Como 9 homens derrubaram o banqueiro que mandava em Portugal
Ricardo Salgado sai do BES no meio de várias investigações às contas do Grupo e depois de guerras sucessivas
Por Ana Taborda, Joana Carvalho Fernandes, Pedro Jorge Castro e Vítor Matos
A rotina de Ricardo Salgado não mudou muito. Continua a chegar ao banco por volta das 8h – depois de ler os jornais no percurso de carro entre Cascais e a Av. da Liberdade, em Lisboa –, a sair pelo menos 12 horas mais tarde e a dividir a sala com os restantes administradores do BES. Mas, desde que começou a preparar a sua saída da presidência, a agenda teve de sofrer alguns ajustes. Tem ido mais vezes a encontros no Banco de Portugal, passa horas fechado em reuniões (em salas discretas no último piso do BES) e cancelou alguns compromissos, sobretudo os que implicavam deslocações, como as comissões executivas itinerantes – reuniões com as direcções regionais, uma a cada duas semanas, em média. O banqueiro que liderou o BES durante 23 anos deixa a presidência no fim de Julho. Na segunda-feira, despediu-se dos colaboradores admitindo estar a viver "emoções fortes". A carta foi escrita em casa, no fim-de-semana, longe do open space que divide com a comissão executiva. Não sai porque quer, nem sozinho. E foram pelo menos nove os homens que contribuíram para a queda do Espírito Santo mais poderoso do País.
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Como 9 homens derrubaram o banqueiro que mandava em Portugal
José Maria Ricciardi
Presidente do Banco Espírito Santo Investimento
O encontro foi marcado para a tarde de domingo, 8 de Junho, em Cascais. Nesse dia, António Ricciardi recebeu em casa, junto à Boca do Inferno, dois dos maiores accionistas do Grupo Espírito Santo (GES) – Manuel Fernando Espírito Santo e Pedro Mosqueira do Amaral juntaram-se ao comandante e ao filho, José Maria Ricciardi. Havia apenas um tema na agenda: apoiar Ricciardi a posicionar-se para a presidência do BES, em substituição de Ricardo Salgado – que nesse fim-de-semana estava na Suíça. Segundo disse o próprio Ricciardi em comunicado, foi "celebrado e subscrito" um "acordo" entre a maioria dos ramos familiares (cinco, no total) – de fora ficaram o ainda presidente do banco, Ricardo Salgado, e José Manuel Espírito Santo. "Fui convidado a assumir a liderança do sector financeiro do Grupo Espírito Santo", acrescentou Ricciardi na mesma nota.
Na quinta-feira dia 19, uma nova reunião viria a pôr este acordo em suspenso. Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, convocou, um a um, todo o Conselho Superior do GES – habitualmente os contactos são feitos pelas secretárias. Na reunião, que durou cerca de hora e meia e decorreu na Rua do Comércio, sede do Banco de Portugal, o governador terá começado por agradecer os esforços feitos pelo BES no sentido de reforçar o capital do banco. Depois, veio o tema mais polémico: os membros da família deviam deixar a administração. Sem excepções. Ou seja, o nome de Ricciardi também não poderia chegar à presidência. Não era novidade – há vários meses que o Banco de Portugal defendia uma gestão independente para o BES – mas Ricciardi não terá gostado. "Perguntou porque é que não podia continuar na administração. E porque é que não podia ser CEO", diz fonte próxima – afinal, tinha sido autorizado a ficar na presidência do BESI. O ambiente era tenso e Carlos Costa terá feito saber ao presidente do banco de investimento dos Espírito Santo que não estava a gostar da forma como este o questionava. Pedro Duarte Neves, vice-governador do Banco de Portugal, também esteve no encontro.
Como 9 homens derrubaram o banqueiro que mandava em Portugal
Nesse mesmo dia, logo depois da reunião com o Banco de Portugal, o Conselho Superior fechou-se até perto das 22h no número 195 da Av. da Liberdade. Foi no último piso da sede do BES que, no dia 19 de Junho, se validou o nome de Amílcar Morais Pires para CEO. Ricciardi não esteve presente na reunião, mas não aprovou o nome. Até porque, duas semanas antes, acreditava noutro plano: "Preparou uma lista para a administração do BES. Ele seria o presidente e Joaquim Goes [que faz parte da administração de Ricardo Salgado e chegou a ser apontado como provável sucessor] manter-se-ia na administração", diz outra fonte.
