22 março, 2010

Medicos portugueses e estrangeiros

Quem passa pelos hospitais e pelos centros de saúde, sabe que assim é.

Segui o conselho do André e li atentamente a reportagem do DN sobre médicos imigrantes em Portugal. A informação que a jornalista Céu Neves recolheu confirma o que já tinha intuído como utente do SNS: os profissionais de saúde que vêm de fora trazem consigo uma outra cultura clínica. Os médicos entrevistados pasmam com a subserviência que observam nos doentes e com o estatuto de superioridade dos seus colegas portugueses.

Como disse, não me espanta. Há anos, quando um familiar esteve internado, fiquei a saber que a enfermeira favorita de todos os doentes era espanhola. O dentista mais popular do meu bairro é brasileiro. No centro de saúde que frequento, o médico que todos querem ter também não é português. Experimentem saber qual é a reputação dos médicos que vêm de fora junto dos utentes do SNS e perguntem-se porque serão tão apreciados.
Nos tempos do João Semana, em que a subserviência do povo era manifesta nas mais diversas situações, a relação desigual entre médico e doente existia, mas ao menos era compensada pelo espírito de serviço e amor pela profissão dos que então enveredavam pela Medicina.
Mas desde que o acesso a este curso passou, nas últimas décadas, a ser filtrado por médias impossíveis, deixando milhares de vocações frustradas pelo caminho, só por acaso nos cruzamos com um clínico que também é médico por vocação e não só porque a carreira assegura prestígio social e dinheiro.
O funil por que passaram as novas gerações de médicos não nos trouxe nada de bom. Falta nos hospitais e centros de saúde gente que gosta de gente. Mas porque os tempos mudaram, apesar da ainda muita subserviência, as pessoas já se vão queixando.
Por outro lado, soube-se há dois dias que os nossos médicos também não andam satisfeitos com a vida. Há, portanto, mal-estar de parte a parte. Qualquer coisa de profundamente errada que não creio que se justifique só pela falta de condições de trabalho. Tal não explica a soberba que é apanágio da classe e a negligência que muitas vezes está a ela associada. Agora os seus pares imigrantes vêm pô-la em xeque. Lamento, mas ainda que no imediato se revele como mais um factor de stress para os nossos médicos, acho que só pode ser bom  ( Delito de Opinião)

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