Jose Niza escreve:
Por: José Niza
1. Se bem me lembro, foi há 29 anos – mais precisamente em 4 de Setembro de 1981 – que o ex-ministro das Finanças da Aliança Democrática de Sá Carneiro e Freitas do Amaral, João Salgueiro, deu uma entrevista em que afirmava: “Portugal vive actualmente do crédito para pagar despesas correntes, para pagar importações de carne, trigo ou gasolina. Neste momento o problema é que um dos maiores pesos da dívida pública já é substitído pelos juros e pelas amortizações das dívidas anteriores. Já estamos a endividar-nos para pagar a dívida antiga.”
E o que fez então João Salgueiro? Tomou medidas drásticas e impopulares para combater a crise? Baixou salários? Aumentou os impostos?
Não. Limitou-se a entregar o País ao FMI e a obrigar Mário Soares e Ernâni Lopes a apertarem o cinto aos Portugueses e a tapar os buracos que a AD abriu.
Passadas quase três décadas, o mesmo João Salgueiro teve o descaramento de vir à televisão acusar Sócrates e Teixeira dos Santos por terem criado, agora, a dramática situação que ele descreveu há 29 anos!!!
Mas há mais.
2. Se bem me lembro – e espero que os mais velhos não estejam esquecidos _ desde o 25 de Abril de 1974 foi sempre o PS e os seus governos que apagaram os incêndios ateados pela incompetência dos outros.
Foi assim em 1977 com os desvarios e a ressaca do PREC.
Foi assim em 1983 com a intervenção do FMI causada pela ruinosa governação da AD e do seu super-ministro João Salgueiro.
Foi assim em 2005 quando Sócrates e Teixeira do Santos tiveram de impôr sacrifícios para reduzir o défice de cerca de 7% para menos de 3%. E quem criou este descalabro das finanças públicas? Pois – se bem me lembro – Durão Barroso, Santana Lopes, Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix.
Se há um partido em Portugal que em matéria de finanças não tem a mínima legitimidade para criticar o PS, esse partido é o PSD. Ou já chegámos ao desplante de serem os pirómanos a condenar os bombeiros?
3. Se bem me lembro – e espero que não seja só eu – Passos Coelho, antes de ser presidente do PSD, prometeu que com ele no governo por cada cinco funcionários públicos que deixassem o Estado só entraria um. Se esta irresponsável loucura neo-liberal viesse a ser cometida, em poucos anos desapareceriam da função pública 600 mil trabalhadores, tantos como os desempregados que hoje temos. E o desemprego, em vez dos actuais 10%, subiria aos 20%.
Hospitais, escolas, tribunais, forças de segurança, até os serviços de recolha do lixo, ficariam paralisados e incapazes de dar resposta ao que quer que fosse.
Parece uma ficção apocalíptica minha mas não é: desgraçadamente é real e está dentro da cabeça de Pedro Passos Coelho.
Como é possível eliminar 80% dos médicos de um hospital?
Como se podem erradicar 80% dos professores de uma escola?
Com esta política, para estoirar com o Serviço Nacional de Saúde, ou extinguir o Ensino Público, nem sequer é necessário alterar a Constituição: se se podem “exterminar” pessoas e postos de trabalho, para quê alterar as leis?
4. Se bem me lembro, em 4 de Junho passado neste jornal, deixei escrito: “As medidas que o Governo decidiu tomar para combater a crise e reconduzir as finanças públicas e a economia portuguesa a uma situação de convalescença e tranquilidade são tímidas e insuficientes”. Infelizmente tinha razão. Mas também acrescentei: “É preciso ir mais longe e mais fundo. É preciso ter a coragem de enfrentar os senhores do dinheiro. É preciso ir buscá-lo onde ele está a mais. É preciso que não sejam sempre e só os mesmos a pagar as crises”.
Com a experiência empresarial que tem, e com os conselheiros neo-liberais de que dispõe, Pedro Passos Coelho sabe melhor do que ninguém onde é que está dinheiro a mais.
E é exactamente por isso que ele nunca lá irá buscá-lo.
5. Bem sei que não se resolvem os problemas do presente ajustando contas com o passado. Mas é sempre bom não perder a memória das coisas importantes.