Apesar da guerra, os primos continuam a falar-se e a tratar de assuntos do Grupo. O que não significa que o clima de hostilidade tenha terminado. Ricciardi anunciou que vai dedicar-se apenas ao BESI e que pretende duas coisas: fazer um aumento de capital e separar o banco de investimento do BES. Do lado do BES, não é certo que tenha a vida facilitada: o banco é o único accionista do BESI e terá uma palavra a dizer. O que não quer o BES? Que o novo accionista, escolhido por Ricciardi, e a administração do BESI, também liderada por ele, fiquem com a maioria do capital.
A tensão entre os primos começou em Outubro, mês em que Ricardo Salgado fez duas visitas a Angola e em que Ricciardi começou a tratar da sucessão. "O Ricardo Salgado dizia que cada vez se sentia melhor e mais novo e ele não gostava", diz outra fonte. Quando soube das movimentações de Ricciardi, o presidente do BES quis reforçar a sua legitimidade na liderança do banco e pediu uma moção de confiança – votada e aprovada a 7 de Novembro, em reunião de Conselho Superior, marcada para as 15h. Do lado de Ricciardi apenas o pai, António, se pronunciou – a favor. No dia seguinte, José Maria tornava público o seu desacordo – recusou dar o voto de confiança a Salgado. O BES emitiu outro comunicado, em que falava de falta de "lealdade institucional". Quatro dias depois, Salgado e Ricciardi fizeram uma declaração conjunta. Ricciardi "reúne todas as condições para ser um dos membros possíveis à sucessão", dizia o presidente do BES. E o primo dava-lhe, afinal, o "voto de confiança". A paz não durou muito.
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Carlos Costa
Governador do Banco de Portugal
Na sexta-feira, dia 20, 24 horas depois da reunião do Conselho Superior, o BES avançou com uma nova proposta para a administração do banco – Morais Pires lideraria a Comissão Executiva, substituindo Ricardo Salgado. As críticas não tardaram: o administrador financeiro do Grupo, homem de confiança de Salgado, dificilmente estaria por fora das polémicas com as contas. Além disso, seria uma forma de o ainda presidente do BES, que na última semana foi três vezes ao Banco de Portugal (BdP), manter o poder. Talvez por isso, dizem fontes próximas do BdP, Carlos Costa tenha optado por se distanciar da solução.
Quatro horas depois de o BES anunciar a lista que vai ser votada em assembleia-geral, o BdP emitiu um comunicado. Informava "aguardar a decisão da Assembleia-Geral dos accionistas do Banco Espírito Santo [marcada para 31 de Julho] para avaliar o cumprimento por cada um dos indigitados dos requisitos necessários para o exercício de tais funções". Ou seja, não se pronunciaria sobre Morais Pires pelo menos até ao fim do próximo mês. Do lado de Salgado, só há elogios. O banqueiro enaltece o "currículo" de Morais Pires e fontes próximas da administração defendem a sua idoneidade. "O Banco de Portugal disse a alguns elementos da administração que deviam mudar de vida e não se pronunciou sobre Morais Pires. Se é idóneo para continuar na administração do BES, é idóneo para ser CEO."
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O novo modelo de gestão do BES está a ser negociado com o BdP desde Abril, mês em que o supervisor fez saber que queria uma gestão independente.
Em Setembro, depois de ter sido detectado um erro de 1,3 mil milhões de euros nas contas da Espírito Santo Internacional, uma das três holdings que controla o GES, o BdP pediu detalhes sobre a dívida do Grupo e encomendou uma auditoria à consultora KPMG. Em Fevereiro, chegaram os primeiros resultados e menos de um mês depois, uma das holdings do Grupo fez uma reserva de 700 milhões de euros – o BdP temia que não conseguisse cumprir as responsabilidades com clientes.
A auditoria pedida às contas da Espírito Santo International (ESI) não foi simpática e levou mesmo Ricardo Salgado a admitir que houve "incompetência". Foram apuradas "irregularidades nas suas contas" e concluiu-se: "A sociedade apresenta uma situação financeira grave". A ESI está em falência técnica. E Pedro Queiroz Pereira, com quem Salgado também esteve em guerra, já tinha levantado questões sobre as contas.
