1.Salazar inventou aquela frase – arrogantemente estúpida – do "orgulhosamente sós".
Cavaco Silva, Passos Coelho, Catroga, Ferreira Leite, Nogueira Leite e companhia ilimitada – obcecados com Sócrates – recusaram-se a ver o que estava a passar-se na Europa e no Mundo: afastada a tempestade Sócrates, viria a bonança salvadora do PSD.
Quando, em Abril passado, a agência de rating Fitch baixou – de uma só vez – cinco níveis à credibilidade financeira de Portugal, Cavaco Silva quase agradeceu aos céus a providencial dádiva: o trambolhão do rating português era a prova provada da incompetência de Sócrates e de Teixeira dos Santos. E, para que não ficassem dúvidas, o Presidente até aconselhou os críticos-acusadores das agências – como Mário Soares ou Manuel Alegre – a terem tento na língua, não fossem elas zangar-se ainda mais.
Cavaco, Passos Coelho e companhia, sabiam – é claro que sabiam! – que havia crises na Grécia, na Irlanda, na Islândia, em Espanha, na Itália, na Bélgica e, até, nos Estados Unidos. Mas isso era "lá fora". Porque, "cá dentro", havia um demónio à solta e era preciso abatê-lo. E conseguiram. E até o PCP e o BE ajudaram à festa.
Há dias a agência Moody's fez o mesmo que a Fitch já fizera em Abril: baixou quatro níveis a Portugal. (Aliás a Fitch até baixara cinco).
E, na linha da frente da revolta nacional, o Presidente que em Abril achava que as agências se limitavam a fazer o seu honesto trabalho, passou a chamar-lhes nomes feios. E o mesmo aconteceu com a generalidade dos nossos sábios comentadores avençados de vão de escada que, de um dia para o outro, são capazes de defender uma coisa e o seu contrário.
E, assim, as adoradas agências passaram de "bestiais" a "bestas". Como no futebol.
Sócrates foi em tempos acusado de ter prometido não subir os impostos e acabar por aumentar o IVA e o IRS. E, portanto, "era mentiroso". E Passos Coelho – antes das eleições – avisou a populaça de que lhe ia sacar metade do subsídio de Natal? Não! Provavelmente, se o tivesse feito, ainda hoje continuaria em lista de espera. Mas, como mentiu, ganhou as eleições.
2. O que está a passar-se na Europa e no Mundo não augura nada de bom. Ao contrário do que Cavaco e Passos Coelho afirmavam há pouco mais de um mês, Portugal – para além da gravidade da crise que já tem, e que ainda vai agravar-se mais – está totalmente dependente do que está a acontecer na Europa a cada dia que passa.
Como é possível que um país – ainda por cima em recessão – possa pagar juros de empréstimos de curto prazo a 18 e 20 %? Não é possível. Não será possível. Mas a ganância do grande capital não tem limites. E está imparável.
É preciso pôr-lhe cobro.
É imperativo que a Política volte a mandar na Economia.
É decisivo que não sejam os bancos nem as agências de rating a mandar nos governos.
As mesmas agências que, em 2008, permitiram o descalabro mundial dos mercados financeiros e da economia dos países – a começar pelos Estados Unidos e que, no mínimo deviam ter sido fechadas para obras – continuam diária e impunemente a decidir da vida dos países na lógica do lucro máximo e do pudor mínimo.
E, por isso, não sou capaz de entender como em Portugal, e praticamente em toda a Europa, estejam hegemonicamente no poder governos e partidos que, na ideologia e na prática quotidiana, professam e estimulam a ditadura dos mercados financeiros.
A ilusão de que, com um novo governo, com uma maioria, e com um Presidente a ajudar, tudo seria diferente, e tudo seria melhor, está a desfazer-se a cada dia que passa. Infelizmente.
E a dramática pergunta que começa a ter sentido e pertinência fazer é se o brutal sacrifício exigido aos portugueses nos próximos anos vai servir para alguma coisa.
PS: – Se não viesse no Expresso não acreditava: o presidente da Câmara de Loures (PS) – 4º município do país – fez da autarquia uma espécie de empresa familiar. O dito senhor meteu na Câmara a sua própria mulher, uma filha, dois cunhados e uma nora. Parece que é tudo legal. Excepto uma coisa: vergonha na cara!