estado com um extenuante programa de relevante interesse nacional.
Senão, vejamos: 1º dia – pequeno-almoço com o governador do Rio de Janeiro e ao fim da tarde, o lançamento de um livro.
2º dia – o dia mais cansativo da visita, totalmente dedicado a uma missa.
3º dia – finalmente, para tratar das relações comerciais entre o Brasil e o nosso país, foi almoçar com o cônsul de … Portugal. Posto isto regressou ao ministério onde já estava a fazer imensa falta.
  José Niza

1 comentário:

Sérgio O. Sá disse...

Gostei!
O meu póstumo abraço, para sempre.