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Pedro Queiroz Pereira
Presidente da Portucel e da Semapa
Chegaram a ser 16. Durante a guerra com o presidente do BES, Pedro Queiroz Pereira (PQP) montou uma equipa para analisar documentos e relatórios das empresas do Grupo Espírito Santo. As primeiras informações terão chegado ao BdP ainda no Verão, mas houve mais. De acordo com o jornal 'Público', em Outubro de 2013, o Mercedes cinzento metalizado de PQP foi visto à porta do BdP. O gestor saiu acompanhado por um colaborador com várias pastas e seguiram para uma reunião com o vice-governador Pedro Duarte Neves. Salgado veio, mais tarde, a prestar esclarecimentos.
Nesta altura, a guerra entre dois dos homens mais poderosos do País já era pública. Agudizou-se a 28 de Maio de 2013, na assembleia-geral da Sodim, que controla 13,8% da Semapa – o Grupo Espírito Santo e Maude Queiroz Pereira, irmã de PQP, votaram contra as contas da empresa. Dois dias depois, PQP deu ordens para que todas as suas acções depositadas no BES fossem transferidas para o BCP. O assunto motivou mais uma queixa junto do BdP: Queiroz Pereira acusou o BES de dificultar a transferência.
Nessa altura, ainda havia participações cruzadas entre os dois Grupos: Queiroz Pereira tinha 7% da Espírito Santo Control e o GES, além de accionista do Grupo, representava a Mediterranean, uma sociedade luxemburguesa que há mais de 10 anos Queiroz Pereira tentava saber por quem era detida e que o GES anunciou, em 2012, ter comprado. Foi um dos principais factores que levaram PQP a acusar Ricardo Salgado de querer dominar a Semapa, uma versão que fontes próximas do banqueiro sempre negaram.
PQP terá ainda feito pedidos de informação no Luxemburgo – há três holdings do Grupo com sede no país a serem investigadas. O BdP e a CMVM têm colaborado na prestação de informação, mas não têm recebido mais. O conflito entre os dois resolveu-se com um pacto de silêncio, a retirada de processos em tribunal e o fim das participações cruzadas. Mas dificilmente vão voltar os tempos em que Manuel Queiroz Pereira, pai de PQP, dizia que Ricardo Espírito Santo (avô de Ricardo Salgado) era o seu "amigo de todos os dias".
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Francisco Machado da Cruz
Contabilista da Espírito Santo Financial International
Ainda é a voz de Francisco Machado da Cruz que responde às chamadas feitas para o seu gabinete no imponente Espírito Santo Plaza, em Miami, nos Estados Unidos. A gravação no atendedor automático repete o nome do commissaire aux comptes – o contabilista – que Ricardo Salgado responsabilizou pelas irregularidades na Espírito Santo International (ESI): 1,3 mil milhões de euros de passivo da holding escondidos. Mais um episódio decisivo para a pressão do BdP para afastar a família da gestão.
Neste capítulo da história recente do Grupo Espírito Santo há três versões. Uma: Salgado disse, em entrevista ao Jornal de Negócios, que Machado da Cruz "perdeu o pé" no meio da crise. Duas: o Expresso noticiou que Machado da Cruz disse, em documentos entregues ao BdP, que Salgado sabia que, desde 2008, "uma parte do passivo não estava reflectido nas contas" – só não conhecia "o seu valor concreto". Três: o contabilista disse depois, no comité de auditoria da ESFG, que os administradores (Salgado incluído) "não estavam em posição de monitorizar a actividade da ESI, incluindo a informação financeira", e assumiu a "total e única responsabilidade" pelos erros. Demitiu-se, mas não cortou relações com o grupo Espírito Santo – Machado da Cruz esteve em Lisboa na semana passada. Não respondeu ao email enviado pela SÁBADO.
