"O Prefácio do Presidente: a melhor defesa é o ataque
É, no fundo, um texto auto-justificativo em que o Presidente usa o ataque como forma de defesa. Ele sabe que a história identificará o seu mandato como aquele em que o País mergulhou na crise mais grave da sua história e por isso antecipa um relato parcial e superficial da história recente. Com este Prefácio o Presidente torna-se um spin-doctor que tenta orientar a seu favor a interpretação da história de que foi e é um protagonista de mérito menor.
Não é por acaso que o Presidente deu o seu Prefácio, em primeira mão, ao jornal SOL (o único que o traz na capa). Podia tê-lo dado ao Correio da Manhã, já que algumas das afirmações nele contidas não destoam dos títulos tablóides que desde há semanas catapultam para a primeira página o ex-primeiro ministro. Leia-se esta frase: "[o governo] recorria frequentemente a uma linguagem de inusitada contundência no tratamento dos seus adversários, a que estes respondiam em tom muito duro, adensando um clima de conflitualidade e de crispação de que os Portugueses se iam apercebendo com preocupação". (Quem, quando, onde," inusitada" como) que "portugueses"?) A falta de rigor e a imprecisão das acusações percorrem o texto que se adivinha aqui e ali ter sido escrito como rascunho, resultante de colagens, sem ter sido corrigido na versão final.
Mas o Prefácio aí está, e o que interessa é perceber porque razão o Presidente quis fazer agora o ajuste de contas com um político ausente, hoje sem qualquer cargo partidário ou outro, e num momento em que o governo se debate com problemas internos de funcionamento, em que os indicadores económicos revelam o falhanço da estratégia da troika zelosamente aplicada pelo governo. Para desviar as atenções? Não creio porque o presidente não gosta deste governo como não gostava do anterior e não gostaria do próximo. Para ele e para os seus, só ele soube e saberia governar.
É demasiado deprimente pensar que o Presidente escreveu sozinho aquele Prefácio. Prefiro pensar que em Belém se pensa demasiado em conspirações e se coleccionam recortes de jornais e se escrevem textos para o Presidente converter em prefácios. Foi assim que nasceram as "escutas a Belém" e foi possivelmente assim que nasceu este Prefácio.
O Presidente precisa de encontrar rapidamente maneira de criar um outro "facto" político para fazer esquecer mais este episódio grotesco"