Por: José Niza
O artigo que aqui publiquei na passada semana – segundo me transmitiu o director de O Ribatejo – foi objecto de protestos de dois ou três leitores.
Entenderam esses senhores que, ao criticar Cavaco Silva – mesmo que sustentado em factos irrefutáveis e indesmentíveis – eu estava a utilizar oportunisticamente esta minha tribuna de opinião semanal.
Dou a mão à palmatória. Concordo. Aceito. Têm razão os protestantes leitores. Sim, porque esta coisa da liberdade de crítica, ou da liberdade de imprensa, não pode transformar-se numa bagunça. Já nos bons velhos tempos era assim: qualquer cidadão podia escrever em total liberdade o que lhe desse na real gana. Excepto, naturalmente, o que a censura proibisse.
Aprendida a lição, penitencio-me. E faço "mea culpa" pelo crime de lesa-Cavaco. Mas, para que não restem dúvidas, aqui declaro solenemente que não voltarei – seja a que pretexto for – a usar a minha pena para criticar ou zurzir no nosso venerando Chefe de Estado.
Vou, por isso, mudar de tema e contar-vos uma enternecedora história.
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Era uma vez um casal de professores que tinham umas poupançazinhas, fruto de uma árdua vida de trabalho. Tinham também uma filhinha aforradora com outras poupançazinhas, aliás até maiores que as dos seus progenitores. O que não admira porque – como grita aquele sindicalista dos bigodes, o da FENPROF – os professores ganham salários de miséria. E vai daí, um afilhado do casal, de nome Costa, que trabalhava num banco, telefonou-lhes: "O padrinho e a madrinha, se quiserem pôr aqui o dinheirinho das vossas poupançazinhas, não se vão arrepender". E assim foi. O esposo – que embora fosse professor não sabia nada de finanças, nem consta que tivesse biblioteca – meteu as notas num saco de plástico do Pingo Doce e foi ao banco entregá-las ao afilhado Costa. E assim o esposo, a esposa e a filhinha ficaram com muitas e boas acções. Como os escuteiros. Até que um dia o professor da nossa história foi à televisão para ser entrevistado naquele programa à tarde que só tem acordeonistas e música pimba e contou à Afrodite de Sousa que entregava o dinheiro das poupanças aos bancos e que durante anos e anos, nem queria saber o que se passava e que só comprava livros de cheques e mais nada, moita carrasco. E não é que o afilhado Costa, ao vê-lo na televisão, se lembrou das acções?! "Ó padrinho, acho que é altura de vender. É cá por coisas…" E assim, e por isso, o dito esposo e padrinho foi aconselhar-se com a sua dilecta esposa, a dona Maria. E ela, sem papas na língua, amandou-lhe com esta: "Eu cá por mim vendia, que 140 % de lucro não é coisa que um afilhado apresente a um padrinho". (Padrinho esse que – antes que haja confusões – não tem nada que ver com aquele do filme do Marlon Brando).
E assim foi.
Só que um vizinho topou a marosca e começou a badalar no café do bairro que aquela negociata tinha água no bico, e mais não sei quê, e coisa e tal, até que o boato chegou aos ouvidos do professor que ficou à rasca sem saber como descalçar a bota. E então a esposa Maria, que era mais finória, incitou-o: "Ó marido, olha que a melhor defesa é o ataque!" E, num ímpeto, o professor, tenso e indignado, foi à janela e começou a gritar para a vizinhança: "Olhem que, para serem mais honestos do que eu, têm de nascer duas vezes! Ouviram? Duas vezes!"
E foi então que de imediato, começou um alucinante pandemónio, com toda a gente a afluir às maternidades para nascer outra vez. E, por mais obstetras que houvesse, não davam vazão àquela avalanche: só o afilhado, o Costa, teve de nascer sete vezes….
Mas, no final, tudo se resolveu em bem.
Com o método PSD (Parto Sem Dor).
PS:-
Qualquer semelhança com a vida real é pura coincidência.