O nome do contabilista aparece, há décadas, ligado aos negócios da família – ele é um velho conhecido de Salgado. Em 1975, quando foi fundada a Espírito Santo International, ele era director da holding. Machado da Cruz desempenhou cargos de administração em empresas como a Aveiro Incorporated, a Mayfield Properties, a Estoril Incorporated e a Espírito Santo Management Corp – todas com sede em Miami. Foi presidente desta última empresa, agora inactiva, desde Janeiro de 2002. Foi vogal do conselho fiscal do BESA a partir de 2006. No relatório e contas de 2012, o último disponível, ocupa o cargo de vogal. Ainda é identificado como presidente no site do Espírito Santo Plaza, mas três ex-colegas disseram à SÁBADO que Machado da Cruz já não trabalha ali.
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Rosário Teixeira
Procurador do DCIAP
Da sede do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) à sede do BES são 350 metros. Ao longo da última década, Rosário Teixeira já desceu várias vezes a pé a Rua Alexandre Herculano, em Lisboa, para fazer buscas no banco liderado por Ricardo Salgado. Foi este magistrado do Ministério Público que colocou o banqueiro sob escuta, entre Setembro de 2011 e Janeiro de 2012, como revelou a SÁBADO após as primeiras buscas do caso Monte Branco. Então, o presidente do BES ainda era um dos homens mais influentes do País, mas não podia ter conversas telefónicas sem que fossem interceptadas pela equipa M da Inspecção Tributária de Braga, que estava a centralizar as investigações no terreno.
A suspeita que levou o magistrado a pedir ao juiz Carlos Alexandre que validasse o requerimento das escutas estava relacionada com os processos de privatização da EDP e da REN, em que detectou indícios de vários crimes, incluindo corrupção e abuso de informação privilegiada. Estava em causa a hipótese de os chineses da China Three Gorges terem retirado a proposta mais alta pela compra de parte da EDP, por alegadamente terem tido conhecimento dos preços propostos pela concorrência, levando à suposta perda de 117 milhões de euros por parte do Estado. Os chineses foram assessorados na operação pelo BESI, liderado por José Maria Ricciardi. Semanas depois, as escutas foram interrompidas por alegada falta de meios dos investigadores.
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Rosário Teixeira foi o magistrado do DCIAP responsável pela investigação da maioria dos escândalos judiciais que envolveram o BES. A começar pelo processo Portucale: no fim do governo liderado por Santana Lopes, em 2005, foi aprovado um empreendimento imobiliário promovido pelo Grupo Espírito Santo que previa o abate de sobreiros numa zona protegida.
Seguiu-se a operação Furacão, investigação que detectou um esquema de fraude fiscal em dezenas de empresas, e alegadamente promovido por entidades com relações privilegiadas com bancos, como o BES.
Desde essa altura, o banco tem um ex-inspector da Polícia Judiciária no seu departamento de compliance, para gerir o fornecimento das informações frequentemente solicitadas por Rosário Teixeira.
Embora seja discreto, o procurador é frequentemente apontado como o maior especialista português em investigação de criminalidade económico-financeira. "Trabalha 14 horas por dia. (...) Tenho pena de não o poder clonar", disse em 2012 Cândida Almeida, então directora do DCIAP.
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Nicolas Figueiredo
Ex-gestor de conta da Akoya
No processo Monte Branco, Rosário Teixeira investigou a Akoya, uma empresa de gestão de fortunas, dirigida por Michel Canals e de que era sócio Nicolas Figueiredo – este geria uma conta de Ricardo Salgado no banco suíço UBS, desde o ano 2000, e em 2007 transitou para a Akoya, mantendo o presidente do BES como cliente.
Nos interrogatórios a Nicolas Figueiredo, este confirmou que o banqueiro era o cliente 2.5 da sua lista. Ricardo Salgado acabou por regularizar cerca de 26 milhões de euros que tinha fora do País, aproveitando um regime excepcional e pagando o respectivo imposto.
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Também fez uma correcção à sua declaração de rendimentos de 2011, indicando ao fisco 8,5 milhões de euros adicionais, segundo o jornal 'i'. Recebera essa verba por alegadas consultorias ao construtor José Guilherme, que terá ajudado a fazer negócios em Angola. O valor poderá ter sido superior: Nicolas Figueiredo admitiu que Salgado teria recebido cerca de 14 milhões de euros de uma empresa de José Guilherme.