O que faz falta é enfrentar a crise com coragem, trabalho, sacrifício, esperança, solidariedade e, sobretudo, com sentido de responsabilidade. Por tudo isto me parece que as dificuldades que temos não se resolvem, nem com instabilidade política, nem com greves gerais. (ORibatejo)
1. Se bem me lembro, foi há 29 anos – mais precisamente em 4 de Setembro de 1981 – que o ex-ministro das Finanças da Aliança Democrática de Sá Carneiro e Freitas do Amaral, João Salgueiro, deu uma entrevista em que afirmava: “Portugal vive actualmente do crédito para pagar despesas correntes, para pagar importações de carne, trigo ou gasolina. Neste momento o problema é que um dos maiores pesos da dívida pública já é substitído pelos juros e pelas amortizações das dívidas anteriores. Já estamos a endividar-nos para pagar a dívida antiga.”
E o que fez então João Salgueiro? Tomou medidas drásticas e impopulares para combater a crise? Baixou salários? Aumentou os impostos?
Não. Limitou-se a entregar o País ao FMI e a obrigar Mário Soares e Ernâni Lopes a apertarem o cinto aos Portugueses e a tapar os buracos que a AD abriu.
Passadas quase três décadas, o mesmo João Salgueiro teve o descaramento de vir à televisão acusar Sócrates e Teixeira dos Santos por terem criado, agora, a dramática situação que ele descreveu há 29 anos!!!
Mas há mais.
2. Se bem me lembro – e espero que os mais velhos não estejam esquecidos _ desde o 25 de Abril de 1974 foi sempre o PS e os seus governos que apagaram os incêndios ateados pela incompetência dos outros.
Foi assim em 1977 com os desvarios e a ressaca do PREC.
Foi assim em 1983 com a intervenção do FMI causada pela ruinosa governação da AD e do seu super-ministro João Salgueiro.
Foi assim em 2005 quando Sócrates e Teixeira do Santos tiveram de impôr sacrifícios para reduzir o défice de cerca de 7% para menos de 3%. E quem criou este descalabro das finanças públicas? Pois – se bem me lembro – Durão Barroso, Santana Lopes, Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix.
Se há um partido em Portugal que em matéria de finanças não tem a mínima legitimidade para criticar o PS, esse partido é o PSD. Ou já chegámos ao desplante de serem os pirómanos a condenar os bombeiros?
3. Se bem me lembro – e espero que não seja só eu – Passos Coelho, antes de ser presidente do PSD, prometeu que com ele no governo por cada cinco funcionários públicos que deixassem o Estado só entraria um. Se esta irresponsável loucura neo-liberal viesse a ser cometida, em poucos anos desapareceriam da função pública 600 mil trabalhadores, tantos como os desempregados que hoje temos. E o desemprego, em vez dos actuais 10%, subiria aos 20%.
Hospitais, escolas, tribunais, forças de segurança, até os serviços de recolha do lixo, ficariam paralisados e incapazes de dar resposta ao que quer que fosse.
Parece uma ficção apocalíptica minha mas não é: desgraçadamente é real e está dentro da cabeça de Pedro Passos Coelho.
Como é possível eliminar 80% dos médicos de um hospital?
Como se podem erradicar 80% dos professores de uma escola?
Com esta política, para estoirar com o Serviço Nacional de Saúde, ou extinguir o Ensino Público, nem sequer é necessário alterar a Constituição: se se podem “exterminar” pessoas e postos de trabalho, para quê alterar as leis?
4. Se bem me lembro, em 4 de Junho passado neste jornal, deixei escrito: “As medidas que o Governo decidiu tomar para combater a crise e reconduzir as finanças públicas e a economia portuguesa a uma situação de convalescença e tranquilidade são tímidas e insuficientes”. Infelizmente tinha razão. Mas também acrescentei: “É preciso ir mais longe e mais fundo. É preciso ter a coragem de enfrentar os senhores do dinheiro. É preciso ir buscá-lo onde ele está a mais. É preciso que não sejam sempre e só os mesmos a pagar as crises”.
Com a experiência empresarial que tem, e com os conselheiros neo-liberais de que dispõe, Pedro Passos Coelho sabe melhor do que ninguém onde é que está dinheiro a mais.
E é exactamente por isso que ele nunca lá irá buscá-lo.
5. Bem sei que não se resolvem os problemas do presente ajustando contas com o passado. Mas é sempre bom não perder a memória das coisas importantes.
O que faz falta é enfrentar a crise com coragem, trabalho, sacrifício, esperança, solidariedade e, sobretudo, com sentido de responsabilidade. Por tudo isto me parece que as dificuldades que temos não se resolvem, nem com instabilidade política, nem com greves gerais. (ORibatejo)