Depois destas regularizações, Ricardo Salgado pediu para ser ouvido por Rosário Teixeira, na operação Monte Branco. Em Janeiro de 2013, o procurador passou-lhe uma declaração onde atestava que não era suspeito no caso e que não havia indícios de crimes fiscais. Mas os escândalos continuaram.
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Álvaro Sobrinho
Ex-administrador do BESA
Já nem Ricardo Salgado tem forma de esconder o arrependimento por ter escolhido Álvaro Sobrinho para administrador do BES Angola. Várias transferências de dinheiro do gestor para Portugal suscitaram a desconfiança das autoridades – e do próprio banqueiro.
Primeiro foi constituído arguido por suspeita de branqueamento de capitais e associação criminosa numa investigação a uma fraude ao Banco Nacional de Angola, que terá ascendido a 110 milhões de euros. Depois, o Ministério Público recebeu uma denúncia da Comissão de Mercados Valores Mobiliários relacionada com a compra, por parte de Álvaro Sobrinho e da mulher, de seis apartamentos de luxo no Estoril Sol Residence, no valor de 9,5 milhões de euros. Além dos apartamentos, as autoridades arrestaram 9,1 milhões de euros que o gestor tinha em contas no BES e na Caixa Geral de Depósitos.
A venda de parte do BESA à Portmill, do general Kopelipa, terá desagradado a Álvaro Sobrinho, e contribuído para agravar mais as relações deste com Ricardo Salgado. O presidente do BES acusou publicamente Álvaro Sobrinho de o tentar atacar através de notícias no 'i' e no 'Sol', pertencente à Newshold (empresa que também é accionista da Cofina, detentora da SÁBADO).
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Em Janeiro do ano passado, depois de Álvaro Sobrinho ter sido afastado da presidência do BESA, a administração do BES decidiu contratar guarda-costas para proteger, em permanência, Ricardo Salgado, o seu braço-direito Amílcar Morais Pires e o presidente do BESA, Rui Guerra. Embora o grupo tenha uma empresa de segurança, a ESEGUR, contratou uma empresa israelita que contará com antigos agentes da Mossad.
Entretanto, há três semanas, o 'Expresso' noticiou que tinham desaparecido 5,7 mil milhões de dólares do BESA durante a gestão de Álvaro Sobrinho. A administração que lhe sucedeu suspeitava mesmo que 745 milhões tinham ido parar às suas mãos. Segundo o CEO do BESA, Rui Guerra, não há informação sobre quem são os beneficiários nem para que fins foi utilizado o dinheiro, que representa 80% do total de crédito concedido pelo banco, e que foi atribuído sem garantias.
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José Eduardo dos Santos
Presidente de Angola
Dia 30 de Abril: os jornais dizem que Angola tinha dado ao BESA uma garantia que abrangia créditos avaliados em 4.133 milhões de euros – 70,2% da carteira de financiamento do banco angolano controlado pelo BES. Esta rede de segurança era concedida pelo governo – lia-se no relatório e contas do Espírito Santo Financial Group – como parte do Plano de Desenvolvimento de Angola até 2017. Salgado não podia prever o que se seguiu. Dia 18 de Junho: Luanda era o último recurso para conseguir o empréstimo de 2,5 mil milhões de euros para a restruturação do GES. O presidente-executivo fez uma visita-relâmpago a Angola, noticiou o 'Expresso'. O banqueiro reuniu-se com altas figuras do regime angolano e com investidores –todos lhe disseram que não.
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Pedro Passos Coelho
Primeiro-ministro
O primeiro-ministro "não hesitou" em negar a pretensão de Ricardo Salgado em obter apoio político para um empréstimo da CGD e do BCP, no valor de €2,5 mil milhões, confirmou à SÁBADO fonte próxima de Passos Coelho. Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças. também recusou. Passos Coelho explicou a decisão no dia 24 de Junho:"O Grupo Espírito Santo terá com certeza, como outros grupos, os seus problemas para resolver, e o Estado não é chamado a resolver esses problemas". Na perspectiva de Passos, estas são questões que "respeitam a um grupo privado que tem os seus interesses legítimos e normais, mas que não cabem na alçada directa nem do Governo nem, neste caso, do supervisor [financeiro]".
Artigo publicado na revista SÁBADO n.º 530 de 26 de Junho de 2014